Luz e sombras na própria consciência

O Concílio Vaticano II define a consciência como «o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz ressoa na intimidade do seu ser» (GS 16).

A propósito da terapia do perdão, alguém me fez perguntas sobre a consciência, a importância do seu exame diário e o modo de o fazer.

O Concílio Vaticano II define a consciência como «o núcleo mais secreto e o sacrário do homem, no qual ele se encontra a sós com Deus, cuja voz ressoa na intimidade do seu ser» (GS 16). Trata-se, portanto, de uma realidade presente no coração humano, onde Deus se manifesta e a pessoa encontra luz e ouve uma voz interior que a guia na sua vida, nas decisões e nos seus atos em ordem ao amor, ao bem e à verdade. Por isso, alguém recomenda: “Preocupe-se mais com a sua consciência do que com a sua reputação, porque a sua consciência é o que você é, e a sua reputação é o que os outros pensam de você”. E o que os outros pensam é problema deles” (John Wooden).

A consciência tem uma importância determinante na vida de cada um de nós. É nela que se revela o que realmente somos, a nossa dignidade, e os valores que nos guiam na vida. Por isso, é muito importante formar na verdade, cuidar vigilantemente e escutar diligentemente a própria consciência, o íntimo do coração. Escreve o Dalai Lama, líder budista: “Seja qual for a sua aparência exterior, ou aquilo que os outros pensam de si, a coisa mais importante é que se mantenha testemunha de si mesmo para evitar pesares e remorsos. E, de tempos a tempos, faça um exame interior de consciência”.  O Papa Francisco vai mais longe e recomenda o exercício quotidiano de examinar a próprio coração, que é o mesmo que a consciência: “Conhecer o que acontece no coração. Se nós não fizermos isto, se nós não soubermos o que acontece no nosso coração – e isto não o digo eu, di-lo a Bíblia – somos como os ‘animais que não entendem nada’, vão para a frente com o instinto. Mas nós não somos animais, somos Filhos de Deus, batizados com o dom do Espírito Santo. Por isso, é importante entender o que aconteceu hoje no meu coração. Que o Senhor nos ensine a fazer sempre, todos os dias, o exame de consciência” (Papa Francisco, 4/9/2018).

Assim sendo, para o próprio crescimento espiritual e moral, é muito útil fazer diariamente o exame de consciência. Trata-se não tanto de fazer o autojulgamento e censura ou aprovação “de pensamentos, palavras, atos ou omissões”, mas de colocar-se diante de Deus que nos ama e quer ver-nos felizes. É recolher-se e olhar para dentro de si próprio e aí escutar a voz íntima que nos sussurra o amor de Deus por nós, revela a beleza e sentido da vida, ilumina e ajuda a descobrir a verdade e a mentira, o bem e o mal dos nossos caminhos e comportamentos… Ajuda-nos a tomar consciência das nossas virtudes e talentos, mas igualmente das fragilidades e fraquezas, das incoerências, insensibilidades…

O exame de consciência é como ir a uma consulta médica, em que o médico é Deus: agradecemos o amor e cuidado que tem connosco e contamos aquilo que nos dói, as nossas mazelas e preocupações… e ouvimos o que Ele nos diz ou inspira pela sua palavra, no íntimo do nosso coração… A sua voz não é de acusação ou culpabilização, mas de acolhimento e evocação do que tem em comum connosco… Lembremo-nos da parábola evangélica, de como reagiu o pai do filho pródigo, quando acolheu este e foi ao encontro do irmão mais velho: “Filho, tudo o que é meu é teu… Mas tínhamos de fazer uma festa e alegrar-nos, porque o teu irmão estava morto e voltou à vida, estava perdido e foi reencontrado…” (Lc 15, 31-32). Este exercício diário ou periódico é assim um encontro com Deus como nosso Pai, no santuário do nosso coração, para que ilumine e oriente, ou até nos leve a corrigir, o rumo e os esforços para crescermos e nos melhorarmos como pessoas na relação com Ele, connosco próprios e com os nossos irmãos em humanidade.

Neste exercício espiritual, é muito útil ter presente a palavra de Deus. Quando Jesus a proclamava, havia pessoas que ficavam entusiasmadas e louvavam a Deus… Outros ficavam a julgar e censurar Jesus no seu íntimo… e outros ainda reagiam ao que Jesus dizia, sentindo-se atingidos pelas suas palavras… O mesmo faz em nós a palavra de Deus, quando a lemos em atitude de oração. Ela revela-nos o amor de Deus e indica-nos os retos caminhos para a nossa vida, fazendo-nos também perceber resistências e desvios. É um esforço, sem dúvida. Mas é sobretudo uma graça espiritual que nos ajuda a sermos melhores e a vivermos mais em conformidade com a nossa dignidade e vocação humana e divina.

Como fazer o exame de consciência diário? Há vários modos. Indico o que me parece mais simples: imaginar-se diante de Deus e, com humildade e confiança, olhar para dentro de si próprio, para o seu coração e a sua vida e perguntar-se como viveu hoje o amor a Deus, ao próximo e a si mesmo. Tentar ser concreto na identificação dos pontos positivos, dos negativos e do que se pode melhorar ou corrigir. Depois, agradecer o positivo, pedir perdão para o negativo e ajuda para ser melhor. Por fim, fixar um ponto em que se vai esforçar por melhorar no dia seguinte.

Na presença de Deus, na humildade e na confiança na sua misericórdia, como escreve S. João, “sentir-se-á tranquilo o nosso coração, mesmo quando o coração nos acuse; pois Deus é maior que o nosso coração e conhece tudo.” Melhor será ainda “se o coração não nos acusa”, pois “então temos plena confiança diante de Deus, e recebemos dele tudo o que pedirmos, porque guardamos os seus mandamentos e fazemos o que lhe é agradável” (ver 1 Jo 3, 19-22).

Fazer bem o exame de consciência ajuda-nos a crescermos interiormente e a sermos mais livres de tudo o que nos condiciona e aprisiona e a orientarmos com determinação o rumo da nossa vida pelos valores mais preciosos, segundo Deus.

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