O poder do amor
Lectio Divina para o Domingo de Cristo-Rei (Ano C), 20/11/2022
Breve introdução
Neste domingo de Cristo-Rei, a Igreja celebra também o Dia Mundial da Juventude sob o tema “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1, 39). A realeza de Jesus não é à maneira política nem consiste no domínio sobre as pessoas e os povos. É através do amor, do dom do seu Evangelho e da força do Espírito Santo que Jesus cativa as pessoas, as enche da graça de Deus, congrega os povos e a todos orienta para Deus. Maria, a Mãe de Jesus, é exemplo de acolhimento do amor e da palavra de Deus e de empenho em os comunicar aos outros, “fazendo-nos por nossa vez portadores de Cristo, portadores do seu amor compassivo, do seu serviço generoso, à humanidade sofredora” (Mensagem do Papa Francisco para a XXXVII Jornada Mundial da Juventude).
1. Invocação
Senhor Jesus,
dá-nos a graça de acolher o teu Evangelho,
aceitar-te como nosso rei e amigo,
amar-te e confiar sempre em ti.
Torna-nos testemunhas e servidores
do teu “reino eterno e universal:
reino de verdade e de vida,
reino de santidade e de graça,
reino de justiça, de amor e de paz”.
Que, com Maria, tua Mãe,
também nós caminhemos apressadamente
ao encontro dos irmãos para partilharmos com eles
as maravilhas do teu amor
e os servirmos no que precisarem. Ámen
2. Escuta da Palavra de Deus
Em Jerusalém, no final da sua caminhada terrena, na cruz e rodeado de 2 malfeitores, Jesus é apresentado como um insólito “rei”. Afinal, que espécie de realeza é a dele?
2.1. Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São Lucas (Lc 23, 35-43)
Naquele tempo,
os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo:
«Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo,
se é o Messias de Deus, o Eleito».
Também os soldados troçavam d’Ele;
aproximando-se para Lhe oferecerem vinagre, diziam:
«Se és o Rei dos judeus, salva-Te a Ti mesmo».
Por cima d’Ele havia um letreiro:
«Este é o Rei dos judeus».
Entretanto, um dos malfeitores que tinham sido crucificados
insultava-O, dizendo:
«Não és Tu o Messias?
Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
Mas o outro, tomando a palavra, repreendeu-o:
«Não temes a Deus,
tu que sofres o mesmo suplício?
Quanto a nós, fez-se justiça,
pois recebemos o castigo das nossas más acções.
Mas Ele nada praticou de condenável».
E acrescentou:
«Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza».
Jesus respondeu-lhe:
«Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
Palavra da salvação.
2.2. Breve comentário
Presidindo à cena da crucifixão de Jesus, dominando-a de alto a baixo, está a famosa inscrição que o define como “rei dos judeus”. É uma indicação que, face à situação de Jesus, parece irónica: Ele não está sentado num trono, mas pregado numa cruz; não aparece rodeado de súbditos fiéis que O incensam e adulam, mas dos chefes dos judeus que O insultam e dos soldados que O escarnecem; Ele não exerce autoridade de vida ou de morte sobre milhões de homens, mas está crucificado, indefeso, condenado a morte infamante… Nada o identifica com poder, autoridade e realeza terrena.
Contudo, a inscrição da cruz – irónica aos olhos dos homens – regista de modo preciso a situação de Jesus, na perspetiva de Deus: Ele é o “rei” que preside, da cruz, a um “Reino” de serviço, de amor, de entrega, de dom da vida. Neste quadro, explica-se a lógica do “Reino de Deus” que Jesus veio propor aos homens. (cf Dehonianos)
Quem entra a fazer parte deste Reino? Não os que o recusam, maltratam e insultam, mas o malfeitor, também ele crucificado como Jesus, que reconhece as próprias más ações e defende Jesus como inocente, invocando-o como salvador. É a ele que Jesus acolhe com misericórdia e declara: “Hoje estarás comigo no Paraíso”.
Em cada Eucaristia, a Igreja faz memória da entrega de Jesus ao Pai por amor e em favor da salvação da humanidade. Participando na celebração, somos tocados pelo seu amor, unimo-nos a ele e recebemos a força do seu amor. É pelo amor que podemos tornar-nos testemunhas e construtores do seu Reino entre os homens, praticando boas ações, defendendo e promovendo a justiça e a verdade. Então, a esperança será a força que nos faz encarar o futuro positivamente. Jesus, que nos ensinou a invocar “venha a nós o vosso reino”, e a fé nele sustentam-nos nas lutas da vida e conduzem-nos à vitória sobre o mal e as tribulações do mundo.
3. Silêncio meditativo e diálogo
“… os chefes dos judeus zombavam de Jesus, dizendo: «Salvou os outros: salve-Se a Si mesmo, se é o Messias de Deus, o Eleito».
Humilhado e desafiado a mostrar-se realmente como o Messias, Jesus escuta e fica em silêncio, recusando entrar no jogo dos inimigos. Ele sabe que “quem se humilha será exaltado”, pois Deus não age como os homens. O verdadeiro poder está no amor e é através dele que Jesus manifesta o seu reino.
– Que me cativa em Jesus e me faz confiar nele?
– Acredito que é pelo amor que Jesus nos salva?
«Também os soldados troçavam d’Ele»
A tentação do abuso de poder está sempre à nossa espreita. O sentido de justiça e a misericórdia são antídotos que a combatem. É preciso vigiar sobre si próprios e sobre os outros, assumindo com coragem a defesa das vítimas, pela força que nos vem de Jesus, nosso rei e senhor.
– Reconheço que a tentação do abuso de poder e de humilhar os outros também me bate à porta?
– Estou atento às situações de maus-tratos sobre os outros e defendo-os?
“…um dos malfeitores que tinham sido crucificados insultava-O, dizendo: «Não és Tu o Messias? Salva-Te a Ti mesmo e a nós também».
Há pessoas que com o sofrimento se aproximam de Deus. Outros, não, ficam com o coração endurecido. Jesus oferece a sua misericórdia a quem lhe abre o coração. É pela sua misericórdia que somos salvos.
– Como é que eu olho os que sofrem à minha volta: com compaixão ou desprezo?
– Rezo pelas pessoas que sofrem e invoco para elas a misericórdia divina?
«Quanto a nós, fez-se justiça, pois recebemos o castigo das nossas más ações. Mas Ele nada praticou de condenável».
Contrariamente ao colega, este malfeitor reconhece as suas faltas e o merecimento do castigo, mas defende e declara a inocência de Jesus. Onde entra a luz e o amor de Jesus, torna-se possível o arrependimento do próprio pecado, o pedido de perdão e a solidariedade em relação aos outros.
– Sou capaz de reconhecer os meus pecados, confessá-los sinceramente e pedir a Deus perdão?
– Nas situações de conflito, injustiça e condenações, tomo partido pela verdade e a justiça, procurando promover a reconciliação?
«Jesus, lembra-Te de Mim, quando vieres com a tua realeza».
O malfeitor reconhece em Jesus o salvador. Com humildade e confiança, dirige-lhe a sua oração e é salvo. Nunca é tarde demais para se dirigir a Jesus, pois ele nunca desiste de salvar quem quer que o invoque com sinceridade.
– Creio que o poder do amor de Jesus me salva e a quem nele confiar?
– Nas relações com os outros, ajudo-os a descobrir a compaixão e bondade de Jesus?
«Em verdade te digo: Hoje estarás comigo no Paraíso».
Jesus dá a mão ao malfeitor arrependido e leva-o consigo para o “paraíso”, ou seja, dar-lhe entrada no seu reino de amor e de vida eternamente com Deus. O mesmo quer fazer a nós e a todos os homens, pois não quer deixar ninguém fora do amor e da salvação de Deus.
– Estas palavras dão-me esperança em relação ao futuro?
– Como posso viver e irradiar esta esperança na minha vida do dia a dia?
4. Gesto e oração final
– Como propósito durante a semana tirar 30 minutos, voltar a ler o texto e as notas que possa ter tirado durante esta lectio divina. E procurar acolher Jesus como aquele que me guia e inspira e ser testemunha junto de outros dessa relação e comunhão que salva.
– Termino com a oração do Pai Nosso
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