O último ano em que a diocese de Leiria-Fátima celebrou a solenidade do Corpo de Deus cumprindo a tradição e o programa que estabelece em cada ano foi o quase longínquo ano de 2019. Desde então esta festa religiosa tem sofrido vicissitudes que começaram com a pandemia de covid-19. No ano passado, quando toda a gente esperava, finalmente, poder participar ou assistir à tradicional procissão do Corpo de Deus pelas ruas da cidade de Leiria, a chuva que se abateu sobre a cidade obrigou a mudanças em cima da hora. E este ano, mais uma vez, as condições meteorológicas obrigaram a precaver a organização e a reduzir o programa ao essencial: a celebração da Eucaristia na Sé e a adoração e bênção do Santíssimo Sacramento.
Do programa previsto para o dia 8 de junho, e também como tem sido habitual nos últimos anos, o Serviço Diocesano de Catequese preparou a “Festa da Eucaristia”. Trata-se de uma atividade para as crianças do terceiro ano da catequese que, por fazerem a sua Primeira Comunhão, têm a possibilidade, desta forma, de participarem que enquadra este momento marcante da vida cristã. Também elas não puderam ter o dia que estava previsto, já que não estavam reunidas as condições para que se pudessem desenvolver as várias atividades previstas em diversos espaços da cidade. Assim, à semelhança do ano passado, o ‘centro de operações’ voltou a ser nos claustros da Sé.
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Houve quem avançasse com esta justificação para o facto de ter havido uma participação menor, relativamente aos anos anterior. Mesmo assim, foram mais de uma centenas as crianças que encheram o espaço que fica nas traseiras da catedral, provenientes de duas dezenas de paróquias.
Um dia que é uma Festa
Para auscultar as emoções do dia, estivemos à conversa com quem melhor nos podia fazê-lo: as crianças. Era hora do almoço e algumas delas já se lamentavam da “barriga estar a dar horas”. Mas nem por isso passava despercebido os sorrisos de orelha a orelha que fomos encontrar em cada uma delas. Apesar das ameaças do maus tempo e de todos os constrangimentos, não havia maneira de encontrar ninguém que não estivesse feliz por estar ali.
A Teresa é catequista há dois anos nos Parceiros e confirmou a boa disposição dos mais pequenos: “eles hoje vêm muito felizes, muito alegres e percebo nas suas caras a alegria de poderem estar aqui neste dia”. Daí que ela própria confessasse estar muito contente, também por ser a primeira vez que vem a esta atividade.
Já durante a tarde, fomos encontrar um dos pais que vieram ajudar e dar apoio ao grupo da sua paróquia. O Gil veio acompanhar o grupo de 13 crianças dos Pousos e revela que o dia “tem sido uma surpresa agradável”, sobretudo porque vê as crianças a participarem sem necessidade de motivação extra. “Fazem-nos por gosto e com vontade própria”, afirma. Também a acompanhar este grupo veio a Carminda, que partilhou alguns dos seus 30 anos de experiência como catequista. Para ela, este está a ser o melhor ano de catequese que já experienciou: “este ano tem sido fantástico; os pais colaboram muito e são muito responsáveis para os filhos não faltarem à catequese e eles próprios participam nas atividades da catequese”.
Terminada a atividade com os mais novos, eram horas de continuar com o programa, desta vez aberto a toda a comunidade diocesana. Para a celebração da Eucaristia, as crianças e os catequistas que tinham estado durante a manhã tinham lugar guardado junto ao altar. Pela proximidade, o bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, começou por lhes dirigir as primeiras palavras da sua homilia. “É uma alegria estar aqui com tantos meninos e meninas que vieram hoje à nossa igreja-mãe”, disse, acrescentando que “aqui, somos o Povo de Deus, vivemos juntos a mesma fé, temos o mesmo Deus como papai dos céus, temos a Igreja como nossa mãe, temos Jesus que é o nosso mestre e Senhor, temos o Espírito Santo que vive no nosso coração; e isso é aquilo que celebramos hoje, quando celebramos a Eucaristia”.
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Eucaristia: guião para os dias de hoje
Na sua homilia, D. José Ornelas assumiu como ponto de partida as leituras acabadas de proferir na Liturgia da Palavra por ajudarem “a dar sentido a este tempo à luz da Eucaristia que hoje celebramos”.
À semelhança do povo de Israel, “encontramo-nos, de algum modo, num período de transição, no deserto de cultura, de costumes, de desafios e responsabilidades, que vão mudar o futuro da humanidade e da Igreja”, explica o prelado. E acrescenta que “o caminho para um mundo melhor é cheio de desafios, de injustiça, de guerra, de pobreza e miséria, de questões novas, para as quais não temos respostas claras”.
O bispo de Leiria-Fátima contextualiza a ideia no dia em que se celebra o Corpo de Deus, e diz que “Jesus, o novo Moisés, mostra-se, na Eucaristia, como esse sinal de um Deus que não nos abandona, que nos reúne, nos transforma e nos envia, como portadores e testemunhas do seu amor transformador do mundo”. Para ele o Sacramento é “a expressão do sonho de Deus de fazer chegar a toda a humanidade o pão da dignidade, da solidariedade e da vida e o vinho da generosidade, da alegria, do amor”. Daí que não se pode participar na Eucaristia e ter atitudes que vão contra os valores cristãos.
Para além de vários aspetos teológicos considerados por D. José, este fez questão de fazer uma referência ao processo sinodal que a Igreja vive no presente, explicando que é “a expressão da nossa realidade de batizados, alimentada continuamente pela participação na Eucaristia” e através da qual Jesus envia cada cristão “para partilhar com a multidão dos homens e mulheres desta terra, que também têm fome do pão da sobrevivência, da dignidade, da justiça, da esperança, da paz”.