(Tema 6 do retiro popular: domingo de ramos)
LAVAR OS PÉS: A OUTRA FACE RESPLANDECENTE DA EUCARISTIA
Acolhimento e saudação entre os participantes
1. Invocação do Espírito Santo / Oração inicial
– Invoco a presença de Deus –
1.1. Cântico
Quanta paz e quanto bem,
Quanta alegria nos vem
De vivermos como irmãos!
Assim seja eternamente!
Como a luz que vem de altura
Assim nos enche a ventura,
De vivermos como irmãos!
Assim seja eternamente!
Qual perfume que inebria,
Assim a doce alegria
De vivermos como irmãos!
Assim seja eternamente!
Qual orvalho da manhã,
É a alegria cristã
De vivermos como irmãos!
Assim seja eternamente!
1.2. Prece
Vem, Espírito Santo!
Atravessa a nossa vida
e dá-nos a doçura de dizermos sim à vontade do Pai,
que contigo é Deus.
Vem, Espírito Santo!
Enche os nossos corações
e dá-nos o entendimento para escutarmos o Filho,
que contigo é Deus.
Vem, Espírito Santo!
Habita o nosso ser
e torna-nos partícipes do mistério pascal que celebramos.
Vem, Espírito Santo!
Desce sobre nós e, pelo dom da Eucaristia, faz-nos eucaristia.
Ámen.
2. Leitura da Palavra
– Escuto e compreendo a Palavra que me é oferecida –
2.1. Leitura do Evangelho de São João (13, 1-17)
Antes da festa da Páscoa,
Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora
da passagem deste mundo para o Pai,
Ele, que amara os seus que estavam no mundo,
levou o seu amor por eles até ao extremo.
O diabo já tinha metido no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes,
a decisão de o entregar.
Enquanto celebravam a ceia,
Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo lhe pusera nas mãos,
e que saíra de Deus e para Deus voltava,
levantou-se da mesa, tirou o manto,
tomou uma toalha e atou-a à cintura.
Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos
e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura.
Chegou, pois, a Simão Pedro. Este disse-lhe:
«Senhor, Tu é que me lavas os pés?»
Jesus respondeu-lhe:
«O que Eu estou a fazer tu não o entendes por agora,
mas hás de compreendê-lo depois.»
Disse-lhe Pedro: «Não! Tu nunca me hás de lavar os pés!»
Replicou-lhe Jesus: «Se Eu não te lavar, nada terás a haver comigo.»
Disse-lhe, então, Simão Pedro:
«Ó Senhor! Não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!»
Respondeu-lhe Jesus:
«Quem tomou banho não precisa de lavar senão os pés,
pois está todo limpo.
E vós estais limpos, mas não todos.»
Ele bem sabia quem o ia entregar; por isso é que lhe disse:
‘Nem todos estais limpos’.
Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto,
voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes:
«Compreendeis o que vos fiz?
Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou.
Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés,
também vós deveis lavar os pés uns aos outros.
Na verdade, dei-vos exemplo para que,
assim como Eu fiz, vós façais também.
Em verdade, em verdade vos digo,
não é o servo mais do que o seu Senhor,
nem o enviado mais do que aquele que o envia.
Uma vez que sabeis isto, sereis felizes se o puserdes em prática.»
Palavra do Senhor.
2.2. Leitura pessoal
– Volto a ler, em silêncio: o que diz o texto? –
2.3. Notas para a compreensão do texto
Não sabemos a razão pela qual não encontramos no Evangelho segundo São João o relato da instituição da Eucaristia. Parece que ao evangelista se mostrou suficiente o relato da multiplicação dos pães, no capítulo 6, no qual reúne os elementos fundamentais da instituição da Eucaristia, como nos é relatada pelos outros evangelistas. A opção do autor do Quarto Evangelho mostra-nos, contudo, como as primeiras comunidades encararam o mistério eucarístico e que hoje é muito sublinhado pelo magistério da Igreja e pelos diferentes teólogos: não há Corpo sacramentado sem que a Igreja, enquanto Corpo de Cristo, esteja unida pelos laços do amor. Por esta razão, é o próprio Jesus que, no contexto da ceia pascal — ou primeira Eucaristia — dá um mandamento a que chama novo, o de os seus discípulos se amarem uns aos outros como Ele os ama.
A revolução que este ‘mandatum’ acarreta é de tal ordem que, mesmo naquele cenáculo onde estavam os mais íntimos de Jesus, a comunidade dificilmente está preparada para a entrega até ao fim, de que o lava-pés é clarividente sinal: quando Jesus se entrega pela humanidade no alto da cruz, está a selar esse lava-pés à humanidade, reabilitando-a para a marcha dos que querem branquear-se pelo seu mistério pascal. A Teologia usa a palavra ‘kenosis’ que significa abaixamento para mostrar como Cristo, que era de condição divina, se aniquilou a Si próprio, lavando-nos os pés e, amando-nos até ao fim, morrendo, como o grão de trigo que há de ser novo pão para alimento da humanidade.
Também os seus discípulos serão eucaristia — ação de graças que celebra a entrega amorosa — se assim celebrarem, lavando os pés aos seus irmãos, a Páscoa do Senhor.
3. Meditação pessoal
– Medito interiormente a Palavra acolhida: o que me diz o Senhor? –
«Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo».
Quando nos apercebemos que a palavra “Páscoa” é sinónimo de “passagem”, ilumina-se o nosso entendimento para a perceção de que não há forma de explicar a vivência humana senão através deste antes e depois que, segundo Jesus, tem uma medida muito clara: a do amor até ao fim. Levar o amor até às últimas consequências é a marca decisiva que os cristãos são chamados a viver, em cada momento das suas vidas, como se a respiração devesse depender dessa atitude. Amar até ao extremo é, de facto, seguir o mandamento de Jesus e leva-me a perguntar:
como sinto na minha vida essa identidade que recebi no dia do meu batismo, essa cruz que me lembra a entrega até ao fim daquele me ama e se entregou por mim?
«Levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura».
Ter a intenção de sair do nosso comodismo é já um primeiro passo para ir ao encontro do que o Evangelho ensina. Despojarmo-nos dos mantos que nos dão conforto, dos mantos com que, inclusivamente, os outros nos veem e nos apreciam é sem dúvida o primeiro passo para aceitarmos o compromisso a que o Evangelho nos impele. Ainda mais longe nos leva a atitude de pormos sobre nós uma toalha à cintura que bem simboliza a disponibilidade para servir, pois este serviço é o conforto dos que servimos, a quem lavamos os pés, quando lhos enxugarmos. Amar até ao extremo é, de facto, seguir o mandamento de Jesus e leva-me a perguntar:
sou capaz de me despojar dos mantos em que me envolvo, de atar uma toalha à cintura, de tomar água numa bacia e de ajoelhar perante aquele que é meu irmão?
«Senhor, Tu é que me lavas os pés?»; «Não! Tu nunca me hás de lavar os pés!»
Tantas são as interrogações e tantas são as exclamações perante a atitude do Mestre quando se dispõe a lavar os pés. Não causa admiração o espanto de Pedro perante um escândalo para a mentalidade humana: Deus ajoelha-se perante a humanidade? Deus lava os pés à humanidade? Deus enxuga os pés à humanidade? Amar até ao extremo é, de facto, seguir o mandamento de Jesus e leva-me a perguntar:
que imagem tenho de Deus? a de um Deus distante com um manto real, de coroa brilhante na fronte, cetro de ouro e sentado no trono de poder? ou a de um Deus coroado de espinhos que se entrega no trono da Cruz que se aniquila ao ponto de assumir a condição humana e nos lava os pés para nos dar a vida em ambundância?
«Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também.»
Contém a Sagrada Escritura vários mandamentos que se resumem neste que Jesus apresenta através do exemplo, pois o Cristianismo não é um conjunto de teorias, mas uma maneira de viver segundo o exemplo de Cristo. Jesus, como Mestre, apresenta sempre a mesma aula: assim no seu nascimento, num estábulo à margem da cidade humana, assim quando tocou cada um dos mais frágeis e afastados da sociedade humana, assim na sua morte, quando da entrega derradeira. Aos discípulos pergunta, quando explica uma lição mais, sempre com o conteúdo do amor até ao fim: «compreendeis o que vos fiz?». Amar até ao extremo é, de facto, seguir o mandamento de Jesus e leva-me a perguntar:
compreendo o que Jesus fez por mim? Estou disposto a imitar Jesus com a entrega da minha vida, nas pequenas e nas grandes ações, nos momentos do quotidiano, na família, na escola ou no trabalho, no convívio com os meus vizinhos, nas relações com os meus conhecidos e na forma de conviver com os marginalizados da sociedade? Percebo que é desta entrega que se faz a Eucaristia e que esta entrega é a outra face resplandecente da Eucaristia?
4. Partilha da Palavra
– Partilho com os outros o dom recebido: que posso oferecer-lhes? –
Comunico uma palavra ou frase que me interpelou. Posso também partilhar algo do que rezei na minha intimidade. Esta minha participação deve ser voluntária e breve.
5. Oração
– A partir do que escutei e vivi neste tempo, falo com o Senhor –
Cada um/a faz uma proposta de oração pelos que, na comunidade, mais precisam da entrega até ao fim. Por exemplo:
— Para que o mundo possa lavar os pés aos refugiados.
— Para que dê atenção ao vizinho da minha rua cuja família está mais ausente.
Depois da leitura de um conjunto de propostas canta-se:
Recebemos do Senhor um mandamento novo:
amemo-nos uns aos outros como Ele nos amou. (M. Luís)
6. Compromisso
– A que me convida, hoje, o Senhor? –
O que preside propõe:
Antes de sairmos desta pequena assembleia em que meditámos no Mandamento Novo, façamos, em silêncio, alguns propósitos para iluminarmos o nosso viver com a Eucaristia, a fim de que a nossa vida possa também ela ser eucarística.
No final, todos cantam:
Senhor, vós sois o caminho, a verdade e a vida do mundo (C. Silva)
7. Em casa
– Levo para a vida a mensagem que acolhi –
No seguimento do encontro de grupo, procurarei dedicar algum tempo (15-20 minutos), num ou mais dias da semana, para retomar a meditação e contemplação da Palavra de Deus, em dois momentos:
1. num espaço público, se possível num centro cívico onde passem pessoas, sentando-se a contemplá-las a passar e olhando para elas como aqueles a quem devemos lavar os pés;
2. numa igreja, diante do sacrário, contemplando o mistério de Deus que se faz Eucaristia e que nos convida a lavarmos os pés aos irmãos.