A igreja de Cochim ficou para a história como a primeira edificada pelos portugueses na Índia com certo caráter oficial. Com efeito o porto de Cochim era o mais movimentado com as embarcações lusas.
O primeiro Vigário Geral da Índia foi o padre secular Mestre Diogo Pereira (1505–1510), acompanhando a armada de Francisco de Almeida, depois da edificação da fortaleza de Quíloa. Em seguida assumiu aquela responsabilidade o padre João Fernandes (1510–1512), em simultâneo com a Vigararia de Cochim, cumulação que seria prática habitual. Portanto, este pastor era o ordinário eclesiástico do Oriente, com jurisdição sobre todos os vigários das outras fortalezas e restantes clérigos. Por divergências com o famigerado segundo vice-rei da Índia Afonso de Albuquerque (que toma Goa), o padre João Fernandes é apeado daquele múnus eclesiástico ao fim de pouco tempo. Foi incumbido dos casamentos mistos promovidos por Albuquerque, todavia confiou a missão de celebrar os matrimónios ao franciscano e capelão Francisco da Rocha. Sucede-lhe na vigararia geral Frei Domingos de Sousa (1513–1516 ou 1517), um dominicano em estado de graça face ao Governador e que empreendeu um périplo pelas fortalezas. Em seguida, foi a vez do padre João Pacheco. Entre 1518 e 1521 fica com o posto de vigário geral após ter sido o capelão d’el-rei nos Açores e ser mandado para a Índia. Alvo de críticas pelo Bispo de Dume, voltou às ilhas atlânticas na qualidade de vigário e ouvidor de Angra do Heroísmo.
Foi substituído pelo Padre Sebastião Pires, homem bem conhecedor das coisas e dos homens da e na Índia e capaz de captar a simpatia tanto dos bispos de anel como dos governadores. Foi criticado por ministrar o processo do «descasamento» na Índia a muitos indivíduos.
Sucede Miguel Vaz (1533–1547) na qualidade de doutor em Direito Canónico…. Fomentou grande vigor nas missões da Índia e acabaria por morrer em Chaul em 1547. Não sem que antes empreendesse duas alterações: 1 – «Em terras de el-rei, o Cristianismo devia gozar de privilégios especiais, como religião oficial, sendo o Hinduísmo e o Islamismo admitidos em regime de restrita tolerância. 2 – Em terras de príncipes indianos, o Cristianismo devia apoiar-se na proteção dos mesmos príncipes e sujeitar-se a todos os percalços oriundos do especial condicionalismo em que tinha de viver e de se propagar.» (1)
Em suma, até 1542, aquando do desembarque dos primeiros jesuítas, os franciscanos constituíam a maior fatia dos clérigos regulares no Oriente. A sua missionação em Cochim consistia em responder às necessidades espirituais dos compatriotas, observar e estudar as tradições indígenas, esforçar-se em cativar os hindus, sugerindo-lhes a conversão ao Cristianismo.
(CONTINUA)
(1) REGO, António da Silva, História das Missões do Padroado Português do Oriente Índia, 1.º Volume (1500-1542), Lisboa, 1949, p. 522.