A oração é uma atitude vital do crente e indispensável como expressão necessária e natural para a sua relação com Deus. Se isto é verdade em todos os tempos e lugares, torna-se mais evidente na Quaresma, em que se multiplicam as ocasiões, iniciativas e celebrações que levam a intensificar a oração, tal como a penitência e a formação espiritual.
O ritmo litúrgico alia-se à piedade popular para tornar este “tempo favorável” à interioridade e à “conversa” pessoal e comunitária com Deus. A preparação para a Páscoa leva os párocos a uma atenção especial às necessidade espirituais dos fiéis, por exemplo, com a celebração mais frequente do sacramento da Confissão. Exercícios espirituais como a leitura orante da Palavra de Deus, a adoração ao Santíssimo ou a Via-Sacra surgem espontaneamente nas igrejas, motivados pelo foco na Paixão do Senhor, rumo à Páscoa da Ressurreição.
Em algumas paróquias, há tradições de maior visibilidade que atraem muitos fiéis, como as procissões dos Passos e as pregações ou catequeses quaresmais. Noutras, um simples cuidado acrescido na preparação das celebrações litúrgicas evidencia essa preocupação de melhor vivência espiritual neste tempo. Podemos dizer que os cristãos parecem mais confiantes nas palavras de Cristo: “Tudo o que pedirdes na oração vos será concedido” (Mt 21, 22).
“24 horas para o Senhor”
Na sua mensagem para a Quaresma deste ano, o Papa Francisco alertava para a “tentação da indiferença” perante o sofrimento humano e sublinhava “a força da oração de muitos” para aliviar os que sofrem. Apresentou então a iniciativa “24 horas para o Senhor”, pedindo que “se celebre em toda a Igreja – mesmo a nível diocesano – nos dias 13 e 14 de Março”, para “dar expressão a esta necessidade da oração”.
O Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, reforçou este pedido na sua mensagem quaresmal: “Peço que cada comunidade responda a este convite do Papa, organizando da melhor forma tal iniciativa, sobretudo a nível paroquial”.
Algumas paróquias organizaram programas específicos para esta iniciativa, mesmo que para um período inferior às 24 horas, normalmente sob a forma de tempos de adoração ao Santíssimo Sacramento. Contactámos alguns párocos e verificámos na sua maioria a adesão a esta proposta, mas também encontrámos quem ainda a desconhecesse.
Apresentamos alguns exemplos, a partir de informações enviadas ou publicadas e de alguns dos contactos efetuados:
No Alqueidão da Serra, o Santíssimo estará exposto das 00h00 às 24h00 de sábado, na igreja paroquial. Além disso, haverá adoração na igreja dos Bouceiros, das 09h00 às 18h30, no Casal Duro, das 09h30 às 17h00. Na igreja paroquial de Alcaria, o tempo para a adoração será das 10h00 às 18h00. “Estamos a tentar envolver a catequese e outros grupos e movimentos, para que seja garantida a presença permanente de pessoas”, refere o pároco, padre Manuel Pina Pedro.
Em Pataias, a adoração ao Santíssimo Sacramento inicia-se às 18h00 de sexta-feira e culmina com a bênção, às 18h45 de sábado. No boletim paroquial, indicam-se ainda alguns horários de Confissões neste período, “para crianças e outros que desejem celebrar o Perdão”.
Na paróquia da Maceira, o Santíssimo Sacramento será exposto na igreja paroquial às 10h00 de sexta-feira, estando programados durante o dia os seguintes atos comunitários: Terço às 11h00, Ângelus às 12h00, Terço da Divina Misericórdia às 15h00 e oração de louvor e ação de graças, com bênção às 18h30. Haverá ainda Missa às 19h30 e Shemá para jovens às 21h30. Nos avisos paroquiais, o padre Marcelo Cavalcante pede “a todos os paroquianos que puderem, que passem durante a sexta-feira pela igreja paroquial para fazer companhia ao Senhor” e informa que também com a Solenidade do Senhor dos Passos, que se realiza no sábado, “participaremos com alegria nessa iniciativa”.
Na Marinha Grande, será promovida uma tarde de oração na igreja paroquial, na sexta-feira, com exposição do Santíssimo às 15h00 e adoração comunitária a partir das 18h00, até à Missa das 19h00.
Na igreja da Bidoeira de Baixo estão unidas em oração as paróquias de Bidoeira e Milagres, com o Santíssimo exposto e em adoração, das 20h30 de sexta-feira até às 22h00 de sábado.
Na igreja paroquial da Boa Vista, haverá oração na sexta-feira, das 18h30 às 21h00, com terço, via-sacra, celebração da Penitência, Missa e adoração eucarística, indica o sítio paroquiaboavista.blogspot.pt.
Em Monte Real, haverá adoração ao Santíssimo Sacramento, na igreja paroquial, com início após a Missa das 19h00 de sexta-feira e a terminar com a Missa de sábado, à mesma hora. “Os momentos de adoração serão dinamizados pelos diferentes movimentos da paróquia e estarão abertos a toda a comunidade”, informa o sítio paroquiademontereal.blogspot.pt.
O padre José Luís Ferreira considera interessante a iniciativa e está a ponderar a sua realização numa outra data em Seiça, dado que a paróquia está a preparar o Dia do Doente para o próximo domingo. Ainda assim, haverá uma hora de adoração ao Santíssimo nesse dia, iniciativa que promove uma vez por mês, rotativamente, em cada igreja. Já em Alburitel, “não haverá condições para garantir uma iniciativa deste género”.
Também o Santuário de Fátima se associa à iniciativa, anunciando no seu portal que os vários momentos de oração e de celebração do programa oficial diário terão esta intenção, desde a Adoração ao Santíssimo Sacramento, às 17h30 do dia 13, até ao Rosário das 21h30, no dia 14.
Retiro Popular
O retiro popular que o Bispo diocesano tem proposto anualmente na Quaresma é também uma oportunidade para a oração, a meditação e o aprofundamento espiritual. Na sua base está o método da leitura orante da palavra de Deus (lectio divina), preferencialmente em grupo, mas também possível de realizar individualmente. Este ano, último do biénio sobre a família, é esse o tema central dos seis temas do guião.
Pelas estimativas de livros distribuídos, serão cerca de 6.000 os diocesanos que o fazem. Nalgumas paróquias promovem-se sessões em comunidade, normalmente na igreja, noutras incentiva-se a criação de grupos “domésticos”, entre famílias ou amigos, noutras ainda motivam-se os grupos já existentes, de catequistas, movimentos, cantores ou outros agentes de serviços pastorais. Há párocos que apostam num trabalho mais direcionado para os jovens, outros usam este guião como proposta para uma catequese de adultos em grande escala. E há as que desperdiçam a oportunidade…
O importante é que seja um exercício de “escuta de Deus, de meditação e de experiência da fé, que implica a pessoa toda, a mente e o coração”, pois a sua finalidade é “alimentar e revigorar a fé, ajudar a viver melhor a relação pessoal com Deus e conduzir à experiência da beleza da fé, à comunhão fraterna, ao compromisso maduro da vida cristã, na Igreja e no mundo, e ao testemunho do amor de Deus no quotidiano”, como refere D. António na introdução ao guião.
Por isso, mesmo quem não teve ocasião durante a Quaresma, poderá fazê-lo com proveito a qualquer momento. Está disponível neste portal.
O que é a oração
Oração é um ato religioso de ligação com Deus, sob a forma de pedido, agradecimento, reconhecimento ou louvor. Individual ou comunitária, espontânea ou ritual, com palavras, músicas ou silêncios, deve ser sempre “uma conversa com um amigo, com quem nos encontramos frequentemente e com quem gostamos de conversar, porque sabemos que ele nos ama”, como definia Madre Teresa de Calcutá. Quem não crê pode também ter a sua expressão de oração, sobretudo como desejo de conhecer a Deus e de súplica para que Ele se manifeste e o encontro possa acontecer.
Para os cristãos, a oração é, desde logo, um dom da graça de Deus, que toma a iniciativa de vir ao seu encontro e permitir essa relação pessoal e viva com Ele. É, também, a expressão mais espontânea do desejo de Deus por parte do homem, como é evidente a cada passo do Antigo Testamento e, sobretudo, da vida de Jesus Cristo e da sua íntima comunhão com o Pai. E, se Ele foi o grande mestre e nos deixou a mais perfeita das orações, o Pai-Nosso, deixou-nos também o Espírito Santo: só com a sua inspiração e pela sua ação em nós podemos verdadeiramente rezar.
Por isso, não há desculpa para não rezar. Como escrevia o Papa Bento XVI no catecismo para os jovens (Youcat), “se não souberem como hão de rezar, então peçam-Lhe que vos ensine, e peçam à Sua Santíssima Mãe que reze convosco e reze por vós”. Sim, porque se toda a oração se dirige a Deus, ela pode também ter mediadores, como Maria ou os Santos, a quem pedimos que intercedam por nós. Mais uma vez, o importante é que se faça.