Preparamo-nos para celebrar o Natal num quadro mundial dos mais dramáticos dos últimos decénios. A selvagem invasão da Ucrânia, com o desumano e visado agravamento do sofrimento e morte de crianças e populações indefesas; a degradação das condições económicas derivadas deste e de outros conflitos, que aumentam o empobrecimento e a miséria em todo o mundo; a agudização das condições climáticas, com risco de irreversíveis danos para todo o planeta; as correntes de migrantes à procura de sobrevivência e dignidade… estão entre as sombrias nuvens de trevas e dor que se adensam sobre toda a humanidade e que a todos angustiam.
https://youtu.be/xipbye1DQVs
E contudo, no meio das trevas da violência e da morte, surgem luzes que infundem esperança e mostram novos caminhos para um futuro possível e melhor. São geradoras dessa esperança as vozes que se erguem de todo o mundo a condenar a guerra e a destruição; a solidariedade, mesmo que insuficiente, de quem envia geradores de luz para as noites e de calor para o frio; a partilha do pão nos bancos alimentares da generosidade, que sacia bocas famintas e guarnece mesas vazias; a mobilização em favor de mudanças radicais nas políticas climáticas e as respostas – ainda tímidas e escassas – de dirigentes que começam a dar passos para salvar o futuro; os gestos de reconciliação e paz nas nossas famílias; os esforços para dar voz e carinho autêntico a crianças e vítimas inocentes de conflitos, misérias e abusos. Há luzes!… e é preciso ampará-las e juntar-lhes também a nossa, com atitudes despertas e concretas, para criar esperança e caminho, a fim de que um novo futuro seja possível.
É no meio de tudo isto que celebramos o Natal; é no meio de toda esta realidade dramática que germina o significado do nascimento de Jesus que celebramos, para que ilumine e dê consistência ao nosso sentir, às nossas atitudes, aos nossos esforços e sonhos. É dessa luz no meio da noite, de paz no meio da guerra, de consolação e esperança no meio da desolação e do desespero… é dessa luz que fala a Palavra de Deus que anunciamos no Natal:
O povo que andava nas trevas viu uma grande luz;
Sobre aqueles que habitavam nas sombras da morte, uma luz resplandeceu…
Todo o calçado ruidoso da guerra e toda a veste manchada de sangue
serão lançados ao fogo e serão pasto das chamas.
Porque um menino nasceu para nós, um filho nos foi dado.
Tem o poder sobre os ombros e será chamado
“Conselheiro Admirável, Deus Forte, Pai Eterno, Príncipe da Paz” (Is 9,1-5)
O Deus Forte, o Pai Eterno, o Príncipe da Paz aparece no meio de nós como um Menino que precisa de ser cuidado com esforço, fé ativa e carinho. Quando aprendermos a cuidar assim uns dos outros, especialmente daqueles e das realidades que são mais frágeis, estaremos a cuidar do futuro de todos e a contribuir para que aconteça Natal na Humanidade, em toda a Terra.
Foi isso que os anjos cantaram aos pobres pastores na noite fria de Belém: “Glória a Deus nas alturas e Paz na Terra aos Homens que Ele ama!” (Lc 2,14). E os pastores levantaram-se, com alegria e esperança, numa noite iluminada e foram ajudar a cuidar deste Menino, como quem cuida do tesouro de um mundo novo, de um futuro melhor.
Com o canto dos anjos e a atitude dos pastores, desejo a todas e a todos:
Feliz Natal
na Alegria e na Esperança Ativa
para construir
a Justiça o Amor e a Paz
† José Ornelas Carvalho
Bispo de Leiria-Fátima
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