Foram oficialmente apresentados, na vigília e celebrações do dia da Festa dos Beatos Francisco e Jacinta Marto, a 19 e 20 de fevereiro, dois ícones destes dois videntes encomendados pelo Santuário de Fátima.
“A ideia de encomendar estes ícones nasceu da perceção de que não tínhamos qualquer imagem dos Beatos adequada à veneração dos fiéis”, refere o padre Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário, em declarações ao PRESENTE. O pedido foi apresentado há mais de um ano ao padre jesuíta esloveno Marco Ivan Rupnik, o mesmo autor do painel da Basílica da Santíssima Trindade, com vasta obra de arte sacra em muitas partes do mundo.
Depois de “muitos momentos de diálogo e troca de impressões”, eis o resultado: duas pinturas sobre madeira, cada uma com 90 por 80 centímetros, inspiradas na tradição oriental do ícone, mas com traços modernos.
Segundo o padre Carlos Cabecinhas, o seu destino é a Basílica de Nossa Senhora do Rosário de Fátima, junto aos túmulos dos Pastorinhos, mas não será para já, uma vez que o espaço irá receber obras de requalificação.
“Os ícones procuram expressar o mais importante do carisma de cada um dos pequenos videntes”
Para melhor conhecermos estas novas obras de arte do Santuário, pedimos o comentário do reitor da instituição.
Por que decidiu o Santuário encomendar estas imagens?
As imagens dos Beatos e dos Santos para a veneração dos fiéis têm de responder a algumas exigências. Não é uma qualquer representação de uma pessoa que a Igreja declarou Beato ou Santo que se presta à veneração, por muita qualidade artística que apresente. Dos dois Pastorinhos de Fátima temos fotografias, pinturas e esculturas de inegável qualidade, mas que não correspondiam às exigências de imagens para a veneração dos fiéis. Estas devem permitir o reconhecimento da pessoa em questão, mas têm de ser trabalhadas para nos transmitirem também a sua situação de bem-aventurados, que se encontram na glória de Deus, e algum dos seus traços mais característicos, que levaram ao reconhecimento pela Igreja como Beatos ou Santos canonizados. Foi isso que o Santuário pretendeu com estas duas obras.
Que critérios pautaram a escolha deste tipo de ícone e do artista?
Já conhecíamos o trabalho do padre Marco Rupnik, por ser o autor do grandioso painel no presbitério da Basílica da Santíssima Trindade e de outras obras a este nível. Trabalha com um grupo de artistas ligados ao Centro Alletti, que dirige, e que pertence ao Pontifício Instituto Oriental de Roma. Por isso, estava recetivo a trabalhar nos âmbitos pretendidos e conhece bem a problemática da arte para a liturgia, que lhe tem merecido reflexão ao longo dos anos.
Rupnik trabalha sobretudo com mosaico, mas tem algumas obras de pintura sobre madeira, como é o caso dos dois ícones dos Pastorinhos.
Que mensagem em concreto está representada nos ícones de Francisco e Jacinta?
Os ícones procuram expressar o mais importante do carisma de cada um dos pequenos videntes. Assim, a Jacinta aparece representada com o Cordeiro Pascal ao colo. O Cordeiro Pascal – Jesus Cristo – é representado com os sinais da imolação, mas vivo, de olhos abertos, ressuscitado. A Irmã Lúcia conta, nas suas Memórias, que a Jacinta gostava de pegar num cordeiro ao colo e colocar-se no meio do rebanho, imitando uma pagela que representava Jesus, o Bom Pastor. Esta representação da Beata Jacinta remete para o seu carisma específico de rezar e sacrificar-se pelos pecadores, à imagem de Jesus. O Francisco, por sua vez, é representado acariciando o rosto de Cristo glorioso, o que nos remete para a sua vocação contemplativa e para a sua constante preocupação de consolar Nosso Senhor. Além disso, na sua mão direita está o terço, um dos outros traços mais característicos da espiritualidade do Francisco. Os ícones, que os representam com auréola, sinal da sua condição de bem-aventurados, pretendem introduzir-nos na espiritualidade dos dois beatos, como desafio a imitá-los.
Está satisfeito com o resultado?
Estou muito satisfeito com o resultado final, uma vez que correspondem ao que se pretendia: duas imagens do Francisco e da Jacinta que nos permitissem identificá-los de imediato, mas, por outro lado e ao contrário das fotografias que deles possuímos, nos permitissem igualmente intuir os traços característicos da espiritualidade e carisma de cada um.