«ESCUTA, OBSERVA E PÕE EM PRÁTICA»
Lectio Divina – DOMINGO XXII TEMPO COMUM (Ano B), 29/8/2021
Breve introdução
A oração coleta do 22º Domingo do Tempo Comum faz-nos pedir a Deus que infunda em nós o amor ao seu nome, para que se estreite a nossa união com Ele e, assim, Deus dê vida ao que em nós é bom. Por isso, a liturgia da Palavra deste Domingo propõe-nos uma reflexão sobre a Lei de Deus. Deus quer que nos realizemos plenamente e é justamente nesse sentido que nos propõe a sua Lei. O convite à escuta («Escuta, Israel!») é um apelo não só ao cumprimento dos preceitos divinos, mas uma exortação à vida plena que o cumprimento da Lei pode dar. A Palavra de Deus, ou seja, a sua Lei, não é somente uma doutrina a seguir, um mandamento a ser cumprido, mas é o próprio Deus presente na sua Lei, em Jesus Cristo, Verbo encarnado.
A primeira leitura do livro do Deuteronómio garante-nos, de facto, que as “leis” e preceitos de Deus são um caminho seguro para a felicidade. No Evangelho, Jesus denuncia a atitude daqueles que cumprem superficialmente a Lei. A Lei de Deus é na verdade um caminho. É um caminho para Deus e com Ele. Por isso, para Jesus, a verdadeira religião não se centra no cumprimento formal das “leis”, mas na conversão que leva o homem à comunhão com Deus. Esta comunhão conduz também à comunhão de amor com os irmãos. Por isso a Igreja reza assim connosco: «Deus do universo, de quem procede todo o dom perfeito, infundi em nossos corações o amor do vosso nome e, estreitando a nossa união convosco, dai vida ao que em nós é bom e protegei com solicitude esta vida nova».
- Invocação
Senhor Jesus, Tu és a Lei,
mas nós não seguimos apenas as tuas normas e os teus decretos.
Nós seguimos a tua pessoa.
Seguimos-Te a Ti, Senhor!
Tu és a Palavra, és o Verbo de Deus,
és a Lei encarnada,
és a Doutrina que se fez pessoa.
Ajuda-nos, Senhor, a encontrarmos sempre em Ti
a coragem e a determinação para continuarmos a seguir-Te,
a escutar-Te e a amar-Te.
Ámen.
- Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem do livro do Deuteronómio (Dt 4,1-2.6-8)
Diante da promessa de Deus, porque já se avistava a Terra Prometida, Moisés recorda a Israel o dever de observar a Lei, a importância da Escuta e da obediência à voz de Deus. Moisés recordava, ainda, a perfeição e a superioridade da Lei de Deus, em comparação com as leis dos outros povos. Não há povo mais sábio que o povo que escuta e cumpre a Lei do Senhor. Cumprir a lei, segundo Moisés, é também dar testemunho. A lei de Deus é, de facto, aquela luz, única e necessária, que ilumina os olhos e ensina aos homens o caminho autêntico da vida, de uma vida plena, verdadeira e feliz. A ordem é simples: escuta, observa e põe em prática.
- Leitura do livro do Deuteronómio (Dt 4,1-2.6-8)
«Moisés falou ao povo, dizendo:
“Agora escuta, Israel, as leis e os preceitos que vos dou a conhecer
e ponde-os em prática, para que vivais
e entreis na posse da terra que vos dá o Senhor, Deus de vossos pais.
Não acrescentareis nada ao que vos ordeno, nem suprimireis coisa alguma,
mas guardareis os mandamentos do Senhor vosso Deus, tal como eu vo-los prescrevo.
Observai-os e ponde-os em prática:
eles serão a vossa sabedoria e a vossa prudência aos olhos dos povos,
que, ao ouvirem falar de todas estas leis, dirão:
‘Que povo tão sábio e tão prudente é esta grande nação!’.
Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si
como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos?
E qual é a grande nação que tem mandamentos e decretos tão justos
como esta lei que hoje vos apresento?»
(momento para ler de novo em silêncio e interiorizar a Palavra de Deus)
2.3. Breve comentário
O texto de Dt 4,1-2.6-8 faz parte do primeiro discurso de Moisés que abre a primeira parte do livro (Dt 1,6 – 4,43). Na primeira parte desse discurso (cf. Dt 1,6-3,29), o autor expõe através de Moisés um resumo da história de Israel, desde o Horeb/Sinai, até à chegada ao monte Pisga, na Transjordânia. Na parte final desse primeiro discurso (Dt 4,1-43), o autor faz várias exortações, resumindo a Aliança de Deus com os israelitas e as exigências que dela advêm. Esta parte final do primeiro discurso de Moisés começa com a expressão “e agora, Israel…”. O compromisso que se pede a Israel fundamenta-se nos acontecimentos históricos anteriormente expostos. Deus agiu em favor do seu povo, e «agora» Israel deve comprometer-se com o Senhor. Israel deve acolher e praticar as leis e os preceitos que Deus lhe deu. É a resposta dos israelitas a Deus que os libertou, que agiu para os salvar.
As leis e os preceitos do Senhor são de facto um caminho que conduz o povo à felicidade e à liberdade. Na parte final do discurso é manifestada assim a alegria de Israel ser um povo especial, o povo eleito. Esta eleição manifesta-se na presença amorosa e libertadora de Deus junto deles: («Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos?»); manifesta-se também no dom da Lei e na «sabedoria» presente nessas leis e preceitos que o Senhor deu ao seu povo, a fim de o conduzir («E qual é a grande nação que tem mandamentos e decretos tão justos como esta lei que hoje vos apresento?»). Israel, contudo, nem sempre acolheu e cumpriu as leis e os preceitos do Senhor; mas a Lei é antes de mais uma proposta segura para chegar à vida plena. É esta a convicção que Moisés deixa transparecer nesta exortação a Israel e que hoje todos devemos acolher.
- Silêncio meditativo e diálogo
«Moisés falou ao povo, dizendo».
Senhor, dá-nos sempre pastores que nos falem. Dá-nos sempre a graça de acolhermos a voz dos nossos pastores. Que eles ousem falar. Que eles nos exortem. Abençoa, Senhor, o Papa Francisco, os nossos Bispos, os nossos sacerdotes e todos os que se fazem pastores e que falam ao teu povo. Que eles ousem exortar-nos. Que eles não se calem. Que eles tenham sempre algo de importante e belo para dizer ao povo. Porque precisamos, Senhor, cada vez mais, da voz de pastores que nos conduzam. Como ovelhas que conhecem a voz do pastor, também nós, Senhor, queremos ouvir e reconhecer a voz dos nossos pastores.
– Quem é o meu “pastor”, ou quem são os meus pastores, nesse caminho que faço com Deus e em Igreja? Tenho alegria quando ouço o meu pastor, o padre da minha comunidade, o catequista, … alguém que me fala de Deus?
«Agora escuta, Israel, as leis e os preceitos que vos dou a conhecer».
Para Israel este imperativo, «escuta», faz parte da sua identidade enquanto povo de Deus. É a primeira lei para Israel: escutar a voz de Deus. Senhor, ensina-me a ter ouvidos prontos para Te escutar. Eu quero escutar-Te. Fala-me, Senhor, através da tua Palavra. Fala-me, através dos teus servos. Fala-me, através da Igreja. Escutar-Te seja para mim algo que me defina, que me caracterize como homem/mulher de fé. Que eu queira conhecer e viver sempre mais os teus preceitos. Obrigado, porque falas comigo. “Fala, Senhor, que o teu servo escuta!”
– Tenho procurado conhecer as leis de Deus? Tenho consciência do bem que faz à vida cumprir os mandamentos de Deus? Tenho dado ouvidos à Palavra de Deus?
«Não acrescentareis nada ao que vos ordeno, nem suprimireis coisa alguma, mas guardareis os mandamentos do Senhor vosso Deus, tal como eu vo-los prescrevo. Observai-os e ponde-os em prática».
Obrigado, Senhor, pelos teus preceitos. O primeiro e o maior deles é amar-Te acima de todas as coisas e ao próximo como a mim mesmo. Obrigado, Senhor, por me ensinares a amar a Deus e ao próximo. A tua morte na cruz é este grande ensinamento de amor. Tu, na cruz, mostraste como é possível amar a Deus e ao próximo, mesmo diante de tamanha adversidade. Que eu conheça o bem que é a tua lei e não lhe tire nem acrescente nada. Ela é perfeita como é. Obrigado, Senhor.
– Conheço as leis de Deus? Conheço-as e procuro cumpri-las? Ou existem leis divinas que não as compreendendo e as acho injustas? O que devo fazer para conhecer mais e melhor as leis de Deus e assim poder cumpri-las?
«… eles serão a vossa sabedoria e a vossa prudência aos olhos dos povos, que, ao ouvirem falar de todas estas leis, dirão: ‘Que povo tão sábio e tão prudente é esta grande nação!’».
Obrigado, Senhor, pelos teus preceitos. Que eu os conheça. Que eu possa cumpri-los sempre. Que eu testemunhe com a minha vida como é bom praticar as tuas leis. Obrigado, Senhor, pela tua lei.
– Enquanto cristão, tenho dado testemunho no cumprimento das leis de Deus? Tenho feito brilhar diante dos homens a luz de Deus que há em mim? Tenho sido sábio neste mundo ao gerir a minha vida segundo a lei de Deus?
«Qual é, na verdade, a grande nação que tem a divindade tão perto de si como está perto de nós o Senhor, nosso Deus, sempre que O invocamos?».
Obrigado, Senhor, porque estás connosco. Que eu saiba procurar-Te sempre. Que eu me aproxime de Ti sempre. Que eu me refugie sempre, seguro e confiante, na tua presença na Eucaristia. Obrigado, Senhor, porque estás em mim, como Lei gravada no coração.
Tenho procurado estar sempre na presença de Deus? Faço do meu dia-a-dia uma constante oportunidade de estar com Deus, já que Ele está perto de mim sempre que o invoco? A Eucaristia dominical é sempre esse momento de encontro com Deus? É assim que eu a vivo sempre que vou à Missa?
- Propósito e oração final
A partir desta palavra proponho-me:
– Escutar mais a Palavra de Deus. Comprometo-me a fazer da leitura da Bíblia uma prática da vida. Só assim conhecerei melhor as leis de Deus.
– Agradecer: dar graças a Deus porque Ele nos deixou leis tão importantes para o nosso bem-estar neste mundo. Dar graças ainda porque para além deste mundo, as leis de Deus são caminhos de felicidade eterna.
– Obrigado Senhor. Obrigado, meu Deus.
– Pai Nosso, que estais no Céu…