Eduardo Bonnin Aguiló era um jovem soldado espanhol a cumprir o serviço militar, como tantos outros, nos anos 40. Mas, ao contrário de muitos, preocupava-o a falta de vivência dos valores cristãos em que tinha sido educado.
“Não tinham nenhuma ideia da Doutrina; dessa Verdade que, acreditando com fé e praticando com alegria, nos faz pessoas livres”, conta ele no livro O Meu Testamento Espiritual. Por isso, pensou, rezou e, com os amigos José Ferragut e Jaime Riutorte, planeou um pequeno curso sobre a fé e a vida cristã, realizado de 20 a 23 de agosto de 1944, em Maiorca. Foi o primeiro “cursilho” da história.
Numa outra obra sua, Um Aprendiz de Cristão, o fundador explica o que vieram a ser estes cursos de cristandade: “São um movimento que, mediante um método próprio, procura, a partir da Igreja, que a realidade do cristão se torne vida na singularidade, na originalidade e na criatividade da própria pessoa, para que, descobrindo as suas potencialidades e aceitando as suas limitações, conduza a sua liberdade a partir da sua convicção, reforce a sua vontade com a sua decisão e propicie a amizade, em virtude da sua perseverança, no seu viver quotidiano, individual e comunitário”. Por outras palavras, conforme o título do livro, aprender a ser cristão.
O modelo inicial era o das primeiras comunidades cristãs, com base no Evangelho acima de qualquer outra lei ou orientação para a vida prática. E as regras simples de cada um aceitar-se como é, compreender que pode ser melhor e fazer esse caminho em companhia, entre amigos que querem ser amigos de Jesus Cristo.
Modelo vencedor chega a Fátima
Podemos dizer que este foi um modelo vencedor. Logo em 1949, o Bispo da diocese de Eduardo reconhece que esta é uma obra de inspiração divina e boa para a Igreja, abençoando-a “com as duas mãos”. Nessa altura, já o Movimento se espalhava para fora de Espanha e ganhava uma dimensão tal que, em 1963, o Papa Paulo VI, declarou o Apóstolo São Paulo “patrono celestial” dos Cursilhos (também são assim conhecidos, pela expressão espanhola que significa “pequenos cursos”).
Também o cardeal Cerejeira, patriarca de Lisboa na altura, tinha ouvido falar neles e enviado um grupo de sacerdotes a Espanha para viverem a experiência. Ficaram convencidos e, a 30 de novembro de 1960, começava o 1.º Curso de Cristandade de Portugal, com a participação de 14 leigos e seis padres. Convidado a participar no encerramento, o então Bispo de Leiria, D. João Pereira Venâncio, afirmaria: “Obra que nasce em Fátima nunca morrerá”. E assim foi.
O lema/saudação “De Colores”
“De Colores” é uma canção de origem mexicana, de autor desconhecido, que entrou no folclore tradicional de Espanha no início do século passado. A sua letra contempla as belezas da natureza e da criação e é expressão da alegria de viver, que nos faz ver tudo colorido. Tornou-se uma referência entre o Movimento de Cursos de Cristandade, logo nos anos 40, e associada também à imagem de que, como o sol filtrado por um prisma, também nós refletimos a mesma única luz que é Cristo na diferença das cores que nos individualizam.
O que significa para mim ser cursista
“É ser mais responsável, quer na paróquia quer na Diocese, onde quer que me encontre. Estar atento aos outros, às suas necessidades, ser alegre e positivo. Confiar em Deus e cultivar a Fé. Ser solidário: colaborar com o pároco. Não me fechar no egoísmo do meu ‘eu’. Ser testemunha de Cristo com convicção, saber ouvir a palavra do Evangelho e pôr em prática com o meu testemunho de vida e nunca dizer não ao chamamento que Deus me faz. Ser sincero, verdadeiro, coerente. Servir mais do que ser servido. Ser fiel, casto, saber amar a Deus e aos irmãos.” (Albertino Lima)
Entrevista a Albertino Lima, presidente da equipa diocesana
“Não existe nenhuma paróquia onde não existam cursistas”
Para conhecermos melhor a realidade o Movimento dos Cursos de Cristandade (MCC) na Diocese, conversámos com Albertino Lima, de 73 anos, antigo mediador imobiliário, natural da Caranguejeira e aí residente, em Souto de Cima. Frequentou o curso n.º 68, em 1982, e desde há dois anos é o responsável da equipa diocesana.
O primeiro curso em Portugal foi, precisamente, em Fátima. Surgiu logo aí uma equipa diocesana do Movimento?
Não foi imediato, mas teve aí a sua raiz, já que o Bispo D. João Venâncio participou no encerramento desse curso e foi ele próprio a juntar-se aos cinco sacerdotes e 32 leigos que participaram no 1.º Curso de Homens da diocese de Leiria, nas Termas da Piedade, em Alcobaça, de 2 a 5 de maio de 1962, orientados por um padre e seis leigos da diocese de Lisboa. Outros se seguiram e, no ano seguinte, em Fátima, foi a vez do 1.º Curso de Senhoras, com 41 participantes e já com três sacerdotes da Diocese a integrarem a equipa reitora. Daí em diante, sempre com o apoio incondicional do Bispo, nunca mais pararam, tendo-se já realizado 127 cursos de homens e 99 de senhoras.
É, portanto, um movimento conhecido em larga escala pelos diocesanos e com impacto na pastoral…
Podemos dizer que não existe nenhuma paróquia na Diocese onde não existam cursistas, uns ativos no Movimento, outros menos. Foram eles, e continuam a ser, em muitos casos, os grandes impulsionadores e participantes das atividades paroquiais e diocesanas, que deram vida, e continuam a dar, a novos movimentos, obras, ministérios e serviços da Igreja, no voluntariado organizado. E também na renovação de alguns que existiam mas precisavam de nova força e outros que se transformaram em sementes da nova evangelização.
Como se organizam esses membros em estrutura diocesana?
Este é um Movimento da Igreja particular de Leiria-Fátima, pelo que a sua estrutura básica é o Secretariado Diocesano, ao qual o Bispo confia a responsabilidade da promoção, do desenvolvimento e da adequada direção na Diocese. Há depois a organização por paróquia ou grupos de paróquias em Centros de Ultreia, palavra que significa “vamos em frente”, nascida da saudação usada pelos peregrinos de Santiago a continuarem o caminho com coragem. A realização dos cursos, mini-cursos para casais e outras atividades de formação específica para leigos e sacerdotes é da responsabilidade da Escola do MCC e dos Centros de Ultreia, sob a orientação do Secretariado.
Escola do MCC?
Sim, a Escola do MCC foi, durante quase duas décadas, a única proposta de formação para leigos na Diocese. Tal como os mini-cursos para casais foram, durante muitos anos, o único apoio de preparação cristã para o Matrimónio e para as famílias, para além de um ou outro retiro espiritual.
Atualmente, a Escola do MCC está integrada na Escola Diocesana Razões da Esperança, como uma das propostas formativas durante a segunda hora.
O que é preciso para fazer um Curso de Cristandade?
Tal como sempre, os cursos estão abertos a todos os batizados, de qualquer condição social ou académica, desde que estejam em comunhão com a Igreja, tenham maturidade, sejam pessoas capazes de captar a mensagem evangélica, de viverem em comunidade e capazes de fermentarem de Evangelho os seus ambientes no mundo e na Igreja. Tudo assenta no “tripé” de vida cristã: piedade, estudo e ação.
Posso fazer o convite?…
Claro…
Então, caro diocesano amigo, vem viver durante três dias a experiência entusiasmante de um Curso de Cristandade. Cristo conta contigo, o Bispo da Diocese e o Secretariado do Movimento também. De Colores.