O padre João Beato, que faleceu no passado dia 20 aos 84 anos, foi a enterrar no dia 22 de junho. A celebração das exéquias, presidida pelo cardeal D. António Marto, teve lugar na igreja paroquial das Pedreiras (Porto de Mós), sendo a sepultura no cemitério local. Participada por dezena e meia de sacerdotes, pelos familiares e alguns amigos, com as limitações a que a pandemia nos obriga, a celebração foi simples, incluindo o canto de vésperas e a missa.
Na homilia, D. António Marto, referiu que toda a vida do padre João, foi de doação ao serviço dos irmãos. Reconheceu as suas obras, o saber partilhado, a generosidade e serenidade e familiaridade nas relações pessoais. Fez referência também ao lado poético que sempre pautou a vida deste sacerdote, uma poesia que brotava do seu lado contemplativo e observador do que o rodeava e sobretudo das pessoas e suas vivências.
No final da celebração o seu irmão, padre Joaquim Beato, dirigiu palavras de agradecimento aos presentes e aos que cuidaram dele. Manifestou a sua gratidão pela vida do irmão e pela ajuda que dele recebeu, considerando que ele sempre foi um dom para os irmãos.
Poema
No final da celebração, a sua sobrinha leu um poema escrito pelo próprio falecido, acerca do sacerdócio e que é um retrato do sacerdote e uma herança que os presentes receberam com apreço e gratidão.
(Dedico este poema a todos os meus amigos que se preparam para o sacerdócio)
Senhor,
Já que o queres,
Assim serei!…
Serei Teu sacerdote
E farei
Do destino a que me vote,
Um destino de luz e fé,
Um destino de amor.
Serei o Teu retrato,
O Teu retrato vivo,
Neste mundo desvairado;
Mundo triste;
Mundo pobre;
Mundo louco;
Mundo perdido;
Mundo de dor e de pecado;
Mundo que precisa de ser remido.
Serei a Tua carta aberta
Por onde os homens,
Todos os homens,
Possam ler e meditar
Os mandamentos
E os sacramentos
Do Teu amor!
– Único caminho
que há a seguir
para atingir
o Teu destino,
Senhor.
Serei a Tua sentinela alerta,
Sempre pronta,
Sempre vigilante,
Sempre atenta,
Sempre confiante.
Serei a Tua guarda,
Eu que preciso de ser guardado;
Serei a Tua defesa,
Eu que preciso de ser defendido;
Serei um Anjo, do Céu lançado!
Serei um astro do Céu caído!…
E que mais,
Que mais serei?
Nem eu bem sei!…
Sei ainda que hei-de ser
Uma vela acesa,
A brilhar
Sobre o altar
Da Tua mesa,
E a cuja luz,
Ó bom Jesus,
Os homens,
Filhos Teus
E meus irmãos,
Hão-de ver,
Hão-de sentir,
Hão-de palpar
A graça,
O amor
E o perdão
Que jorram,
Sem cessar,
Do Teu coração.
E serei mais!
Mesmo mais…
Muito mais!…
Serei o sal,
O pão
E o fermento
Que há-de levedar
A massa humana;
Serei a brasa,
O fogo
E o vento
Que há-de humanizar a vida humana.
Serei hóstia imolada;
Serei cruz erguida;
Serei chaga rasgada;
Serei luz fundida
No Teu amor
E na Tua dor, Senhor.
Serei a palavra da Tua palavra;
Serei a verdade da Tua verdade;
Serei o caminho do Teu caminho;
Serei a vida da Tua vida;
E, oh realidade!
Oh dogma eterno!
Quer me trair e me odiar,
Arderá no Inferno;
Quem me ouvir
E me escutar
Viverá na Eternidade!…