Homilia da Missa de Natal 2018
Não deixemos mundanizar a festa do Natal
† Cardeal António Marto
Catedral de Leiria, 25 de dezembro de 2018
Refª: CE2018B-011
Bem-vindos todos vós que viestes aqui como convidados de Jesus para celebrar com Ele a festa do seu Natal!
Hoje em dia corremos o risco de reduzir o Natal de Jesus a uma festa mundana, comercial e consumista. Muitas vezes fixamos a nossa atenção nas coisas ou nas tradições exteriores mesmo que tenham a sua atração e lugar e esquecemos ou pomos de parte o festejado, aquele que deve estar no centro da festa.Não tenhamos medo de dizer que esta festa se chama Natal de Cristo e não pai natal!Não deixemos que o pai natal tome o lugar de Jesus! Nem basta dizer que Cristo nasceu para nós. Para dizer isso com verdadeira fé, é necessário encontrá-lo, acolhê-lo. Se não o encontramos é como se não tivesse nascido.
A propósito leio-vos um pequeno texto de meditação, cheio de encanto, posto nos lábios do Deus-Menino e que dá que pensar:
“Com licença, amigos! Será que posso entrar?
Eu sou a Criança.
A mesma Criança indefesa e frágil que já pediu acolhimento
e proteção no seio de Maria.
Hoje, de novo a vós me apresento sempre da mesma forma,
sempre como Criança, para que ninguém venha a ter medo de mim,
para que ninguém possa confundir-me com um assaltante
ou com um cobrador de impostos.
Para dizer a verdade, eu nem saberia de que outra forma
mais amigável me poderia apresentar.
Mesmo porque sei que vós adorais as crianças.
Elas são a «alegria do lar», como vós dizeis.
Então, com licença, amigos! Se permitirdes, vou entrar.
Mas se por acaso vos parecer que estou a perturbar, não há problema,
eu vou-me embora.
Mas não vos preocupeis, eu voltarei. Eu volto sempre.
Sim,meus amigos, mesmo arriscando a vida, eu voltarei.
Vós sabeis, só quem não ama não volta mais …
Uma coisa, porém, tem que ficar bem clara: se vós não me convidardes,
eu nunca entrarei em vossas casas. Não quero arrombar portas,
prefiro que elas se abram por dentro.
E onde encontraria eu a força para arrombar as vossas portas?
Sou apenas uma Criança…”
Perante esta criança, o Deus menino que nos bate à porta, é caso para dizer: “não tenhais medo! Abri de par em par as portas da vossa casa, do vosso coração a Cristo”!
Se queremos que haja Natal no nosso coração, temos que abri-lo à entrada de Cristo e do seu infinito amor divino. Não fiquemos impermeáveis a este amor!
“Comovidos pela alegria do dom, ó menino pequenino de Belém, pedimos-te que o teu pranto nos sacuda da nossa indiferença, abra os nossos olhos diante de quem sofre. A tua ternura desperte a nossa sensibilidade e nos faça sentir convidados a reconhecer-te em todos aqueles que chegam às nossas cidades, às nossas histórias, às nossas vidas” (Papa Francisco, Natal 2017).
Fazer festa de Natal é fazer como Jesus e com Ele: descer até junto dos pobres, dos frágeis, dos feridos e aflitos por Ele amados e que têm necessidade de nós, sermos uma extensão das suas mãos de ternura abertas e acolhedoras para com todos.
“Por isso, benditas as mãosque se abrem para acolher os pobres e socorrê-los: são mãos que levam esperança.
Benditas as mãosque superam toda a barreira de cultura, religião e nacionalidade, derramando óleo de consolação nas chagas da humanidade.
Benditas as mãosque se abrem sem pedir nada em troca, sem “se” nem “mas”, nem “talvez”: são mãos que fazem descer sobre os irmãos a bênção de Deus” (Papa Francisco).
A todos vós e vossas famílias um Santo Natal, quer dizer, um Natal em íntima comunhão com o Senhor e em comunhão fraterna de uns com os outros. Santo e Feliz Natal em Cristo!