O bispo da diocese de Leiria-Fátima, cardeal D. António Marto acaba de publicar uma nota pastoral para a “celebração da Páscoa na família e nas paróquias em tempo de pandemia”.
Num documento de quatro páginas, mais extenso que o normal, começa por contextualizar a sua mensagem na atual crise provocada pela pandemia de covid-19 que, mais do que “uma nuvem escura e ameaçadora”, deve ser uma oportunidade para “redescobrirmos o que é essencial à nossa vida e convivência”. Nessa linha, sugere que o tempo de isolamento social seja investido no aprofundamento da identidade da família como Igreja doméstica.
“Nas atuais circunstâncias, em que não é possível celebrar o mistério da Páscoa nas igrejas com assembleias de fiéis, somos convidados a celebrá-lo em casa, nas comunidades familiares,” continua o prelado para, de seguida, apresentar o episódio dos discípulos de Emaús como fonte de inspiração para ser vivida nesta Páscoa. O texto evangélico é, ainda, ilustrado com palavras do Papa Francisco que peque que “Não apaguemos a mecha que ainda fumega, que nunca adoece, e deixemos que reacenda a esperança”.
Como viver a Páscoa em família
Depois da introdução, D. António Marto discorre as suas ideias em três capítulos, sendo o primeiro dedicado à apresentação do programa das celebrações com propostas para serem vividas nas famílias por forma a “reviver esta experiência de encontro com o Senhor nas nossas casas”. Convida a envolver todos os elementos do agregado familiar, desde os mais novos aos mais velhos e, para isso, sugere o recurso aos materiais que são apresentados na página da Diocese dedicada ao assunto, em https://covid.leiria-fatima.pt. E pede para, nas orações, não serem esquecidos “quantos estão em sofrimento por serem vítimas da pandemia ou preocupados no esgotante trabalho para a combater e cuidar dos doentes”.
Cada comunidade familiar deve procurar de forma criativa as formas mais adequadas à sua situação para celebrar a Páscoa. O Bispo sugere algumas, tais como participar nas celebrações transmitidas pela televisão, rádio ou redes sociais, escolhendo aquela que melhor sirva, seja nacional, diocesana ou paroquial. “Parem todos e acompanhem fervorosamente com respostas, gestos e cânticos como se faz na igreja”, acrescenta.
A esse propósito informa que “as celebrações na sé, presididas pelo bispo e sem a assembleia de fiéis, serão transmitidas pelo canal youtube da Diocese: na quinta-feira santa, às 18h00, missa da Ceia do Senhor; na sexta-feira santa, às 15h00, celebração da Paixão do Senhor; no sábado santo, às 22h00, a vigília pascal. No domingo de Páscoa, às 10h30, a missa será transmitida a partir da casa episcopal”.
Outra alternativa é preparar e fazer juntos a própria celebração doméstica, utilizando as propostas do departamento diocesano de Pastoral Litúrgica.
A par destas actividades, D. António Marto dá relevo à realização de um ato de reconciliação em família, apresentando um esquema muito breve, e à necessidade de se fazer a catequese sobre o sentido da Páscoa às crianças e adolescentes.
Esta parte da nota pastoral termina com a valorização de alguns gestos a serem executados ao longo da semana: “no domingo de ramos, preparar um ramo e enfeitar o crucifixo com verduras; na quinta-feira santa, fazer o jantar com a mesa bem enfeitada e a evocação da última ceia de Jesus com orações e leituras; na sexta-feira santa, fazer a via-sacra dos adolescentes ou outra, propostas pelo Serviço Diocesano de Catequese e um gesto de veneração da cruz (inclinação ou genuflexão); no sábado santo, a vigília pascal pode ser marcada pela leitura do relato da ressurreição, a renovação da profissão de fé batismal e o acendimento de uma lâmpada ou vela, dentro ou fora de casa; no domingo de Páscoa: enfeitar com flores a cruz existente na casa ou fazer uma e pô-la no jardim com uma faixa de tecido branco, acender uma vela, invocar a bênção do Senhor sobre a mesa pascal da família e fazer a saudação de paz do Senhor ressuscitado”.
Como viver a Páscoa nas paróquias
Também as comunidades paroquiais têm propostas muito concretas para a vivência da Páscoa. Desde logo, as celebrações e os respetivos horários devem sejam anunciadas aos fiéis para que sintonizem e participem em casa, se forem transmitidas, ou eventualmente façam a celebração familiar à mesma hora.
A acompanhar essas celebrações, deve recorrer-se ao som dos sinos, que terá dois tipos de toque: o repique festivo, para o domingo de páscoa, às 12h00, em todas as igrejas, e no sábado santo, às 21h30, pouco antes do início da vigília pascal presidida pelo bispo, na sé; e o toque a finados na sexta-feira santa, às 15h00, a lembrar a paixão e morte do Senhor.
Também deve ser feita a valorização do sinal da cruz, a ser colocada no adro da igreja ou noutro lugar público apropriado, enfeitada com ramos verdes, do domingo de ramos à sexta-feira santa.
Quanto à tradicional bênção pascal, “onde for oportuno, revestido de alva e estola branca, o sacerdote poderá sair da igreja e abençoar, da rua, as casas com a água benta da vigília. O ato pode repetir-se em outros dias e lugares, sempre sem prejuízo das recomendações das autoridades de saúde para este tempo de pandemia”.
Tempo de alegria para testemunhar o amor com atitudes
A terceira parte da nota pastoral chama a atenção para que a celebração pascal não se manifeste apenas nos ritos e nos gestos. Ela “exprime-se igualmente no amor ao próximo e na irradiação da alegria que o encontro com o Senhor ressuscitado faz brotar nos nossos corações. É por isso importante prestar atenção àqueles que estão perto de nós, sós, tristes, em luto e necessitados de ajuda”. O cardeal pede para ir ao encontro dessas pessoas “por telefone ou outro meio. Se for preciso, ir levar-lhes os bens de que carecem. A caridade em favor dos pobres e de quem sofre tem que permanecer sempre, ainda que no respeito pelas regras de higiene e saúde pública”.
Acrescente-se ainda que “o presidente da CNIS (Confederação Nacional das IPSS) sugeriu que nas paróquias se identifiquem espaços que possam ser usados no acolhimento temporário de idosos, segundo as orientações da Segurança Social. E também que, em ligação com as instituições sociais, se elabore uma lista de voluntários para ajudarem nas que fiquem desfalcadas por motivos de quarentena ou de contaminação de colaboradores”.
“A saudação e conversa com os vizinhos e o uso dos meios de comunicação permitem-nos levar a outros a alegria pascal, que alivia e enche de confiança nos tempos difíceis que vivemos”, termina o D. António Marto, na esperança de que “possamos reencontrar-nos, celebrar juntos e cantar a nossa alegria porque o Senhor nos salvou e está vivo no meio de nós”.