D. José Ornelas Carvalho presidiu no Santuário de Fátima à Missa do Domingo de Ramos, que marcou o início da Semana Santa.
A narração da entrada na cidade de Jerusalém e da Paixão “revela as disposições com que Jesus enfrenta estes momentos culminantes da Sua vida na terra, da Sua fidelidade e adesão absoluta ao projeto salvador de Deus e do Seu dom total de amor em favor de cada um/a de nós e de toda a humanidade e por isso falam muito a cada um de nós”.
Assim, “Ele que quer oferecer à humanidade um caminho de Salvação e de vida, que é o próprio Jesus e é necessário que todos saibam que Ele é o salvador prometido a Israel e que traz nova vida ao mundo”, disse o bispo de Leiria-Fátima, ao sublinhar a humildade de Jesus.
Jesus aceitou a homenagem do povo que anseia por libertação, mas não “entra em Populismos, não cavalga a onda dos festejos, nem se deixa acabrunhar pela crítica e pela crise”.
A narração da Paixão não é “o relato de um herói vencedor, mas de um homem injustamente condenado, abandonado pelos amigos”.
Deste modo, “Ele torna-se próximo de todos os que sentem a solidão da dor e do Abandono”, “não volta a cara perante o sofrimento, a miséria, o abandono e todos os dramas da humanidade”, uma vez que a sua vida foi “passada a aliviar a dor, a curar feridas, a criar esperança e a dar força, mesmo nas situações mais difíceis e dolorosas”.
Agora, “continua a partilhar, até ao fim, a condição dos injustiçados, dos que anseiam pela liberdade, pela justiça, pela dignidade, própria e dos que os rodeiam”, tornando-se modelo.
O Bispo da Diocese de Leiria-Fátima considera que Jesus carrega “todo o peso e a esperança de cada um de nós e de toda a humanidade, traçando neles um caminho que leva à vida, mesmo através do sofrimento e da morte”.
É isso que a Igreja celebra neste Domingo de Ramos, “mas sem esquecer que, para falar de ressurreição e de vida, há que assumir o drama do sofrimento e da morte”.
“Iludidos por aplicações informáticas e mediáticas que prometem resolver problemas e fazer tudo e num momento, e por promessas populistas e ilusórias de sucesso e felicidade sem custo nem dor, esquecemo-nos, com frequência que o sofrimento e o esforço fazem parte do nascer e desenvolver-se da felicidade, da liberdade e da vida, que a luta persistente é parte da vitória, que o aprender exige aplicação, esforço disciplina, que o amor tem a atração fascinante do namoro, mas requer perseverança, paciência, perdão e recomeço constante, que acabar com a injustiça e a corrupção pode custar ódios e vinganças fatais, que enfrentar ideologias e ditadores, gananciosos e fanáticos, pode levar facilmente à perseguição, à tortura e à morte, que reconhecer os erros e os males de cada um e da Igreja, como no caso dos abusos de menores, não é um processo indolor, mas é necessário para abrir caminhos de misericórdia, de justiça e de perdão regeneradores”, alertou D. José Ornelas de Carvalho.
Em tudo isto, acrescenta, “há sofrimentos inscritos na fragilidade do nosso ser humano e do seu ambiente”, como os desastres naturais, a doença, as dificuldades de relações importantes. “Há sofrimentos malditos, da parte dos que os causam e infligem, na exploração, no abuso, na injustiça, na violência e na guerra, que levam à destruição e à morte, mas até esses podem ser redentores se levam a uma proximidade com as vítimas dessas situações e iniciam caminhos novos de libertação, de justiça e de paz”, lembra o prelado.
Jesus “não apostou nos jogos do sucesso fácil, da ilusão do poder dominador, do lucro ganancioso, da violência destruidora” e também “recusou o uso da violência para construir o futuro.”
Também “ para não olhar o mal e a opressão, não se resignou nem acobardou diante da miséria, da injustiça, da violência dos dominadores e causadores de sofrimento e de morte”, e desse modo assumiu “os que vêm da natureza frágil do mundo e do nosso ser, bem como dos muitos outros que criamos com o nosso egoísmo, ganância e injustiça”.
Por isso, abriu, através deles, “um caminho novo de transformação deste mundo e de abertura a outros horizontes”, frisou.
O sofrimento e a morte de Jesus “são revelação e parte da mesma medalha da ressurreição e do amor poderoso e libertador de Deus”.
“A sua condenação injusta, a tortura a que foi submetido e a morte infligida mostram a sua liberdade, a sua fidelidade e coerência, e sobretudo o seu amor inquebrantável a Deus, Senhor da Vida e a toda a humanidade frágil e pecadora”, disse lembrando que esse sofrimento e essa morte “são parte da ressurreição transformadora do próprio Jesus e do mundo”.
“Não cedamos à tentação de colocar cortinas brancas e floridas a tapar as feridas abertas da guerra, da miséria, dos que não têm abrigo, pão e emprego, das crianças famintas, bombardeadas e mortas nas guerras, das que são vítimas de abusos e de violência doméstica e social, das nossas resistências a dar vida a uma Igreja mais materna, carinhosa e aberta às dores e fragilidades de quem precisa”, pediu D. José Ornelas de Carvalho.A Igreja Católica inicia, com a celebração dos Ramos, o itinerário da Semana Santa, momentos centrais do ano litúrgico.
A celebração dos últimos dias da vida de Cristo começa pela evocação da sua entrada messiânica em Jerusalém e a bênção dos ramos, que aconteceu hoje.
A centralidade da Semana Santa
Os momentos centrais da Semana Santa começam na quinta-feira, dia em que se celebram a Missa Crismal (Sé de Leiria) e a Missa da Ceia do Senhor.
A manhã é preenchida pela Missa Crismal, que reúne em torno do bispo o clero da Diocese, na qual são abençoados os óleos dos catecúmenos e dos enfermos e consagrado o santo óleo do crisma.
Com a Missa vespertina da Ceia do Senhor tem início o Tríduo Pascal da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor: é comemorada a instituição dos Sacramentos da Eucaristia e da Ordem e o mandamento do Amor (o gesto do lava-pés); no final da Missa, o Santíssimo Sacramento é trasladado para um outro local, desnudando-se então os altares.
Na Sexta-feira Santa não se celebra a Missa, tendo lugar a celebração da morte do Senhor, com a adoração da cruz.
No sábado, a Igreja debruça-se, no silêncio e na meditação, sobre o sepulcro do Senhor até à Vigília Pascal, à noite, evocando a Ressurreição de Cristo.
Cinco elementos compõem a liturgia da Vigília Pascal: a bênção do fogo novo e do círio pascal; a proclamação da Páscoa, que é um canto de júbilo anunciando a Ressurreição do Senhor; a série de leituras sobre a História da Salvação; a renovação das promessas do Batismo, por fim, a liturgia Eucarística.