Comunidade de amor
Lectio Divina para o Domingo XXVII do Tempo Comum (Ano B)
Breve introdução
Neste XXVII Domingo do Tempo Comum, celebramos o dia da nossa Igreja Diocesana de Leiria-Fátima. Como povo de Deus somos chamados à comunhão. A diocese é expressão visível dessa comunhão. Constituída como corpo de Cristo.
A liturgia da Palavra deste domingo leva-nos a olhar para a realidade da nossa vida não de forma isolada, mas em relação. Somos seres relacionais por natureza. Desde a criação que o Senhor nos pensou como seres de relação e de comunhão, pois “procedemos todos de um só” (2ª leitura). Homem e mulher, comunidade de amor, são expressão visível de comunhão entre Cristo e a sua Igreja.
1. Invocação
Senhor Jesus Cristo,
Tu que és Comunidade perfeita de amor com o Pai e o Espírito Santo,
ilumina a nossa vida, para que ela seja expressão da comunhão perfeita
da Santíssima Trindade.
Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo Segundo São Marcos (Mc 10, 2-16)
Naquele tempo, aproximaram-se de Jesus uns fariseus, que, para O porem à prova, perguntaram-Lhe: «Pode um homem repudiar a sua mulher?». Jesus disse-lhes: «Que vos ordenou Moisés?». Eles responderam: «Moisés permitiu que se passasse um certificado de divórcio, para se repudiar a mulher». Jesus disse-lhes: «Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei. Mas, no princípio da criação, ‘Deus fê-los homem e mulher. Por isso, o homem deixará pai e mãe para se unir à sua esposa, e os dois serão uma só carne’. Deste modo, já não são dois, mas uma só carne. Portanto, não separe o homem o que Deus uniu».
Em casa, os discípulos interrogaram-n’O de novo sobre este assunto. Jesus disse-lhes então: «Quem repudiar a sua mulher e casar com outra, comete adultério contra a primeira. E se a mulher repudiar o seu marido e casar com outro, comete adultério».
Apresentaram a Jesus umas crianças para que Ele lhes tocasse, mas os discípulos afastavam-nas. Jesus, ao ver isto, indignou-Se e disse-lhes: «Deixai vir a Mim as criancinhas, não as estorveis: dos que são como elas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele». E, abraçando-as, começou a abençoá-las, impondo as mãos sobre elas.
Palavra da salvação.
2.2. Breve comentário
O Evangelho de hoje abre com a pergunta que os fariseus fazem a Jesus: “Pode um homem repudiar a sua mulher?” Jesus responde devolvendo com outra pergunta: “Que vos ordenou Moisés?” e completa a sua intervenção perante os fariseus, dizendo que a causa do repudio está na dureza do coração, na esclerose do coração. Esta doença do coração só permite aceitar o outro enquanto ele é aparentemente perfeito aos nossos olhos. Quando os defeitos e as fragilidades do outro se fazem notar, há a tendência natural para repudiar, para afastar, para ocultar, para desistir dele.
A vida que se quer na relação e em comunhão, pede que as fragilidades e feridas do outro e as nossas sejam cicatrizadas pelo amor. Pelo amor tudo se unifica.
No início do ato criador de Deus está a comunhão perfeita, onde homem e mulher, na complementaridade, se tornam comunidade de amor. Na “doação de si” ao outro, representada pela costela que o Senhor tira do homem para formar a mulher. Aqui em nada a mulher fica inferiorizada ao homem, mas pelo contrário igual em dignidade e respeito. “Os dois serão uma só carne”, uma só vontade de Deus, um único ato criador.
Homem e mulher são chamados a corresponder e a continuar a obra da criação. São implicados a viverem como “uma só carne”, uma só realidade de amor-comunhão, quer seja na alegria ou na tristeza, na saúde ou na doença, todos os dias das suas vidas. E isto é a fidelidade, esse amor que vence no tempo, até chegar ao amor já sem tempo chamado eternidade. Vivendo esta fidelidade, da boca se ouvirá um hino de louvor que brota do coração: “Esta é realmente osso dos meus ossos e carne da minha carne.”
Viver a exigência do amor fiel entre esposos, como Cristo propõe, pode ser muito difícil de acolher. O segredo é acolher esta proposta na simplicidade, como uma criança que se sente necessitada do amor e proteção dos Pais. Acolhendo a proposta do amor de Deus, homem e mulher tornam-se comunidade de amor.
Expressão dessa mesma comunidade de amor é também a comunidade que se reúne em Eucaristia, “reunidos no amor de Cristo”, e que se alimenta desse amor, feito partilha e doação. A comunidade alimentada de Cristo constitui-se também ela em partilha e doação de vida.
3. Silêncio meditativo e diálogo
Foi por causa da dureza do vosso coração que ele vos deixou essa lei.
A exigência do amor de Cristo leva-nos muitas vezes a criar resistência à aceitação desse amor.
O meu coração também é duro e fecha-se a esse amor? Ou tenho um coração disponível capaz de acolher a Sua proposta e de fazer a Sua vontade?
Deste modo, já não são dois, mas uma só carne.
A união entre marido e mulher, não anulando as diferenças e caraterísticas de cada um, constitui-os em unidade. Na Eucaristia a comunidade torna-se expressão dessa unidade que celebra a “um só coração e uma só alma”.
Reconheço que na Eucaristia a minha vida entra em verdadeira comunhão com os meus irmãos? Reconheço que sou carne de mesmo corpo que é Cristo?
Quem não acolher o reino de Deus como uma criança, não entrará nele.
Acolher o Reino de Deus implica colocarmo-nos como criança que confia na mãe e no pai e por isso se lança aos seus braços.
Atiro-me com confiança para os braços de Deus? Tenho fé suficiente para fazer a sua vontade?
4. Gesto e oração final
– Neste XXVII domingo do tempo comum, viver e celebrar a Eucaristia dando graças a Deus em especial pela porção do Povo de Deus que é a Igreja Diocesana de Leiria-Fátima, guiada pelo seu bispo.
Termino com a oração seguinte:
“Senhor Jesus,
Abre o nosso coração para a relação com os nossos irmãos.
Que nas diferenças saibamos caminhar juntos,
Que nas semelhanças louvemos o Teu amor uno,
Alimentados por Ti sejamos capazes de fazer comunidade,
E de caminhar em Igreja até ao Reino de Deus Pai.”
– Pai Nosso.