Esperar a Páscoa da minha vida
Lectio Divina para o Domingo XXXII do Tempo Comum (Ano B), 07.11.2021
Breve introdução
Há vezes em que não é fácil encontrarmos um fio condutor que una as três leituras proclamadas na Eucaristia e as coloque sob um mesmo tema, do qual podemos tirar proveito para a nossa vida. E isso não deve ser um motivo de preocupação para nós. A Palavra de Deus, na sua diversidade, ilumina a nossa vida a partir de muitos pontos de luz, e isso é uma riqueza. Mas este domingo acontece o contrário: é difícil não nos sentirmos conduzidos a olhar a Palavra de Deus à luz de um mesmo tema que as percorre: o tema da generosidade. Na primeira leitura a generosidade da viúva de Sarepta que dá a Elias tudo quanto tinha para sobreviver; no Evangelho, a generosidade daquela viúva que deita as duas únicas moedas que tinha na arca do tesouro do Templo de Jerusalém; e na segunda leitura, a generosidade de Nosso Senhor que, ao oferecer a sua vida por nós, dá-nos o modelo de toda a generosidade.
Em cada Eucaristia, Jesus continua a dar-se aos seus fiéis: “Tomai e comei. Isto é o meu corpo…”. Pela comunhão com ele e imitando-o, aprendemos e tornamo-nos mais capazes de generosidade e entrega a Deus e aos outros na nossa vida quotidiana.
Deixemo-nos conduzir pela Palavra de Deus deste Domingo e, a partir do Evangelho, perguntemo-nos como vai a nossa generosidade!
1. Invocação
Ó Deus, que nos deste em Jesus a perfeita imagem da generosidade,
faz-nos fortes e decididos para podermos imitar os Seus passos
e dá-nos a luz do Teu Espírito para sermos capazes de reconhecer
que cada dia é um convite a gastarmo-nos sem medida,
oferecendo a nossa vida a Deus e aos irmãos.
Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos ouvir um excerto do Evangelho segundo S. Marcos
O trecho do Evangelho de S. Marcos que vamos escutar passa-se em Jerusalém. Jesus senta-se à frente da arca do tesouro do Templo, um cofre exterior usado pelos peregrinos do Templo para aí colocarem as suas ofertas, e observa como a multidão se comporta. Mas eis que o seu olhar se fixa na pequena oferta de uma viúva que, naquele momento, se torna uma mestra da generosidade.
2.2. Leitura do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Marcos (Mc 12, 41-44)
Naquele tempo, Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa. Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante. Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva deitou na caixa mais do que todos os outros. Eles deitaram do que lhes sobrava, mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
2.3. Breve comentário
Se quisermos resumir a missão de Jesus em duas palavras podemos fazê-lo com «Convite» e «Entrega». Convite, porque toda a vida de Jesus é atravessada por um constante apelo ao acolhimento do Reino de Deus, que nos quer fazer seus Filhos. Entrega, porque Jesus vive a sua vida para Deus e para os outros, dando-se completamente e até ao fim.
A entrega passa a ser a marca distintiva dos cristãos: aqueles que acolheram o dom de Deus e se tornaram seus Filhos, são convidados a seguir os passos de Jesus e a imitá-lo no seu ser e no seu agir. Torna-se por isso impossível ser-se cristão sem se ser generoso. Mas esta generosidade não significa dar do que nos sobra. Significa antes viver na consciência de que nada é nosso, e que tudo o que temos, incluindo a própria vida, serve para pormos ao serviço de Deus e dos outros.
3. Silêncio meditativo e diálogo
Naquele tempo, Jesus sentou-Se em frente da arca do tesouro a observar como a multidão deitava o dinheiro na caixa.
É muito curioso ver como Jesus era atento a tudo o que se passava à sua volta. Não vivia centrado em si, mas nos outros. Porque a vida daqueles homens e mulheres lhe interessava, porque tinha sido enviado a eles e para eles.
Como vivo a minha vida? Centrado em mim, ou atento aos outros?
Muitos ricos deitavam quantias avultadas. Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas, isto é, um quadrante.
A realidade que nos envolve é tantas vezes marcada pelo preto e branco, pelas diferenças acentuadas daqueles que vivem nesta casa comum que às vezes parece ser tão fragmentada.
Sou sensível às diferenças que me rodeiam? Sou consciente que a realidade que me envolve não é toda igual e que não posso olhar tudo a partir do meu olhar limitado?
Jesus chamou os discípulos e disse-lhes: «Em verdade vos digo: Esta pobre viúva (…) na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver».
O convite à entrega que Jesus nos faz não conhece a palavra ‘muito’ ou ‘pouco’, só conhece a palavra ‘tudo’, porque é um convite a dar tudo, isto é, um convite a colocar toda a nossa vida ao dispor de Deus e do próximo.
Vivo a minha vida a partir deste convite de Jesus à entrega? Quais são as marcas concretas que encontro na minha vida que falam da minha generosidade?
Jesus tomou o pão… abençoou-o, partiu-o e deu-o aos seus discípulos, dizendo: “Tomai, todos, e comei: isto é o meu Corpo entregue por vós”.
Jesus continua a dar-se a nós, em cada Eucaristia, tornando-se nosso alimento espiritual e fonte onde bebemos a graça divina e recebemos o espírito de generosidade.
A comunhão do Corpo de Cristo torna-me mais ousado na doação ao Senhor e disponível no amor aos outros, sem reservas nem discriminação?
4. Oração final e gesto
– Em silêncio, perguntando: «Senhor, que queres dizer-me com esta palavra?» procuramos o que Deus nos inspira, as mudanças a que nos convida, o que nos sugere.
– Pergunto-me: o que posso fazer de concreto para estar mais atento aos outros e ser capaz de viver a minha vida numa atitude de entrega a Deus e ao próximo? Se estivermos a rezar em família, que gesto familiar concreto podemos fazer para ir ao encontro do convite que Jesus nos faz?
– Terminam, rezando uma oração de Santo Inácio de Loyola:
Senhor,
ensina-me a ser generoso,
ensina-me a servir-Te como mereces,
a dar e não calcular o custo,
a lutar e não dar importância às feridas,
a trabalhar e não procurar descanso,
a servir e não pedir recompensa,
senão a de saber que faço a Tua vontade.
Ámen.