Viver como ressuscitados
Breve introdução
Celebrar a Páscoa não se reduz a cumprir uma tradição social festiva e a participar em ritos litúrgicos solenes. Implica a nossa própria vida, espiritualidade e pertença à comunidade, a partir do acontecimento da paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo e dos seus efeitos sobre os fiéis cristãos.
O batismo é a páscoa pessoal do cristão, ou seja, a sua participação sacramental na morte e ressurreição de Cristo, para receber de Deus uma vida nova. Esta vida é também celebrada e alimentada em cada Eucaristia. Assim, pela fé e a graça de Deus, o cristão deverá assumir um modo de vida de ressuscitado, pascal. É esta mensagem que S. Paulo ensina aos cristãos de Colossos, como ouviremos na liturgia do domingo de Páscoa.
Pelo seu modo de viver pascal, graças à união com Cristo, o cristão caminha confiante, estabelece relações de respeito, amizade e compaixão com os outros, dando testemunho da esperança na vida eterna de que é portador. Assim contribui para transformar o mundo com o espírito do Evangelho.
1. Invocação
Senhor Jesus,
Eu te bendigo pela tua morte e ressurreição!
Tu proclamaste o Evangelho do Reino,
deste a tua vida e retomaste-a,
para nos revelar o poder e o amor de Deus,
que a todos oferece a vida nova e eterna.
Pelo Evangelho, a fé e o batismo,
deste-nos a graça de nos tornarmos filhos do Pai celeste.
Concede-nos aspirar aos bens do alto,
viver dia a dia segundo o teu Espírito
e empenhar-nos, com as famílias e as comunidades cristãs,
na transformação do mundo no sentido da justiça,
da fraternidade entre todos os homens e da paz.
Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem da Carta de S. Paulo aos Colossenses
Da prisão onde estava, Paulo escreve aos cristãos de Colossos, perturbados pela difusão de doutrinas estranhas ao Evangelho, e reafirma a centralidade de Cristo na vida dos seus discípulos e da respetiva comunidade. Recorda-lhes que é preciso viver de modo coerente o compromisso com Cristo, assumido no batismo.
2. 2. Leitura da Carta de S. Paulo aos Colossenses (Cl 3,1-4)
Irmãos:
Se ressuscitastes com Cristo,
aspirai às coisas do alto,
onde Cristo está sentado à direita de Deus.
Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da Terra.
Porque vós morrestes,
e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.
Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar,
também vós vos manifestareis com Ele na glória.
Palavra da salvação
(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)
2.3. Breve comentário
A mensagem de Paulo parte do acontecimento pascal, onde o cristão é mergulhado pelo sacramento do batismo. Torna-se então participante da morte e ressurreição de Cristo, convertendo-se em seu membro vivo e permanecendo unido a ele, mediante a fé. O fruto é a renúncia ao pecado, para caminhar na vida nova e se orientar decididamente para as realidades eternas. Este novo modo de viver é sustentado pela consciência da própria identidade de filho de Deus, de peregrino da cidade celeste, para a qual, por um lado, tende, e, por outro – em Cristo ressuscitado, já se encontra.
“Daí a necessidade de escolher bem e de buscar «as coisas do alto», de acordo com uma vida ressuscitada, celeste. Daí procede, de igual modo, o convite a prescindir de tudo o que torna a vida demasiado exterior e vazia. O cristão morreu para «as coisas da terra» e vive escondido naquele que vive. Quando Cristo se manifeste na glória, então se revelará também, aos olhos de todos, a beleza espiritual daqueles que, atuando pela fé na adesão a Cristo na vida diária, encontraram nele a unidade e plenitude”.
Paulo tem bem consciência de que, mesmo aspirando “às coisas do alto”, temos que viver com os pés na terra. Tendo a mente e o coração no Céu, onde estão os nossos bens eternos e para onde peregrinamos, procuramos viver na terra ao modo de lá, nos comportamentos pessoais, nas relações uns com os outros e em atitudes que o Apóstolo enumera nos versículos seguintes (Cl 3, 5-4,1) (cf Lectio divina para cada dia del año, vol. 4, p. 17-18).
3. Silêncio meditativo e diálogo
«Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde Cristo está sentado à direita de Deus.»
Pelo batismo, recebemos a vida nova e entramos no mundo de Deus, onde reina o amor, a justiça, a paz, a alegria e a santidade, dos quais, pela unidade com Cristo, vivemos desde já. O desejo do Céu ilumina, inspira e motiva o cristão no seu empenho em transformar o mundo.
Vivo espiritualmente como ressuscitado, irradiando os frutos e a alegria do Evangelho? Aspiro realmente ao Céu, ao encontro com Cristo, e dou testemunho desta esperança?
«Afeiçoai-vos às coisas do alto e não às da Terra.»
O comum das pessoas afeiçoa-se com frequência aos bens e seduções do mundo, caindo por vezes na mundanidade. Chamado a corresponder à sua vocação celeste, sem fugir do mundo, o cristão deve resistir às tentações e deixar-se guiar sempre pelos pensamentos e sentimentos de Jesus.
A minha relação com a vida e o mundo é motivada e animada pelo espírito cristão? A luz e a força da fé ajudam-me a discernir e escolher o que é bem, resistindo à tentação do mal?
«vós morrestes, e a vossa vida está escondida com Cristo em Deus.»
A graça do batismo eliminou em nós a força do pecado e tornou-nos participantes da vida de Cristo. A vida cristã é, portanto, estar inserido em Cristo e crescer espiritualmente pela união com Ele. Essa comunhão está escondida, mas manifesta-se sempre mais nos frutos espirituais que produzimos.
Vivo realmente de Cristo e esta comunhão inspira, sustenta e informa os valores que me movem? Cultivo cuidadosamente a minha vida escondida com Cristo, pela oração, meditação e participação nos sacramentos?
«Quando Cristo, que é a vossa vida, Se manifestar, também vós vos manifestareis com Ele na glória.»
Quem está unido a Cristo não pode contentar-se com uma vida medíocre e isolada dos outros. Deseja a plenitude, saciar-se na comunhão com Cristo, desde já e na vida eterna. A promessa da vida eterna atrai o cristão e motiva a sua esperança e o empenho em orientar o mundo segundo Deus e para Ele.
Procuro testemunhar na minha vida os valores que Jesus trouxe à terra: a fidelidade e a pureza, a fraternidade e o respeito pelo outros, a concórdia e a paz, a compaixão e o serviço aos irmãos, a compreensão e o perdão, a justiça e a honestidade, o respeito e o cuidado pela vida, etc.? Reconheço em tudo isto uma vida de páscoa?
4. Gesto e oração finais
– Pessoalmente ou em família, ter gestos de quem vive como ressuscitado: apreço e elogio dos outros, serviço e generosidade, partilha de algo de si que dê alegria aos outros, etc.
– Para terminar, fazer a oração do Pai Nosso e da Ave-Maria. Se se estiver em família ou em grupo, pode fazer-se de mãos dadas.
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