E depois da missão… a missão continua.
Silêncios da alma. Passaram cinco meses desde que regressei da Etiópia. Cinco meses e tanto já aconteceu. Sim, é verdade: não irei regressar à Etiópia (ou, pelo menos, nos tempos que se avizinham e para aquilo a que fui destinada). O meu regresso trouxe consigo um Inverno, tempo de hibernar, de me recolher e fazer silêncios na alma. Um tempo tão necessário para o entendimento de tudo (esse todo que ainda permanece um tanto ou quanto sob a neblina deste Inverno que talvez não terminou).
Poderia falar-vos das mil voltas que a minha cabeça deu, nas tantas ansiedades que senti, somadas pela incerteza de um possível regresso, vinculado à incerta obtenção de documentos que validassem a minha vida pelos prometidos dois anos na Etiópia. Mas não. Falo-vos da importância dos silêncios da nossa alma e de, por vezes, girar o botão do volume para ruídos próximos do zero. E regressar a quem somos e àquilo para o qual fomos criados. E nisto, penso que todos teremos uma certeza comum: fomos feitos para amar. Neste regressar, ecoava em mim uma pergunta que, muitas vezes, me assustava: e agora?
Por vezes, Deus lá nos troca as voltas e aquilo que achávamos que ia acontecer, não acontece. Perdemos o sentido, quebram-se alguns pré-conceitos, questionamos o porquê e o como e um sem fim de coisas que nada têm que ver com o propósito da partida que Deus nos prega. E, no fim da estrada, entre o escolher direita ou esquerda, lá entendemos Ah! Era aqui que querias que eu chegasse!
a certeza de que Ele nunca me abandonou nem abandona, vou entendendo que e agora… a missão continua. A missão de amar, como posso, com o que tenho e onde estou.
(Na verdade, tenho este artigo guardado aqui no bolso há já algum tempo. Aqui e agora, em missão em Leiria, habitando uma rotina no serviço ao outro como fisioterapeuta, sou capaz de vo-lo ler, para que saibam que estou a caminho, que a missão aqui e na Etiópia continua. E aqui ou por aí poderão ser possíveis encontros.)
Vossa amiga missionária.