Palavras de Vida Eterna
Breve introdução
Neste V domingo do Tempo Comum, somos convidados, com Pedro, a acolher Jesus na nossa barca, na nossa vida. Confiamos n’Ele e, à sua Palavra, lançamos as redes ao mar. Ficamos surpreendidos com o que o Mestre faz em nós e através de nós. Ao nos confrontarmos com a nossa fragilidade, corremos o risco de nos querermos afastar, fugir, esconder. Mas Jesus diz-nos: Não temas…
Quantos desafios nos fará Jesus nas variadas circunstâncias da nossa vida, sem que verdadeiramente nos demos contas deles! Não será a participação na Eucaristia dominical, interiormente consciente e ativa, com a escuta da Palavra de Deus, um desses momentos e um dom espiritual para experimentarmos e identificarmos as maravilhas de Deus na nossa vida quando é movida pela fé?
1. Invocação
Deus Pai,
que em Vosso Filho Jesus Cristo nos abristes as portas da vida nova,
deixai que o Vosso Espírito Santo penetre hoje os nossos corações.
Dai-nos a graça de escutar a Vossa palavra,
deixando que ela nos ilumine e transforme à imagem de Jesus,
para vivermos desde já o Vosso Reino de amor e de esperança.
Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1.Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São Lucas (Lc 5, 1-11)
Naquele tempo,
estava a multidão aglomerada em volta de Jesus,
para ouvir a palavra de Deus.
Ele encontrava-Se na margem do lago de Genesaré
e viu dois barcos estacionados no lago.
Os pescadores tinham deixado os barcos
e estavam a lavar as redes.
Jesus subiu para um barco, que era de Simão,
e pediu-lhe que se afastasse um pouco da terra.
Depois sentou-Se
e do barco pôs-Se a ensinar a multidão.
Quando acabou de falar, disse a Simão:
«Faz-te ao largo
e lançai as redes para a pesca».
Respondeu-Lhe Simão:
«Mestre, andámos na faina toda a noite
e não apanhámos nada.
Mas, já que o dizes, lançarei as redes».
Eles assim fizeram
e apanharam tão grande quantidade de peixes
que as redes começavam a romper-se.
Fizeram sinal aos companheiros que estavam no outro barco,
para os virem ajudar;
eles vieram e encheram ambos os barcos,
de tal modo que quase se afundavam.
Ao ver o sucedido,
Simão Pedro lançou-se aos pés de Jesus e disse-Lhe:
«Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador».
Na verdade, o temor tinha-se apoderado dele
e de todos os seus companheiros,
por causa da pesca realizada.
Isto mesmo sucedeu a Tiago e a João, filhos de Zebedeu,
que eram companheiros de Simão.
Jesus disse a Simão:
«Não temas.
Daqui em diante serás pescador de homens».
Tendo conduzido os barcos para terra,
eles deixaram tudo e seguiram Jesus.
Palavra da salvação.
2.2. Breve comentário
Estamos junto ao Lago da Galileia. A multidão, que ainda segue o Mestre, está sedenta da Sua Palavra. Jesus sobe para o barco e, daí, sentado, em posição de mestre, anuncia a Palavra. Este barco, o barco de Pedro, é simbólico. Representa a Igreja onde está Jesus que anuncia o Evangelho para a multidão.
Terminado o anúncio da Palavra, Jesus provoca Simão. Ele, um carpinteiro, desafia Pedro, um pescador experimentado, a lançar as redes a horas impróprias. Pedro sabe que àquela hora o peixe, com mais luz, anda mais fundo, inalcançável pelas redes. Sabe ou pensa saber. Mas confia na Palavra do Mestre. E, com os outros, faz-se ao largo lança as redes.
Pedro assiste, maravilhado, a uma grande pescaria. Já sabia mas confirma que o Mestre que fala bem tem palavras eficazes. Que Deus está presente neste Mestre que o cativou. É desnudado na sua fragilidade e pede a Jesus que se afaste. Ele, pobre pecador, considera-se indigno. Mas Jesus diz-lhe apenas “Não temas…” e dá-lhe uma missão que está para além da sua compreensão… Pescador de homens.
3. Silêncio meditativo e diálogo
« …estava a multidão aglomerada em volta de Jesus, para ouvir a palavra de Deus.»
Uma multidão sedenta de palavras de salvação, de palavras que os resgatavam e não condenavam. Também em cada celebração da Eucaristia, nos colocamos diante da mesa da Palavra, na igreja, para escutar Jesus.
– Que palavras procuro em Jesus para mim e para os outros?
– Em que aspectos da minha vida tocam mais frequentemente?
“Os pescadores tinham deixado os barcos e estavam a lavar as redes.”
Andavam, andamos todos, tão ocupados com tanta coisa… E Jesus vem inquietar-nos. Jesus quer que, por uns momentos, elevemos os olhos dos afazeres do dia-a-dia para o alto. Há algo nele que nos atrai, as suas palavras dão-nos vida…
– Que afazeres me distraem do Mestre e sas Suas Palavras?
– Sei largar os afazeres do dia-a-dia para a escuta da Palavra, para a oração, para a Eucaristia?
«Faz-te ao largo… »
O Mestre desafia a ir mais longe, a não se acomodar no insucesso e no desânimo, a desinstalar-se de uma margem segura para águas mais profundas onde lançar de novo as redes.
– Que representa este largo na minha vida? Na família, na Comunidade…?
– Como acolho este desafio do Mestre?
«…já que o dizes, lançarei as redes»
Pedro, confia na Palavra do Mestre. Vai contra a lógica e contra o seu saber de pescador experimentado. Confia… Há situações na vida em que também nós precisamos de escutar uma palavra assim…
– Como acolho as Palavras de Jesus? Com confiança?
– Como vivo esta confiança?
«Senhor, afasta-Te de mim, que sou um homem pecador»
«Não temas…»
Pedro um pecador como nós. Pedro com medo da sua fragilidade. A tentação da fuga perante a maravilha que vê acontecer. E o Mestre diz apenas «Não temas». Também nós podemos sentir-nos confusos e perdidos perante certos acontecimentos da vida…
– Como olho e aceito a minha fragilidade à luz do Mestre?
– Confio que Ele me acolhe como sou e me encoraja a dar ceros passos na vida?
4. Gesto e oração final
– Como propósito durante a semana, procurar tirar 30 minutos para voltar ao silêncio, a ler de novo o texto e as notas que possa ter tirado durante esta lectio divina.
– Termino com a oração seguinte:
O GRITO
Rezo, meu Deus, esta vida,
experimentada tantas vezes como caos,
para o qual nem sempre existem nomes possíveis.
Sinto-me, tantas vezes, como uma criança quando,
no escuro da noite, lhe resta só o grito!
Mas o grito é a forma frágil e intensa
com que a nossa vida parte em busca de socorro.
Como uma criança, Senhor,
sinto-me exposto ao que é maior do que eu,
lançado a surpresas que não controlo.
Então grito por ti.
Ensina-me, Senhor, que nascemos também nesse grito
que o teu amor sabe amparar,
transformando-o em chamada,
em desejo de presença,
em ocasião para o abandono confiado à tua vontade.
José Tolentino Mendonça, Rezar de Olhos Abertos, Quetzal, p. 92