No dia de B.P. no Arrabal, todos trabalharam para melhorar o mundo

Acabou por acolher uma quantidade de escuteiros que ultrapassou as expectativas mais optimistas e tiveram que dar resposta a 1800 escuteiros inscritos e mais 500 pais e familiares que os quiseram acompanhar nesta jornada.
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A previsão indicava uma participação de cerca de 1600 escuteiros. A bem dizer, até era um número que dava algum alívio, sabendo que o espaço que os ia acolher não teria capacidade para muitos mais. Mesmo assim, é um número que dá para perceber a dimensão de um evento como é o Dia de B.P. na Região de Leiria-Fátima. Mas no último domingo, dia 26 de fevereiro, o agrupamento 1167 de Arrabal — que assumiu este ano a organização do evento —, acabou por acolher uma quantidade de escuteiros que ultrapassou as expectativas mais optimistas, e tiveram que dar resposta a 1800 escuteiros inscritos e mais 500 pais e familiares que os quiseram acompanhar nesta jornada.

Em conversa com Pedro Correia que, como chefe do agrupamento do Arrabal, liderou toda a organização, percebeu-se que o primeiro objetivo era dar resposta satisfatória a toda esta massa humana e instalá-la no pavilhão desportivo da localidade, onde se iria realizar o primeiro momento do programa previsto. Objetivo cumprido, desabafou. Porém, não era o único. Por exemplo, a preocupação para que houvesse comida e bebida em quantidade suficiente para mais de duas mil pessoas, também era um ponto importante do caderno de encargos que, mais uma vez, foi ultrapassado com distinção. E quando assim é, quando toda a gente tem espaço, comida e bebida, isso é meio caminho para o sucesso de um evento desta envergadura.

Em boa verdade, o Agrupamento do Arrabal já tinha um lastro de experiência neste evento. Há 11 anos também tinham decidido pôr mãos à obra nesta empreitada que, já em 2012 recebia 1200 escuteiros. Esta foi a razão de algumas congratulações especiais, por serem muito poucos os agrupamento que aceitam realizar um projeto desta dimensão no espaço de uma década.

A pandemia de covid-19 dos anos mais recentes e as notícias de abusos a crianças no interior do Corpo Nacional de Escutas de que a Comissão Independente deu conta no relatório apresentado este mês, eram razão para que pudesse pairar algum desânimo nas hostes do maior movimento infanto-juvenil do país e do mundo. Afinal, os números podem ajudar a perceber que as pessoas distinguem os factos que criaram muita perplexidade e a tristeza em toda a sociedade, daquilo que orienta o escutismo católico português. Não admira, pois que, nas horas que antecederam o início do programa, as vias de acesso ao local se encontrassem congestionadas, tal a quantidade de afluência.

Conquistar o mundo a servir

Do programa geral, não consta que tivesse havido alterações relativamente aos anos mais recentes: em fórmula bem sucedida, não é preciso mexer.

Às 10h00, mesmo com as filas de carros e de gente nos vários acessos, os inscritos para o dia — e mais alguns acompanhantes — já tinham passado debaixo do característico pórtico que os escuteiros fazem sempre questão de construir à entrada e já tinham ocupado o lugar dentro do pavilhão para participar na celebração eucarística. Neste momento, havia também a novidade de, pela primeira vez, ser o bispo D. José Ornelas a presidir.

O coro que se formou para o efeito deu o toque festivo necessário ao que se juntou a informalidade do prelado que ainda não há um ano assumiu a condução da diocese de Leiria-Fátima. Na sua homilia, explicou as leituras da liturgia da Palavra à maneira da mística escutista.

Partindo da primeira leitura, que falava da criação do mundo, D. José comparou-a a um pai e uma mãe que esperam o primeiro bebé e preparam tudo para o receber em casa. “O mundo não está feito, não está pronto; foi dado por Deus, mas é preciso ser trabalhado por nós”, começou por explicar, acrescentando que “cada um de nós não está aqui apenas para usar umas aplicações de telemóvel e usufruir daquilo que já está feito”. Continuando a metáfora, o bispo diocesano disse que é preciso criar novas aplicações; é preciso criar jogos novos, pois “o ideal escutista é precisamente isto, e é por isso que vocês aprendem a criar coisas novas e a cuidar das que já existem”. Portanto, a primeira mensagem do dia era que Deus conta com cada um dos presentes “para pormos este mundo bonito e para que não falte a ninguém aquilo que é preciso”. Mas alertou para a necessidade de ser inteligente: “não comecem a usar isto tudo como se não tivesse fim e não tivessem mais de trabalhar e de pensar nos outros”. Neste caso, a árvore que Deus plantou no meio do jardim e que tantas vezes é associada ao pecado, para D. José é o símbolo da inteligência. De forma coloquial, alertava e explicava aos presentes que “Deus disse assim: tudo é para vocês; mas se não tiverem “cabecinha” e coração, vocês vão estragar este mundo”.

VÍDEO
https://youtu.be/i82GsxvgMxA

Continuando para a leitura do Evangelho, D. José disse que também Jesus, quando começou a sua vida pública, foi quarenta dias para o deserto para pensar como havia de tornar melhor este mundo. “Ele, como homem, também precisa de aprender o que era ser homem nesta Terra; eu, como chefe — e não estou a falar apenas dos escuteiros, — eu como bispo, não posso ficar sentado à espera que as pessoas venham ter comigo”, partilhou.

O ideal do escuteiro deve ser “estamos aqui para servir” e é isso que Jesus vai ensinar na mensagem que deixa no Evangelho. Neste ponto, o prelado fez referência à temática dos abusos sexuais de crianças, afirmando que a razão da sua existência é “porque aqueles que não podem, têm de fazer sempre a vontade dos que têm poder”. Por isso, “nós não vivemos para sermos grandes para os outros, mas somos para fazer com que os outros cresçam”. E continua: “é isso que fazem também os nossos pais; é isso que fazem também os chefes no escutismo”. Como exemplo concreto, apontou a realização do Dia de B.P. que envolveu tantos voluntários a prestar serviço para que ele fosse possível. “O espírito do escutismo é: nós trabalhamos para melhorar este mundo.”

Também não faltou uma referência à guerra na Ucrânia, tendo estabelecido um paralelo com as tentações que Jesus sofreu no deserto, conforme a leitura do Evangelho do dia, onde o diabo desafia Jesus Cristo assumir o poder de ser o maior. “Por causa disso é que temos uma guerra na Ucrânia, porque alguém pensa que é o maior de todos e manda em todos; e o resultado é o mundo todo partido, como temos visto na televisão.”

Se interiorizarmos este ideal do escutismo “alerta para servir”, também estamos a ajudar a construir um mundo melhor, finalizou.

Jogos para miúdos e graúdos

Depois da celebração, era hora de repôr energias para o que estava preparado na parte da tarde. Enquanto os escuteiros de organizavam por secções e formavam as equipas possíveis por agrupamento, os pais e familiares aproveitavam o momento para convívio e almoço. A organização já tinha previsto duas possibilidades: um “kit” mais simples e económico composto por bifana, fruta e água, e outro mais bem composto, com prato e sopa. Enquanto os que escolheram o primeiro juntavam-se a esmo, nos lugares de estacionamento, os segundos tinham lugar sentado no pavilhão-restaurante. Pelo menos, não havia razão para se queixarem da fome e, sobretudo, de falta de boa disposição.

Dos escuteiros, deixámos de ter novidades. Lá tinham os jogos deles, enquanto nós optámos por nos juntarmos num grupo de pais que, antecipadamente, nos tentaram com uma garrafa de vinho tinto para ajudar a compôr melhor a degustação da bifana. “Bebam que vos vai dar jeito para a caminhada”, foi argumento desprovido de qualquer rigor científico que nos tentou à escolha mais prazenteira. Depois de ouvir aquele Evangelho, esta não seria a melhor das opções, mas a garantia de boa companhia tudo desculpa.

Alguns ainda fizeram a conta aos quilómetros que acabaram por percorrer: há quem diga dez, outros, sete e ainda outros, bem mais, por haver uns atrevidos que mudaram as pistas que os organizadores tinham deixado a marcar o caminho. “São piores que os filhos”, disseram as vítimas do embuste, em jeito de brincadeira uns, em jeito de reprimenda, outros. Uma equipa partilho assim na rede social: “Fizemos equipa com pais e irmãos da Maceira e da Cruz d’Areia, andámos mais dois quilómetros, porque mudaram uma corda do caminho, mas estivemos sempre com boa disposição! É sempre muito divertido participar nestas atividades! Somos todos escuteiros por umas horas!”

Uma coisa era certa: no final dos jogos que nos permitiram conhecer um pouco a freguesia, nomeadamente o lugar do Freixial e os seus pólos culturais, a alegria e a gratidão não precisavam de palavras para serem expressas. Mesmo assim, um dos pais que tinham vindo de Amor confidenciava que “para mim foi terapêutico; deu para recarregar baterias para esta semana”, enquanto outros agradeciam “a todos pela companhia, diversão, entreajuda”. Estamos convencidos de que o terceiro lugar obtido no jogo ajudou a atingir este grau de satisfação. Isso e o tinto Rosário, de 14 graus, bebido à refeição. É um pouco como dizia D. José na homilia: “somos livres destas coisas…”

Acabar em festa

Quando os grupos dos familiares regressavam ao pavilhão desportivo para a festa de encerramento, ela, a festa, já tinha começado. O que de manhã fora um altar, agora tinha sido transformado num “set” onde o DJ, imaginamos que improvisado, ia passando umas faixas em que alternava música pop mais ligeira com uns toques de “drum ‘n bass” que ritmavam os saltos da plateia bem composta de escuteiros. Gente nova, com sangue na guelra, como dizem os mais velhos. Ou então, os jogos deles não tinham tido um percurso tão longo. O que interessa é que havia alegria contagiante no ar, e todos lá tentavam chegar aos pulos.

Houve tempo para cada secção dar o melhor de si na entoação do respetivo hino e foram anunciados os pódios. Por ser fastidioso enumerá-los aqui — para sermos honestos, nem sabemos quem venceu o quê —, limitamo-nos a assinalar o lugar comum mais importante: ganhar ou perder não interessa; interessa é participar e aproveitar vivermos bons momentos.

No final, os discursos da praxe, um deles do próprio chefe do agrupamento do Arrabal, Pedro Correia, que aproveitou para fazer um agradecimento especial aos pais dos escuteiros de 1167, que deram uma ajuda inexcedível para que tudo corresse bem. Foi a ovação da tarde e, ao que parece, bem merecida.

Para Vítor Faria, Chefe Regional do Escutismo de Leiria-Fátima, esta foi a última atividade em que esteve presente nessa qualidade. No próximo fim de semana irá haver Conselho Regional e todos os Caminheiros e chefes são convidados a ir eleger o próximo Chefe Regional. Para já, há duas listas candidatas a disputar os destinos do Escutismo na Região. Quem irá ser o vencedor? Isso já são contas de outro “rosário” e, na altura, cá estaremos para contar a história dos próximos dias de B.P.

ÁLBUM FOTOGRÁFICO
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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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