Lectio divina para o 3º Domingo de Páscoa, Ano C

A oração coleta do III Domingo Páscoa menciona a expressão «juventude de alma». Esta é renovada na alegria da Ressurreição e na renovação da graça da filiação divina que nos foi concedida e renovada em Jesus Ressuscitado.

 «Vinde comer»

Breve introdução

A oração coleta do III Domingo Páscoa menciona a expressão «juventude de alma». Esta é renovada na alegria da Ressurreição e na renovação da graça da filiação divina que nos foi concedida e renovada em Jesus Ressuscitado. Por isso, a primeira leitura, do livro dos Atos dos Apóstolos, apresenta a alegria dos discípulos por terem sido ultrajados por causa do nome de Jesus. Nenhum sofrimento supera a alegria de pertencer a Jesus. Por isso, louvamos a Deus, no Salmo responsorial: «Eu vos louvarei, Senhor, porque me salvastes». De facto, como nos dirá João na leitura do Apocalipse, «Digno é o Cordeiro que foi imolado de receber o poder e a riqueza, a sabedoria e a força, a honra, a glória e o louvor». O Evangelho completa a imagem da alegria dos filhos de Deus, reunidos com o Senhor, na manifestação de Jesus aos Apóstolos, que junto ao mar de Tiberíades comeram com Ele. 

Invocação

Senhor Jesus, Tu está vivo e a Tua vida é a nossa força.
Tu estás no meio de nós e a Tua presença é a nossa alegria.
Tu vens ao nosso encontro,
quando o nosso trabalho é infrutífero,
quando não pescamos nada,
quando nos dizes como e onde lançar as redes.
Tu és o nosso alimento sempre que nos preparas a mesa
e nos banqueteias com o Pão da Tua presença.
Vem, Senhor, Jesus! Vem, depressa!
Vem à nossa vida tão necessitada de Ti. Ámen.

Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho de João (Jo 21,1-19)

O Evangelho fala, acima de tudo, de encontro, daquele encontro que se dá à volta da mesa, com o alimento preparado pelo Senhor. É Ele quem dá o peixe, é Ele quem o prepara, É Ele quem serve. É Ele o Pastor que cuida das suas ovelhas e as alimenta. Ele santificou e vivificou o seu rebanho, a Igreja, com a Sua Morte e Sua Ressurreição. A Pedro, que ficará à frente da Igreja, esse mesmo poder de santificar e vivificar é comunicado, porque, através de dele e da Igreja, Jesus cumpre a Sua promessa de estar sempre no meio de nós.  

Leitura do Evangelho de João (Jo 21,1-19) 

«Naquele tempo, Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos, junto do mar de Tiberíades. Manifestou-Se deste modo: Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: «Vou pescar». Eles responderam-lhe: «Nós vamos contigo». Saíram de casa e subiram para o barco, mas naquela noite não apanharam nada. Ao romper da manhã, Jesus apresentou-Se na margem, mas os discípulos não sabiam que era Ele. Disse-lhes Jesus: «Rapazes, tendes alguma coisa de comer?». Eles responderam: «Não». Disse-lhes Jesus: «Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis». Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes. O discípulo predilecto de Jesus disse a Pedro: «É o Senhor». Simão Pedro, quando ouviu dizer que era o Senhor, vestiu a túnica que tinha tirado e lançou-se ao mar. Os outros discípulos, que estavam apenas a uns duzentos côvados da margem, vieram no barco, puxando a rede com os peixes. Quando saltaram em terra, viram brasas acesas com peixe em cima, e pão. Disse-lhes Jesus: «Trazei alguns dos peixes que apanhastes agora». Simão Pedro subiu ao barco e puxou a rede para terra, cheia de cento e cinquenta e três grandes peixes; e, apesar de serem tantos, não se rompeu a rede. Disse-lhes Jesus: «Vinde comer». Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: «Quem és Tu?», porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos. Depois de comerem, Jesus perguntou a Simão Pedro: «Simão, filho de João, tu amas-Me mais do que estes?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta os meus cordeiros». Voltou a perguntar-lhe segunda vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Ele respondeu-Lhe: «Sim, Senhor, Tu sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas». Perguntou-lhe pela terceira vez: «Simão, filho de João, tu amas-Me?». Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: «Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo». Disse-lhe Jesus: «Apascenta as minhas ovelhas. […]. Dito isto, acrescentou: “Segue-Me”». Palavra do Senhor. 

 (momento para ler de novo em silêncio e interiorizar a Palavra de Deus)

2.3. Breve comentário 

O encontro com Jesus ressuscitado despertou nos Apóstolos alegria e medo: por causa do inaudito, de alguém ressuscitar dos mortos, eles ainda se sentem espantados. Precisam de tempo para compreender; estão juntos e ir pescar é voltar à normalidade. É precisamente enquanto experimentam o desapontamento das mãos vazias que voltam a encontrar Jesus. Não O reconhecem imediatamente, mas apenas após ouvirem as palavras e verem os gestos que Ele faz. Convida-os a lançar de novo as suas redes e desperta neles a esperança. A superabundância da pesca permite ao discípulo amado reconhecer Jesus. O seu amor é abundante. Pedro lança-se ao mar, no mar abundante. E no final Jesus prepara comida para os seus discípulos: comer com Ele é sempre sinal da intimidade de Deus para com o Seu povo. De facto, sentamo-nos à mesa com quem temos intimidade e familiaridade. Deus senta-se à mesa com a Igreja, em cada domingo, na Eucaristia. 

Silêncio meditativo e diálogo

«Jesus manifestou-Se outra vez aos seus discípulos»

“Senhor, eu quero encontrar-me contigo”. A manifestação repetida («outra vez») aos discípulos revela a insistência e a importância do encontro com Jesus vivo, que todo o cristão deve experimentar na sua vida. 

– Posso dizer que já me encontrei com o Senhor? Ele manifestou-se-me a mim? De que modo senti a manifestação de Jesus na Minha vida? Quais as situações ou palavras  que me tocaram forte o coração, que o fizeram arder e exclamar: eu vi o Senhor?

«Estavam juntos Simão Pedro e Tomé, chamado Dídimo, Natanael, que era de Caná da Galileia, os filhos de Zebedeu e mais dois discípulos de Jesus. Disse-lhes Simão Pedro: “Vou pescar”. Eles responderam-lhe: “Nós vamos contigo”»

«Eu quero estar junto…». Os discípulos estavam juntos porque encontravam forças justamente na fraternidade. É na relação com a Igreja que encontramos a força para caminhar e é mesmo nessa experiência fraterna que nos encontramos com o nosso Irmão Maior: Jesus.

– Cultivo em mim o estar junto …, o caminhar com …, o «nós vamos contigo»? Procuro a Igreja, os irmãos, a comunidade para ser ajudado nos meus medos? A comunidade, o meu caminhar junto com ela, tem sido o meu porto de abrigo?

«Disse-lhes Jesus: “Lançai a rede para a direita do barco e encontrareis”. Eles lançaram a rede e já mal a podiam arrastar por causa da abundância de peixes». 

«Obrigado, Senhor, pela Tua palavra que traz a abundância». Jesus cuida do seu povo como o pastor cuida e alimenta as suas ovelhas. É preciso apenas obedecer à sua voz. 

– Procuro escutar o Senhor? De que modo? Leio a Sua Palavra e procuro escutar nela a Sua voz que me diz para lançar as redes? Quais são as abundâncias que Deus já realizou na minha vida? Que situações concretas mostram que fui abundantemente agraciado quando simplesmente ouvi e obedeci a voz do Senhor?

 «Nenhum dos discípulos se atrevia a perguntar-Lhe: “Quem és Tu?”, porque bem sabiam que era o Senhor. Jesus aproximou-Se, tomou o pão e deu-lho, fazendo o mesmo com os peixes. Esta foi a terceira vez que Jesus Se manifestou aos seus discípulos, depois de ter ressuscitado dos mortos». 

«Obrigado, Senhor, porque Te fazes reconhecer nos acontecimentos da vida». Assim como naquela ocasião os discípulos sabiam que era o Senhor, assim também cada um de nós teve, tem ou terá ocasiões para notar a presença de Jesus e saber que foi realmente Ele a agir. 

– Tenho reconhecido a presença de Deus na minha vida? Em que situações concretas pude dizer: «É o Senhor!»?

«Perguntou-lhe pela terceira vez: “Simão, filho de João, tu amas-Me?”. Pedro entristeceu-se por Jesus lhe ter perguntado pela terceira vez se O amava e respondeu-Lhe: “Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo”. Disse-lhe Jesus: “Apascenta as minhas ovelhas”.

«Senhor, sou frágil, mas eu amo-Te». Pedro confessa amar Jesus. Mas no verbo «amar» que usa por três vezes (verbo que significa «amar com amizade»), diferente do verbo da pergunta de Jesus (verbo que significa «amar sem querer recompensa»), Pedro reconhece que o seu amor é frágil. Mas Jesus não olha para a fraqueza do amor de Pedro, que O negou três vezes, mas confia-lhe o cargo de continuar a Sua missão de apascentar a Igreja. 

Reconheço que o meu amor a Deus é frágil e que muitas vezes não O coloco em primeiro lugar? Sinto que também eu, enquanto Igreja, sou chamado a ser ovelha, mas também pastor? Procuro guiar as pessoas para Deus? Sou testemunha da ressurreição de Jesus? 

Propósito e oração final 

A partir deste evangelho de João proponho-me:

– A ler mais a Palavra de Deus e assim ouvir e obedecer a Sua voz.

– A viver mais a oração: ser mais íntimo de Deus

– Servir: ser ovelha, mas também ser pastor

Oração:

Tu, Senhor, que estás vivo,
Tu que vens ao nosso encontro e cumpres a Tua promessa
que estarias sempre presente, onde dois ou mais estivessem reunidos no Teu nome,
abençoa-nos e ajuda-nos a sermos teus discípulos,
a sermos ovelhas, mas também pastores.
Bendito sejas, Senhor, que nos alimentas.
Bendito sejas porque nos envias em missão.
Alimentados por Ti, eis-nos aqui, Senhor.

Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo …

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