A árvore e os frutos
Lectio Divina para o VIII domingo do tempo comum, ano C, 27.2.2022
Breve introdução
Como da árvore se esperam bons frutos para o proprietário e para a humanidade, assim acontece com o cristão. Do seu coração e da sua vida devem brotar bons sentimentos, pensamentos e ações, conforme o exemplo de Jesus. Para isso, Jesus semeia em nós a sua palavra, alimenta-nos com a Eucaristia e fortalece-nos com o dom do Espírito Santo. Só produz bons frutos quem estiver enraizado em Jesus e em comunhão de amor com Ele e com a Igreja. São esses frutos que podem transformar o mundo numa fraternidade de filhos e filhas de um único Pai, o Criador e amigo de todos. Esta é a mensagem do Evangelho deste VIII domingo do tempo comum que vamos escutar e meditar.
1. Invocação
Senhor Jesus,
Tu semeias nos corações humanos a tua Palavra
e por ela nos revelas o amor de Deus,
nos ensinas a viver como pessoas de bom coração
e nos envias pelo mundo como tuas testemunhas,
para produzirmos os frutos do reino de Deus.
Dá-nos a graça de escutarmos, acolhermos e acreditarmos
na palavra que hoje nos diriges. Ámen
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem do evangelho de S. Lucas
Através de três breves parábolas, Jesus ensina aos seus discípulos o caminho a percorrer para viver com sabedoria. Adverte-os contra os perigos da cegueira, da presunção e da hipocrisia, indicando-lhes o caminho da humildade, da coerência e da bondade de coração. É deste que brotam os bons frutos.
2.2. Leitura do Evangelho segundo São Lucas (6,39-45)
Naquele tempo,
disse Jesus aos discípulos a seguinte parábola:
«Poderá um cego guiar outro cego?
Não cairão os dois nalguma cova?
O discípulo não é superior ao mestre,
mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre.
Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista
e não reparas na trave que está na tua?
Como podes dizer a teu irmão:
“Irmão, deixa-me tirar o argueiro que tens na vista”,
se tu não vês a trave que está na tua?
Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista
e então verás bem para tirar o argueiro da vista do teu irmão.
Não há árvore boa que dê mau fruto,
nem árvore má que dê bom fruto.
Cada árvore conhece-se pelo seu fruto:
não se colhem figos dos espinheiros,
nem se apanham uvas das sarças.
O homem bom, do bom tesouro do seu coração tira o bem;
e o homem mau, da sua maldade tira o mal;
pois a boca fala do que transborda do coração.
Palavra da salvação
2.3. Breve comentário
O texto compõe-se de quatro pequenas unidades: o cego que pretende guiar outro cego no caminho, o discípulo que deve manter-se na linha do mestre, a pretensão de quem quer tirar o agueiro do olho alheio e tem uma trave na sua vista, e a árvore e os seus frutos.
Na imagem do cego, o que parece amor – ajuda a um necessitado – revela-se antes presunção e desejo de domínio sobre o outro. Os dois terminarão em desgraça.
No dito sobre o discípulo e o mestre, Jesus alude ao seu exemplo e atitude face aos que o seguem. Jesus não julga os demais, mas os ajuda; não quer tirar proveito deles, mas oferece-lhes os dons que tem. Assim devem comportar-se os seus discípulos.
Na imagem do argueiro e da trave, Jesus alerta para a tentação de juízo sobre os outros, esquecendo os próprios defeitos. Ninguém tem o direito de impor os seus critérios sobre os restantes homens nem de os dominar.
Por fim, vem a imagem da árvore e dos seus frutos, que permite discernir quem é ou não autêntico cristão. O que determina a qualidade de uma pessoa não são as suas aparências mas os frutos, quer dizer, o seu estilo de vida e as obras concretas que realiza em favor dos outros. Que frutos? – podemos perguntar. A resposta deu-a Jesus, antes, no discurso da planície (Lc 6,20-49): amar o inimigo, fazer o bem até ao final sem exigir compensações, não se erigir em guia (ou ditador) dos demais, abrir-se ao reino como um pobre… tais são os frutos a que alude o evangelho. Frutos que devem brotar de um coração bom. (cf Comentarios a la Biblia Liturgica, II, 1280-1283)
3. Silêncio meditativo e diálogo
«Poderá um cego guiar outro cego?»
Com esta pergunta, Jesus “quer frisar que um guia não pode ser cego, mas deve ver bem, isto é, deve possuir a sabedoria para guiar com sabedoria, caso contrário corre o risco de causar danos às pessoas que a ele se confiam. Assim Jesus chama a atenção de quantos têm responsabilidades educativas ou de chefia: os pastores de almas, as autoridades públicas, os legisladores, os mestres, os pais, exortando-os a estar cientes do próprio papel delicado e a discernir sempre o caminho certo pelo qual conduzir as pessoas.” (Papa Francisco, Angelus, 3.3.2019)
- Relaciono-me com os outros como irmão entre irmãos, ou tenho a presunção de apontar e corrigir os seus defeitos, sem reparar nos meus?
«O discípulo não é superior ao mestre, mas todo o discípulo perfeito deverá ser como o seu mestre.»
Com esta expressão sapiencial, Jesus faz “um convite a seguir o seu exemplo e o seu ensinamento para ser guia seguro e sábio. E tal ensinamento está inserido sobretudo no sermão da montanha, indicando a atitude da mansidão e da misericórdia para ser pessoa sincera, humilde e justa.” (Papa Francisco, Angelus, 3.3.2019)
- Reconheço Jesus como meu mestre e guia no caminho da vida? Aprendo com ele a relacionar-me e a ser bom guia e educador de outros?
«Porque vês o argueiro que o teu irmão tem na vista e não reparas na trave que está na tua?»
“A tentação é sermos indulgentes connosco — benevolente consigo mesmo — e duros com os outros. É útil ajudar o próximo com conselhos sábios, mas quando observamos e corrigimos os defeitos do nosso próximo, devemos estar cientes que também nós temos defeitos. Se penso que não os tenho, não posso condenar nem corrigir os outros. Todos temos defeitos: todos.” (Papa Francisco, Angelus, 3.3.2019)
- Tenho consciência dos meus defeitos e procuro corrigi-los? Ajo com humildade e misericórdia para com os outros, quando me disponho a ajudá-los?
«Não há árvore boa que dê mau fruto, nem árvore má que dê bom fruto. Cada árvore conhece-se pelo seu fruto».
“O fruto são as ações, mas também as palavras. Das palavras conhece-se a qualidade da árvore. De facto, quem é bom extrai do seu coração e da sua boca o bem, quem é mau extrai o mal, praticando o exercício mais deletério entre nós, a murmuração, o mexerico, falar mal dos outros. Isto destrói: destrói a família, a escola, o lugar de trabalho, o bairro. Pela língua começam as guerras.”
- “Pensemos um momento neste ensinamento de Jesus e façamo-nos uma pergunta: eu falo mal dos outros? Procuro manchar os outros? Procuremos corrigir-nos pelo menos um pouco: far-nos-á bem a todos.” (Papa Francisco, Angelus, 3.3.2019)
4. Propósito e oração final
Durante a semana, vou olhar mais para dentro de mim e prestar atenção aos meus defeitos, esforçando-me por corrigir um ou outro. E na relação com os outros, vou mais elogiar e sugerir novas atitudes do que criticar ou censurar.
Rezemos juntos a oração típica dos discípulos de Jesus, o Pai Nosso.