Mensagem às paróquias de Leiria e Cruz da Areia

Caros amigos, paroquianos de Leiria e da Cruz da Areia, aqueles que residem no território destas duas paróquias e todos aqueles que se sentem parte destas duas famílias paroquiais. Dirijo-me a vós e a todos os que vivem na nossa cidade, mesmo que não se sintam parte da vida paroquial.

Caros amigos, paroquianos de Leiria e da Cruz da Areia, aqueles que residem no território destas duas paróquias e todos aqueles que se sentem parte destas duas famílias paroquiais. Dirijo-me a vós e a todos os que vivem na nossa cidade, mesmo que não se sintam parte da vida paroquial.

Gostava de começar por vos enviar uma saudação calorosa, minha, pessoal, e também em nome do P. Fábio e do P. Augusto. 

Muitas paróquias têm optado por transmitir a celebração da eucaristia. Uma vez que são várias a fazê-lo, assim como o santuário de Fátima e inclusive o nosso Bispo aos domingos, achámos que não faria muito sentido também o fazer, pelo menos por enquanto. Mas optei por vos enviar esta mensagem, num espírito de proximidade, com o desejo de estar perto de todos. Apesar de estarem suspensas todas as atividades pastorais e celebrações, há vários serviços paroquiais que continuam a funcionar, como seja a catequese, que, em breve, irá começar a enviar propostas para tentar continuar a dinâmica de cada grupo, ou o apoio aos mais vulneráveis, que é tão importante neste momento. Nós sacerdotes, temos também continuado a celebrar funerais, respeitando os limites que são necessários nestes momentos; vamos também acompanhando por telefone e outros meios muitos de vós, para além de outros serviços que temos que continuar a fazer.

Todos os dias, o P. Fábio e eu, celebramos a eucaristia na Sé, sem povo. Na dor de saber que muitos de vós anseiam por voltar a participar numa eucaristia, confesso-vos que eu próprio tenho vivido com mais intensidade esses momentos de celebração, sabendo que os vivo também por vós e tenho-vos a todos muito presentes.

Quando, na quarta-feira de cinzas iniciámos a quaresma, nenhum de nós provavelmente imaginava ou intuía, que esta quaresma ia ser bem diferente de todas as outras. Sabíamos que entrávamos num tempo diferente, em que a imagem do deserto ia estar bem presente: o deserto que o povo de Deus atravessou ao longo de 40 anos e o deserto para o qual se retirou Jesus para orar durante 40 dias.

Afinal, também nós nos vimos envolvidos por um verdadeiro deserto.

Pessoalmente, tem-me ajudado muito encarar esta situação atual como a travessia do deserto do Povo de Israel, quando saíram do Egito rumo à terra prometida.

O deserto evoca o vazio. Muitos de nós, nestes dias, têm tido esta experiência: o vazio quase completo das ruas é só uma parte. Mais significativa é a experiência interior de vazio, de desconcerto e até de desolação. 

Um vazio que, para muitos, está marcado pela solidão. Essa solidão de quem está fisicamente só. Mas também a solidão da saudade dos que nos são queridos e com os quais não podemos estar. Todos sabemos o que é isso, pois toca-nos a todos! A solidão de sentir a distância de parte da família, ou de toda ela; a solidão que traz saudades dos amigos, colegas,… a saudade de estar em comunidade, de nos vermos, abraçarmos, ou simplesmente, participarmos numa mesma celebração com rostos mais ou menos conhecidos, mas com quem partilhamos a mesma fé.

O deserto é também um tempo de privações. Para além de estarmos privados do contacto com os outros, sentimos outras privações. A privação da eucaristia que muito nos entristece, e que acentua porventura essa experiência de vazio, é uma das mais marcantes para nós crentes. Tenho recordado tantas vezes aquelas comunidades que alguns de nós visitámos no verão passado: em cidades evangelizadas outrora por São Paulo, hoje, só podem celebrar a eucaristia quando um grupo como era o nosso, por lá passa. E tantos outros, no passado da história da Igreja e no presente, estão privados da eucaristia. Este é um tempo em que podemos sentir-nos solidários com todos eles.

Mas o sentimento de privação entende-se a tantas coisas que gostamos de fazer e que não podemos; seria uma lista longa.

O deserto evoca também a experiência de incerteza. No deserto não há caminhos traçados, nem certezas humanas de chegar ao destino: muitos sentem medo, tristeza, e até alguma desorientação interior.

A grande pergunta que se impõe: pode o deserto fazer sentido? podemos viver o deserto com um olhar diferente?

Na sua caminhada pelo deserto, o povo de Deus caiu frequentemente no desânimo e na descrença. Os textos bíblicos dizem-nos que fruto desses sentimentos, surgiam as murmurações, as lamentações, as queixas. O povo murmurava contra Deus, contra Moisés, contra tudo e contra todos…

Também a nós nos pode suceder o mesmo na situação atual. Podemos revoltar-nos contra Deus, acusando-O de nada fazer para resolver esta situação… e esquecemo-nos que o próprio Jesus rejeitou a tentação do demónio, que o queria induzir a procurar soluções simplistas ou mágicas; e que rejeitou a proposta dos que assistiam à sua crucifixão para descer da cruz: mostrou que era Deus, sofrendo!

A murmuração pode continuar contra os outros: contra as autoridades políticas – pelo que fazem ou pelo que deviam fazer – ; contra as autoridades eclesiais, como alguns que caem na soberbia de achar que têm ‘mais fé’ que os Bispos ou que o próprio Papa, esquecendo-se que essa ‘mais fé’ que acham que têm não é outra coisa que superstição e uma procura de uma fé milagreira, contrária ao que vemos em Jesus Cristo.

Nestes dias de estar fechados em casa, também existe a possibilidade da murmuração do esposo contra a esposa e vice-versa, ou dos filhos entre si e contra os pais. Certamente que não é fácil conviver muito tempo seguido no mesmo espaço limitado.

A lista das murmurações, das lamentações, das queixas, podia ser ainda mais comprida. Mas o que deixa a murmuração nos nossos corações e no coração dos outros? Tristeza, ressabiamento, falta de esperança, fechamento em nós próprios… Tudo isso só nos destrói!

Por isso, o Povo de Deus, no meio da provação, não deixou de fazer algo que para nós é essencial neste momento: descobrir que Deus está connosco. Porque nos ama, porque somos todos, e cada um, amados por Ele, Ele nunca nos abandona. Faz caminho connosco!

Há um verdadeiro milagre que podemos e devemos pedir nestes dias: que Ele abra o nosso olhar interior para O reconhecermos a caminhar connosco! É um milagre e dos grandes! O evangelho deste domingo convida-nos a ter esse desejo de ver, de ver com o coração de reconhecê-lo caminhando connosco. Aquele que caminhou em direção à paixão, percorre este caminho de paixão connosco. Não tenhamos dúvidas!

Já enquanto caminhava pelo deserto e mais ainda depois, o povo de Israel soube reconhecer a presença de Deus que nunca o abandonara. Reconheceu que a experiência do deserto o tinha tornado ‘povo’, que o tinha purificado e ajudado a viver num modo diferente. Também o nosso deserto nos ajudará certamente a valorizar coisas que antes dávamos por adquiridas, a sentir-nos agradecidos por coisas tão simples que antes nos pareciam óbvias, mas que agora nos faltam. Tenho a certeza de que a nossa escala de valores se vai alterar…

Como o cego de nascença do evangelho deste domingo, se nos deixarmos tocar por Jesus, passaremos a ter um olhar diferente sobre nós próprios, sobre os outros, sobre o que nos rodeia. Seremos mais conscientes da nossa fragilidade, mas deixaremos a esperança encher os nossos corações. Essa esperança que lança uma luz nova sobre tudo.

Tendo Deus connosco, com um olhar novo, seremos também mais sensíveis ao sofrimento dos outros. Estaremos dispostos ao que for necessário pelo bem dos mais frágeis. Até o ficar em casa, como nos recordava hoje o nosso Bispo na celebração da eucaristia transmitida na internet, torna-se num ato de amor aos outros.

Nestes dias, não deixemos de avivar a nossa fé, que tudo ilumina com uma nova luz. A falta da celebração da eucaristia pode ajudar-nos a descobrir o valor e a centralidade da Palavra de Deus, tantas vezes relegada para um lugar inferior. Graças à tecnologia, podemos ter acesso a tantas coisas que nos podem ajudar a encontrar Deus e a estar com ele. Tantas propostas como as que encontramos no site da Diocese e em tantos outros. É tempo de sermos criativos e tenho a certeza que a nossa vida espiritual crescerá!

Com o exemplo do povo de Israel no deserto, também nós havemos de chegar à Terra prometida. Vivamos iluminados por esta esperança; sejamos ativos no amor aos que de nós mais possam precisar, com o olhar sempre posto no Senhor, Bom Pastor que nos guia. Não deixemos de rezar pelos que incansavelmente se desgastam nos cuidados de saúde, por todos os que nas mais variadas profissões ou em voluntariado, tudo fazem para continuarmos a ter o que necessitamos para viver.

Estejamos atentos às várias propostas que o Santo Padre e o nosso Bispo nos vão fazendo, como a renovação da consagração do nosso país ao Sagrado Coração de Jesus e ao Coração Imaculado de Maria, já na próxima quarta-feira ou a oração contemporânea do Pai-nosso nesse mesmo dia, proposta pelo Papa Francisco. Unamo-nos as estas iniciativas e a outras que forem sendo propostas.

Àqueles que não poderão ter acesso a esta mensagem, por não disporem de acesso ao mundo da internet, peço que lhes façam chegar a minha saudação amiga, de pastor e irmão. A todos, continuo a ter-vos no coração e sei que caminhamos juntos, com a ajuda de Nossa Senhora, que percorreu tantas incertezas e provas na Sua vida, mas soube sempre que Deus estava com Ela. Que Ela nos ajude e que Deus vos abençoe.

23 de março de 2020

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