Realizou-se nas Cortes, nos dias 3, 4 e 5 de maio, a festa em honra da Padroeira, Nossa Senhora da Gaiola. Trata-se de uma festa secular, realizada sempre no 1.º domingo deste mês, de que há notícia desde pelo menos 1542, mas de tradição imemorial.
A Carta Régia de D. João III, justamente de 31 de maio de 1542, concede licença aos moradores para realizarem e pedirem para o Bodo, estabelece os critérios de distribuição das esmolas e fala deste costume como sendo de “antigamente”.
Sobre a lenda que envolve a designação da Padroeira das Cortes, escreveu Frei Agostinho de Santa Maria (“Santuário Mariano”, Lisboa, 1711): «Pastoreavam uns rústicos aldeões por aquele sítio o seu gado, e chegando-se mais aos matos que ali havia, descobriram no tronco de uma árvore, que alguns querem fosse oliveira ou zambujeiro, uma imagem da Mãe de Deus. Não consta se ela lhes falou ou se viram algum prodígio. Refere-se por tradição que, alegres com o achado, lhe fizeram uma cabana tecida de ramos junto à mesma árvore e nela a começaram a venerar (este domicílio que deram à Senhora parecia mais gaiola que casa, por ser composto de ramos de salgueiro e de outras árvores). Com o título de Gaiola a começaram a invocar, e com o mesmo é ainda hoje venerada.»
Cortes e seu termo faziam inicialmente parte da freguesia de S. Martinho, que tinha sede na então vila de Leiria e cuja igreja foi demolida em meados do século XVI. Fez depois parte da freguesia de S. Pedro, durante pouco tempo, e finalmente, em 1550, no reinado de D. João III, o bispo D. Brás de Barros «erigiu a ermida de N. Senhora da Gaiola, do lugar das Cortes, como em freguesia, para os moradores do mesmo lugar e vizinhos, enquanto se não fizesse a sé, para onde os havia de mudar». Foi D. Pedro de Castilho que levantou, em definitivo, a ermida das Cortes em freguesia no ano de 1592. Em 1607, já no período filipino, inaugurou-se a nova igreja paroquial, tendo o bispo D. Martim Afonso Mexia mandado demolir a velha ermida, “sobre o que teve demanda com o cabido, mas derribou-se”. A paroquial é um majestoso templo de recorte barroco com um imponente retábulo em talha dourada a decorar o altar-mor. Este ardeu quase completamente em 1996 e foi restaurado nos anos seguintes.
A festa de Nossa Senhora da Gaiola é habitualmente organizada por um número avultado de mordomos, que tem como motivos principais as cerimónias religiosas, especialmente a sua monumental procissão com os Meninos e seus fradinhos, os cabazes do pão e as imagens das padroeiras de todos os lugares e seus estandartes. Ímpar, no seu género, na região. Atração indiscutível é a distribuição do pão a todos os presentes na festa, uma reminiscência do velho Bodo de Nossa Senhora da Gaiola.
No corrente ano de 2014, a festa voltou a contemplar as luzidias cerimónias religiosas, com o templo cheio de fiéis e uma procissão imponente pelas ruas do lugar sob um sol primaveril. Em particular, no domingo, depois da recolha dos Meninos e da saudação das duas filarmónicas presentes (Cortes e Maceira), o pároco procedeu à bênção do pão e de novas imagens de Meninos, seguindo-se a Eucaristia, às 14h30. Foi depois desta que se realizou a colorida procissão, após o que o público pôde assistir no arraial ao concerto das filarmónicas. Pelas 18h30, o pároco procedeu à bênção das mães, uma vez que a data coincidiu com o Dia da Mãe, e, pelas 19h00, o adro encheu-se para participar na distribuição do pão, símbolo da grande festa do bodo que era apanágio desta celebração.