(Tema 2 do retiro popular: 2º domingo da quaresma)
UMA COMUNIDADE SINODAL
Acolhimento e saudação entre os participantes
1. Invocação do Espírito Santo / Oração inicial
– Invoco a presença de Deus –
1.1. Cântico
(à escolha, ver anexo)
1.2. Prece (oração sinodal)
Aqui estamos, diante de Vós, Espírito Santo,
todos reunidos em vosso nome.Vinde a nós,
assisti-nos, descei aos nossos corações.
Ensinai-nos o que devemos fazer,
mostrai-nos o caminho a seguir, todos juntos.
Não permitais que a justiça seja lesada por nós, pecadores,
que a ignorância nos desvie do caminho,
nem que as simpatias humanas nos tornem parciais,
para que sejamos um em Vós
e nunca nos separemos da verdade.
Nós Vo-lo pedimos a Vós que, sempre e em toda a parte,
agis em comunhão com o Pai e o Filho
pelos séculos dos séculos. Ámen.
2. Leitura da Palavra
– Escuto e compreendo a Palavra que me é oferecida –
2.1. Leitura do livro dos Atos dos Apóstolos (6, 1-7)
Por esses dias, como o número de discípulos ia aumentando,
houve queixas dos helenistas contra os hebreus,
porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário.
Os Doze convocaram, então, a assembleia dos discípulos e disseram:
«Não convém deixarmos a palavra de Deus, para servirmos às mesas.
Irmãos, é melhor procurardes entre vós
sete homens de boa reputação,
cheios do Espírito e de sabedoria;
confiar-lhes-emos essa tarefa.
Quanto a nós, entregar-nos-emos assiduamente
à oração e ao serviço da Palavra.»
A proposta agradou a toda a assembleia
e escolheram Estêvão, homem cheio de fé e do Espírito Santo,
Filipe, Prócuro, Nicanor, Timão, Parmenas
e Nicolau, prosélito de Antioquia.
Foram apresentados aos Apóstolos que, depois de orarem,
lhes impuseram as mãos.
A palavra de Deus ia-se espalhando cada vez mais;
o número dos discípulos
aumentava consideravelmente em Jerusalém,
e grande número de sacerdotes obedeciam à Fé.
Palavra do Senhor
2.2. Leitura pessoal
– Volto a ler, em silêncio: o que diz o texto? –
2.3. Notas para a compreensão do texto
A comunidade de Jerusalém, como comunidade primogénita, é imagem e modelo do que a Igreja é chamada a ser e viver. É comunidade que se alimenta da Palavra e da Eucaristia (cf. At 2, 42-47) e onde se vive a partilha de todos os bens (cf. At 4, 32-36). Não era uma comunidade ‘ideal’, onde não houvesse problemas. É significativo que o autor do livro do Atos dos Apóstolos não esconda ou relativize as dificuldades que existiam. Pelo contrário, mostra que elas existem e que a Igreja as enfrenta com coragem e determinação. Para tal, os Doze, com uma função central, convocam a assembleia dos discípulos.
Não se pode ver aqui apenas uma descrição de acontecimentos, mas o significado dos mesmos: respeitando as diferenças de ministérios, todos são envolvidos na decisão. Esta forma de funcionar (reconhecer o problema, enfrentá-lo, discuti-lo, decidir, executar, …) fez com que o problema fosse sanado e permitiu que a Palavra de Deus se fosse espalhando cada vez mais e que o número dos discípulos aumentasse. É esta, na verdade, a verdadeira razão de ser da Igreja: continuadora da missão de Cristo.
3. Meditação pessoal
– Medito interiormente a Palavra acolhida: o que me diz o Senhor? –
“Por esses dias, como o número de discípulos ia aumentando, houve queixas dos helenistas contra os hebreus, porque as suas viúvas eram esquecidas no serviço diário.”
O número de discípulos continua a aumentar, desde o dia de Pentecostes. Grupos diferentes, pela língua e mentalidade, formam a comunidade. É criada uma organização, e o serviço das mesas é posto em ação. Grupos fragilizados, como as viúvas, podem contar com a solidariedade da comunidade. Mas nem todas recebem o mesmo tratamento: as viúvas helenistas são desatendidas na “diaconia quotidiana”, quer dizer, na distribuição diária das ajudas. Há desigualdade na atenção aos mais pobres. A partilha que se fazia, para que ninguém passasse necessidades, parece, agora, menos eficaz e fere a comunhão fraterna. Também a unidade revelada pelo Espírito Santo enfraqueceu: as particularidades culturais e linguísticas parecem ter criado divisão.
Os helenistas intervêm e pedem que a questão das “suas viúvas” seja tida em consideração. Aparece uma linha de fratura que já não é causada por dois indivíduos (Ananias e Safira: At 5, 1-11), mas por dois grupos: os helenistas e os hebreus. A discórdia é alarmante, pois constitui uma ameaça contra os ideais de unidade e harmonia da comunidade (At 2,41-47; 4,32-35).
Quais os novos desafios que se colocam hoje à nossa comunidade? Há desigualdades, grupos marginalizados, tensões, conflitos…? Como são reconhecidos e enfrentados?
«Não convém deixarmos a palavra de Deus, para servirmos às mesas. Irmãos, é melhor procurardes entre vós sete homens de boa reputação, cheios do Espírito e de sabedoria; confiar-lhes-emos essa tarefa».
Os Doze assumem a sua responsabilidade na comunidade. Tomam nota da contestação e convocam a assembleia para que tenha parte ativa na procura da resolução do problema. Propõem, e não impõem, uma diversificação de serviços. Lembram a sua principal função: a oração e o serviço da Palavra. E formulam critérios para escolher “os Sete” (vv. 2-4).
É a comunidade que, após o devido discernimento, escolhe os Sete, assumindo as diferenças e mantendo a unidade. Apresenta-os aos Apóstolos, que confirmam a escolha e os instituem. Rezam e impõem-lhes as mãos (v. 6), um gesto de reconhecimento do seu serviço na comunidade. Rapidamente, no decurso da perseguição aos cristãos helenistas (cf. 6,8-8,4), os Sete darão testemunho de Jesus em obras e palavras.
Estêvão encabeça a lista. As qualidades que lhe atribuem superam as exigidas pelos Apóstolos aos candidatos: está cheio de fé e do Espírito Santo. Filipe, o segundo da lista, tomará o relevo de Estêvão como representante do grupo, nos relatos dos Atos (8,5-40; 21,8). O último dos Sete, Nicolau, é descrito como um prosélito. A sua origem, Antioquia, constitui a primeira menção a esta cidade que terá um papel muito importante nos Atos dos Apóstolos (cf 11,19-26). Nicolau seria o primeiro pagão de origem convertido ao cristianismo, cujo nome conhecemos. O seu status de prosélito indica também que dentro da comunidade se confiou uma responsabilidade a um crente que, no seio do judaísmo, tinha um status inferior. Todas estas referências indicam o papel importante que os Sete vão ter, em levar a mensagem evangélica, a outros marginalizados como os samaritanos e o eunuco etíope (Atos 8, 5-40), prefigurando o acesso dos não judeus ao Evangelho. A imagem de uma Igreja aberta a todos está já aqui, mesmo de forma subtil, bem patente.
Em circunstâncias difíceis, a comunidade cristã encontra uma nova forma de organização adaptada às novas realidades e garantindo a justiça no serviço aos pobres. A perseguição dá um novo fulgor, inesperado, ao ministério dos Sete: eles tornam-se missionários ativos junto dos pagãos.
Com que estilo enfrentamos os problemas quotidianos do nosso grupo e da comunidade? Estamos abertos à inovação e à procura de outras pessoas para colaborarem nos serviços?
«A palavra de Deus ia-se espalhando cada vez mais; o número dos discípulos aumentava consideravelmente em Jerusalém, e grande número de sacerdotes obedeciam à Fé».
Nos tempos atuais, somos chamados a construir comunidades que permitam a todos e a cada uma participação ativa. Comunidades que estejam atentas aos novos desafios que o mundo nos apresenta.
“Hoje em dia, tornou-se particularmente necessária a capacidade de discernimento, porque a vida atual oferece enormes possibilidades de ação e distração, sendo-nos apresentadas pelo mundo como se fossem todas válidas e boas. (…) Somos livres, com a liberdade de Jesus, mas Ele chama-nos a examinar o que há dentro de nós – desejos, angústias, temores, expetativas – e o que acontece fora de nós – os «sinais dos tempos» –, para reconhecer os caminhos da liberdade plena: «examinai tudo, guardai o que é bom» (1 Ts 5, 21).
O discernimento não é necessário apenas em momentos extraordinários, quando temos de resolver problemas graves ou quando se deve tomar uma decisão crucial; mas é um instrumento de luta, para seguir melhor o Senhor. É-nos sempre útil, para sermos capazes de reconhecer os tempos de Deus e a sua graça, para não desperdiçarmos as inspirações do Senhor, para não ignorarmos o seu convite a crescer. […] Ao mesmo tempo, o discernimento leva-nos a reconhecer os meios concretos que o Senhor predispõe, no seu misterioso plano de amor, para não ficarmos apenas pelas boas intenções” (Francisco, Gaudete et Exultate, nº 166-169).
Quais os critérios para fazer um discernimento positivo, capaz de ler os sinais do Espírito nas difíceis situações e identificar os passos a dar pela nossa comunidade? Que adaptações temos de fazer para responder melhor às questões urgentes da cultura e da sociedade?
4. Partilha da Palavra
– Partilho com os outros o dom recebido: que posso oferecer-lhes? –
Comunico uma palavra ou frase que me interpelou. Posso também partilhar algo do que rezei na minha intimidade. Esta minha participação deve ser voluntária e breve.
5. Oração
– A partir do que escutei e vivi neste tempo, falo com o Senhor –
Faço uma oração espontânea a partir do texto lido ou da meditação feita. Posso também rezar a oração proposta para este triénio pastoral ou o salmo 133 (132), que se segue, sobre a vida em fraternidade.
Vede como é bom e agradável
que os irmãos vivam unidos!
É como óleo perfumado derramado sobre a cabeça,
a escorrer pela barba, a barba de Aarão,
a escorrer até à orla das suas vestes.
É como o orvalho do monte Hermon,
que escorre sobre as montanhas de Sião.
É ali que o Senhor dá a sua bênção,
a vida para sempre.
6. Compromisso
– A que me convida, hoje, o Senhor? –
Faço um momento de silêncio e formulo um compromisso pessoal.
Posso também propor um gesto ou iniciativa comunitária.
Cântico final (à escolha, ver anexo)
7. Em casa
– Levo para a vida a mensagem que acolhi –
No seguimento do encontro de grupo, procurarei dedicar algum tempo (15-20 minutos), num ou mais dias da semana, para retomar a meditação e contemplação da Palavra de Deus e nela encontrar a luz e a força de Deus para a minha vida no dia-a-dia.