No Dia Mundial do Doente, D. António Marto recordou dias «ansiedade»

Bispo de Leiria-Fátima considera que legislação sobre a eutanásia «envergonha uma parte da classe política»

Lisboa, 11 fev 2021 (Ecclesia) – O bispo de Leiria Fátima recordou os dias de “ansiedade” que marcaram o diagnóstico da doença que motivou o seu internamento, a “experiência dura” dos cuidados intensivos e a vivência “de uma maneira única” da fragilidade.

“A pessoa sente impotência, a incapacidade, a fragilidade que se conhece teoricamente e depois experimenta-a de uma maneira única”, disse cardeal D. António Marto em entrevista à Agência ECCLESIA.

No início do último mês de novembro, o bispo de Leiria-Fátima foi internado no Hospital de Leiria onde permaneceu durante duas semanas, continuando depois os tratamentos a uma infeção no fígado numa unidade de hospitalização domiciliária durante cinco semanas.

Para o cardeal D. António Marto, a “incerteza” do diagnóstico foi motivo de ansiedade e a suspeita inicial de uma infeção sistémica, de todo o organismo, “faria ver a morte muito próxima”.

“Mandaram-me para os cuidados intensivos. É uma experiência um pouco dura para quem lá passa: estamos ligados a máquinas, sem noção do tempo, sem poder contactar com alguém conhecido”, recorda.

D. António Marto lembra que, numa noite, entre máquinas a apitar, “uma de um lado, outra do outro”, sentiu um “desespero”, uma “dor aguda” que levou à identificação da origem do problema.

“Senti uma dor aguda no abdómen, disse à médica e logo mandou fazer a ecografia e a partir daí chegou-se a identificar o foco, que era uma infeção do fígado. Foi uma surpresa completa”, afirma D. António Marto.

O bispo de Leiria-Fátima referiu que a “proximidade” e “carinho” que sempre mantem em relação aos doentes, nomeadamente nas visitas pastorais, é diferente de sentir a finitude “na própria carne”.

“Uma coisa é falarmos aos outros, e até estar com quem sofre; outra coisa é quando nos toca a nós, na carne, na própria carne, e sentimos esta fragilidade, o confronto com a finitude”, afirmou.

Nos dias de sofrimento e na solidão que marcaram as duas semanas de internamento hospitalar, sem visitas, o bispo de Leiria-Fátima recorda que se “encomendou ao Senhor” e que havia momentos em que “não era capaz de rezar”.

“Parece um paradoxo! Mas havia momentos em que não era capaz de rezar, embora o sentisse que devia fazer”, afirmou.

O cardeal D. António Marto sentiu-se rodeado “de uma comunidade de oração e de afeto”, da diocese, do país inteiro e “até do estrangeiro”, e valorizou a competência e o cuidado do pessoal clínico e auxiliar que o acompanhou.

Na entrevista à Agência ECCLESIA por ocasião do Dia Mundial do Doente, que se celebra no dia 11 de fevereiro, o bispo de Leiria-Fátima afirmou que a pandemia Covid-19 veio revelar a “fragilidade” e vulnerabilidade” que tantas vezes é esquecida diante dos “progressos da ciência e da técnica” e disse que ficou “muito triste” pela aprovação da despenalização da eutanásia quando as estruturas médicas e toda a sociedade “estão num combate para se salvar todas as vidas”.

“Esta legislação aprovada agora envergonha uma parte da classe política que avançou com esta medida, neste tempo de pandemia, que exigia uma sensibilidade própria, uma empatia com o povo que sofre”, afirmou.

A entrevista ao cardeal D. António Marto pode ser lida no portal de notícias ou vista nas redes sociais da Agência ECCLESIA; esta noite, o programa Ecclesia na Antena 1 refere também a experiência da doença do bispo de Leiria-Fátima.

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