Memória da fundação de A Voz do Domingo

Na edição desta semana (13.03.2014) do semanário diocesano Presente Leiria-Fátima evoca-se o 81.º aniversário da fundação do jornal A Voz do Domingo. Publicamos também aqui essa memória.

Com esta mesma formulação de título, publicámos na primeira edição de outubro de 2013 um trabalho relativo ao jornal O Mensageiro, fundado no dia 7 desse mês de 1914. O semanário diocesano Presente Leiria-Fátima veio assumir a continuidade da sua missão, desde 30 de maio do ano passado, e evocava assim o legado histórico que herdou.

O mesmo aconteceu com o semanário A Voz do Domingo, fundado a 19 de março de 1933. Tendo sido criado com o propósito de ser o órgão diocesano, foi precisamente sobre o seu registo e continuando a sua numeração que continuámos caminho, numa mesma missão de evangelizar e servir pastoralmente esta Igreja particular de Leiria-Fátima.

Para este trabalho, além da consulta de alguns jornais, foi preciosa a colaboração do padre Joaquim Domingues Gaspar, que foi diretor de A Voz do Domingo entre 1977 e 2013. Agradecemos, em especial, o texto gentilmente cedido da sua intervenção na sessão comemorativa do centenário do nascimento do padre José Galamba de Oliveira, em Fátima, no dia 27 de setembro de 2003.

A fundação (o fundador)

Para falar da fundação deste jornal, teremos de começar por falar do fundador (foto ao lado).

O padre José Galamba de Oliveira nasceu a 4 de fevereiro de 1903, no lugar de Aldeia Nova, freguesia do Olival, concelho de Ourém. Entra no Seminário Patriarcal de Santarém em 1914 e parte para a Universidade Gregoriana de Roma em 1919, onde conclui o doutoramento em Filosofia e o bacharelato em Teologia. A 11 de julho de 1926 é ordenado presbítero na Sé de Leiria, em 1943 seria nomeado Cónego da Sé de Leiria e em 1983 receberia a nomeação de Monsenhor. Faleceu a 25 de setembro de 1984.

Entre um vasto e rico currículo de ação pastoral na diocese de Leiria, foi prefeito e professor do Seminário de Leiria e em diversas escolas da cidade, dinamizador da Acção Católica, do escutismo e da imprensa regional e deixa como legado duas grandes instituições: o semanário A Voz do Domingo, que funda em 19 de março de 1933, e a Escola de Formação Social e Rural de Leiria, fundada em 1956.

“Tinha um temperamento misto de ativo exuberante ou ‘colérico’ e de apaixonado”, lembra o padre Domingues Gaspar, acrescentando “uma formação intelectual, moral e religiosa brilhante”. Prova disso são os escritos que irá publicar ao longo da vida, “de fino recorte literário, de elevado pensamento, revelando muita cultura, ciência teológica, visão dos problemas e da sua resolução, defesa intransigente da verdade e solicitude pela causa de Deus e da Igreja e o bem dos homens”. É sobretudo neles que se descobre “a sua verticalidade, encarando de frente as pessoas e as mais diversas situações, (…) o palpitar do seu coração, o fulgor da sua inteligência e a rijeza da sua vontade”.

A fundação (o jornal)

É, portanto, da “paixão” e do sentido de missão evangelizadora que nasce no padre José Galamba a ideia de fundar “um semanário católico que seguisse a orientação da Igreja”, como refere em entrevista publicada na edição comemorativa dos 50 anos do jornal, a 19 de março de 1983. Aí conta que “desde muito novo, ainda seminarista, em Santarém, sentia inclinação para escrever” e esclarece os primeiros passos de A Voz do Domingo: “Formava-se às vezes na Câmara Eclesiástica uma pequena tertúlia com o então Pe. Góis, secretário da mesma Câmara, e o Pe. Silva, tesoureiro, e um dos assuntos que vieram à baila foi essa necessidade. Certo dia, metemo-nos a caminho e fomos ao paço a pôr a ideia ao Senhor Bispo. Se ele havia sido da direcção do grande jornal católico e monárquico do Porto A Palavra, iria decerto acarinhar a ideia…”.

Na mesma entrevista, o padre Galamba confessa que a primeira reação do Bispo D. José “foi um balde de água fria”, rejeitando a ideia por ser “necessário muito trabalho, dinheiro, colaboradores e assinantes”. Mas… “passado cerca de um ano, mandou-nos chamar. E, com o ar mais natural deste mundo, diz-nos – Sabem? Tenho estado a pensar que precisamos dum jornal católico na diocese. E gostava de saber a vossa opinião”. A opinião era óbvia e o Bispo logo tomou a decisão: “Então o senhor fica Director. E o P. Silva, Administrador. Que seja um jornal barato, bem feito, para o povo, de forma que toda a gente o compreenda e o possa comprar”.

Quanto ao título, “queríamos O Domingo, mas não pudemos porque já havia, não sei onde, outro jornal com esse nome. Ficou A Voz do Domingo”.

A primeira edição surgiria a 19 de março de 1933, identificando-se em subtítulo como “semanário católico de propaganda religiosa e noticioso”. O diretor, proprietário e editor era o padre José Galamba de Oliveira, mas o administrador seria António Luís Fernandes e não o padre Silva.

Missão eclesial… e não só

Quando foi fundada, a missão de A Voz do Domingo era claramente ser “um jornal da diocese”, como afirma o fundador na referida entrevista, lembrando que já existia O Mensageiro, também católico, mas que “era também um jornal monárquico e, mais do que diocesano, era o defensor dos interesses do distrito de Leiria”. Sobre a polémica logo espoletada de um surgir para “matar” o outro, respondia o padre Galamba que “em breve se viu que isso não tinha fundamento”.

Em “O programa de A Voz do Domingo” assinado pelo Bispo de Leiria na primeira página do primeiro número, dizia-se que seria “a voz do Senhor espalhando por toda a parte os ensinamentos da nossa santa Religião”, mas também “a voz da nossa querida Pátria, cujas glórias teem na nossa terra padrões de grandeza imorredoira”, e ainda “as vozes dos nossos antepassados, cujas crenças e sentimentos nobres procurará transmitir às novas gerações”. E concluía: “A par dos conhecimentos históricos, A Voz do Domingo não se desinteressará do presente [curiosa palavra…], de tudo quanto concorra para o progresso espiritual e material da nossa Diocese, das suas obras e instituições”. Num apontamento de redação dessa edição, dizia-se ainda que “qualquer notícia interessante que saibam pelas suas freguesias, contem-na aos colectores de A Voz do Domingo ou mandem-na num simples bilhete postal. E não fiquem zangados se cá o nosso capataz entender que a não deve publicar. Olhem que não é por mal. Não se esqueçam!”.

Portanto, história e atualidade, não apenas da Igreja, mas também da Pátria. Olhar diocesano e local, com a atualíssima recomendação do envio de notícias das paróquias e o aviso de que nem tudo será publicável. Como resume o padre Domingues Gaspar: “O Dr. Galamba de Oliveira falava de tudo, escrevia sobre tudo, e escrevia com coragem, sem medo. (…) Tão depressa falava da juventude como do escutismo, da Igreja ou da Acção Católica, dos grandes homens ou do Calvário e do Tabor, da família ou do domingo, do Comunismo ou de Jesus Cristo, de Nossa Senhora ou da mulher, da morte como do Natal de hoje e de sempre, da Ressurreição e da vida nova, da Eucaristia como da vivência da Fé, das missões ou da vida moderna, da acção pastoral ou do mês do Rosário, do Seminário ou da Pátria”.

História que continua

Na edição de 16 de junho de 1974, o cónego Galamba publica a sua “Despedida”, informando que “é esta a última vez que A Voz do Domingo sai sob a minha responsabilidade de Director, a última vez que o meu nome se insere no seu cabeçalho”. Precipitou essa decisão uma polémica reunião do Conselho Presbiteral, onde se acusava o jornal de ser “de tipo reaccionário”, demasiado “personalizado” e dando “uma falsa imagem da Igreja de Leiria”. O Conselho alvitrava que “é necessário arranjar um corpo redactorial

com possibilidades de criticar o jornal e de o orientar, constituído por gente nova, sacerdotes e leigos, de vários sectores, (…) escolhendo um homem novo para chefe de equipa”. Magoado, o diretor faz uma extensa defesa da sua honra e anuncia o abandono.

Na edição seguinte, o Bispo diocesano, D. Alberto Cosme do Amaral, afirma a “dolorosa surpresa” que teve ao saber pelo jornal a decisão do ex-diretor, elogiando a sua “personalidade muito rica”, o “espírito de criatividade”, o “talento de escritor”, entre outros “dons” que eram merecedores do “reconhecimento da Diocese”. E apela “para todos quantos possam ajudar o Semanário Diocesano a realizar, cada vez melhor, a sua missão, congregando esforços e talentos que, mesmo muitos, não serão demais”.

O padre Henrique Fernandes da Fonseca assume a direção interinamente até 25 de agosto de 1974, quando surge a apresentação do novo diretor, o padre Augusto Ascenso Pascoal, que iria manter-se nesta função até outubro de 1977.

É então que surge a nomeação como diretor do padre Joaquim Domingues Gaspar, que aparecia já como chefe de redação desde dezembro de 1974. Nascido a 12 de dezembro de 1928, em Monte Redondo, entrou para o Seminário de Leiria a 15 de outubro de 1940 e foi ordenado sacerdote em 29 de junho de 1951. Entre diversos outros serviços eclesiais, esta iria ser a grande missão da sua vida, levada a cabo até 19 de maio de 2013, quando este título passou a ser Presente Leiria-Fátima e para ele foi nomeado diretor o leigo Carlos Carvalho. Na primeira página dessa última edição (n.º 4130), sob o título “Terminar…”, o padre Gaspar despede-se dos leitores, agradece aos colaboradores de tantos anos e conclui desta forma: “Vamos TERMINAR a publicação de A Voz do Domingo. Que o PRESENTE que se avizinha seja por todos acarinhado para que a Diocese «tenha finalmente o jornal de que precisa»”.

No dia 30 de maio, surgia a primeira edição do PRESENTE, com o n.º 4131.

E, assim, a história continua…

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