Jesus é o nosso líder espiritual
Lectio divina para o Domingo IV da Páscoa, 25 de abril de 2021
Breve introdução
Neste IV domingo da Páscoa, Jesus apresenta-se como o “o Bom Pastor”. A imagem designava, no Antigo Testamento, os líderes políticos e religiosos, mas também o próprio Deus (cf Ez 34; Sl 23 e 79,13). Na boca de Jesus, exprime a sua relação connosco, o amor com que cuida de nós, nos reúne e guia. A sua liderança cativa, motiva e conduz a uma vida boa e bela, em comunhão com Ele e com os seus discípulos, a Igreja.
Neste domingo do “Bom Pastor”, celebra-se também o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Na sua mensagem, o Papa Francisco indica como exemplo de vocação a figura de S. José, “tão próxima da condição humana de cada um de nós”. Ele, “através da sua vida normal, realizou algo de extraordinário aos olhos de Deus”, tornando-se “capaz de dar e gerar vida no dia a dia”, como é de esperar de cada uma das vocações cristãs. É essa vida com Deus que procuramos através da leitura orante da Sua Palavra.
1. Invocação
SENHOR, Tu és meu pastor: nada me falta.
Em verdes prados me fazes descansar
e me conduzes às águas refrescantes.
Reconforta a minha alma
e guia-me por caminhos retos, por amor do teu nome.
Ainda que atravesse vales tenebrosos,
de nenhum mal terei medo
porque Tu estás comigo.
A tua vara e o teu cajado dão-me confiança.
Preparas a mesa para mim
à vista dos meus inimigos;
ungiste com óleo a minha cabeça;
a minha taça transbordou.
Na verdade, a tua bondade e o teu amor
hão-de acompanhar-me todos os dias da minha vida,
e habitarei na tua casa para todo o sempre. (cf Sl 23)
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo S. João
Jesus define-se como “Bom Pastor”, cuja voz, ao contrário de outras, é reconhecida pelas ovelhas. Estas escutam-no, porque ele as conhece e chama “uma a uma pelos seus nomes”, seguem-no e Ele os leva a boas pastagens (cf Jo 10, 1-10). Na passagem que vamos ler, Jesus, o “Bom Pastor”, contrapõe-se aos mercenários, ou seja, aos assalariados, aos que têm com as ovelhas não uma relação de amor mas de trabalho, de funcionário, de interesse pessoal. Como é e age Jesus em relação a nós?
2. 2. Leitura do Evangelho segundo São João (Jo 10, 11-18)
Naquele tempo, disse Jesus.
«Eu sou o Bom Pastor.
O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.
O mercenário, como não é pastor, nem são suas as ovelhas,
logo que vê vir o lobo, deixa as ovelhas e foge,
enquanto o lobo as arrebata e dispersa.
O mercenário não se preocupa com as ovelhas.
Eu sou o Bom Pastor:
conheço as minhas ovelhas
e as minhas ovelhas conhecem-Me,
do mesmo modo que o Pai Me conhece e Eu conheço o Pai;
Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas.
Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil
e preciso de as reunir;
elas ouvirão a minha voz
e haverá um só rebanho e um só Pastor.
Por isso o Pai Me ama:
porque dou a minha vida, para poder retomá-la.
Ninguém Ma tira, sou Eu que a dou espontaneamente.
Tenho o poder de a dar e de a retomar:
foi este o mandamento que recebi de meu Pai».
(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)
2.3. Breve comentário
A imagem do Bom Pastor exprime a identidade, a missão e o modo como Jesus a vive na relação com o Pai e com os homens. Tudo o que diz e faz para estes é para que “tenham vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).
A referência fundamental da identidade e da missão de Jesus é a sua relação com o Pai. Esta relação é expressa em termos de conhecimento, que significa de recíproco amor e profunda comunhão. O amor do e ao Pai é para Jesus a fonte da sua vida e da sua livre vontade na entrega de si próprio. Em plena liberdade, união e cooperação com a vontade do Pai, Jesus encara a sua morte como dom da sua vida e a ressurreição como poder de a retomar que dele recebeu.
É desta relação íntima com o Pai que Jesus vive a sua missão em favor dos homens. Para Ele, o bom pastor é o que ama as ovelhas, as conhece, guia, cuida, alimenta e protege, a ponto de dar a sua vida por elas. Jesus não se fecha no seu rebanho, mas deseja congregar também todas as demais para que também elas O conheçam, recebam o seu amor e O sigam como Pastor, aceitando a sua liderança espiritual. Envolvidas por um tal amor, as próprias ovelhas ouvem a voz do Bom Pastor, reconhecem-no e seguem-no com confiança e amor. E Ele as conduz ao Pai, para viverem na plenitude a comunhão eterna com Ele e com os anjos e santos.
Jesus continua hoje a oferecer-se como Bom Pastor para a humanidade, para ser o seu líder espiritual, o seu guia. Fá-lo com o seu Evangelho, para revelar aos homens o amor de Deus e a fonte da verdadeira vida. Aos que O recebem, escutam a sua voz e entram a fazer parte da Sua Igreja (o seu rebanho), Ele os alimenta com a Eucaristia. Por este sacramento, Jesus dá a sua vida em comunhão aos seus discípulos e gera entre eles vínculos de fraternidade: “eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas”. E também por toda a humanidade, que Ele quer congregar no amor do único Pai celeste como uma só família.
3. Silêncio meditativo e diálogo
- «Eu sou o Bom Pastor. O bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas.»
Jesus apresenta-se como Bom Pastor. Podemos traduzir esta imagem com a palavra líder, hoje tão em moda. De facto, Jesus é alguém que cativa, inspira, motiva e guia no caminho para Deus. Com Ele acedemos a uma vida de alegria, confiança e esperança. Ele conhece as nossas necessidades e anseios, as fragilidades que nos atrapalham e as ilusões que nos cegam, as nossas buscas e os sonhos que acalentamos. Ele convida-os a uma relação pessoal e a caminharmos na vida guiados por Ele…
Que me diz e inspira a imagem de Jesus como Bom Pastor?
Sinto-me alguém que deseja e busca um líder espiritual para a própria vida?
Vivo uma relação pessoal com Jesus Cristo e reconheço o seu amor por mim?
- «O mercenário não se preocupa com as ovelhas.»
Jesus não é um pastor ou líder distante. Nem um funcionário que só trabalha por interesse ou se quer aproveitar de nós ou do que temos. Não se ocupa de nós por algum tempo, quando lhe convém ou é agradável. Ele faz-se próximo, caminha connosco sempre, guia-nos e nunca nos abandona, façamos nós o que fizermos, mesmo que lhe viremos as costas e nos esqueçamos dele. Ele ama-nos, escuta-nos e cuida de nós sempre, nas alegrias e tristezas, nas acalmias e nas tempestades, nos êxitos e nos fracassos, na saúde e na doença, na vida e na morte…
Procuro a companhia e ajuda de Jesus a todo o momento?
Na família ou na comunidade cristã, sinto que se preocupam comigo e eu com eles?
Na vocação, no trabalho e na vida social, sou mais bom pastor ou mercenário?
- «Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas.»
A entrega da vida de Jesus por nós concretizada na sua paixão, morte e ressurreição continua. A Eucaristia é a celebração sacramental que a perpetua e atualiza. Na Palavra e na Comunhão, Jesus dá-se a nós, manifestando o seu amor e tornando-se fonte de vida. Quem se alimenta de Jesus, tem-no sempre dentro de si e Ele torna-se em nós força de vida, de amor e de entrega aos outros. “Como eu fiz, fazei-o vós também”: é a graça e a missão que Jesus nos confia para sermos instrumentos para que Ele comunique hoje a sua vida e amor a muitos. Ele continua a dizer-nos: «Tenho ainda outras ovelhas que não são deste redil e preciso de as reunir; elas ouvirão a minha voz e haverá um só rebanho e um só Pastor.»
Participo e vivo a Eucaristia como encontro com Jesus Cristo, fonte de vida boa e bela?
A comunhão com Jesus leva-me a assumir a vida quotidiana e as relações com os outros com amor, doação e espírito de serviço?
Reconheço que Jesus veio para todos e me torna seu missionário junto dos outros?
4. Oração final e gesto familiar
- Individualmente ou em família, pode escrever-se numa folha ou fazer um cartaz com a frase: “Jesus, és o nosso líder. Nós confiamos em ti!”. E colocá-la em lugar visível durante a semana, podendo juntos repetir algumas vezes essa oração simples.
- Para terminar, pode-se rezar a oração do Pai Nosso, começando deste modo: “Jesus, como tu nos ensinaste, ousamos dizer: Pai Nosso…”. Depois, para a Ave-Maria, começar assim: “Maria, ensina-nos a amar e seguir Jesus como tu”. Se se estiver em família ou em comunidade, pode-se eventualmente fazer a oração de mãos dadas.