Lectio divina para o 19º Domingo do Tempo Comum

Neste domingo, Jesus apresenta-se como pão da vida, não alimento de vida terrena, mas alimento gerador de vida eterna. Isto provoca reação adversa nos ouvintes, pois só Deus tem palavras de vida eterna. Como pode aquele homem, que eles «conhecem», ousar fazer tais afirmações, colocando-se ao nível de Deus?

Jesus pão de Deus que dá vida eterna

Lectio Divina para o Domingo XIX do Tempo Comum (Ano B), 8.08.2021

Breve introdução

Neste domingo, Jesus apresenta-se como pão da vida, não alimento de vida terrena, mas alimento gerador de vida eterna. Isto provoca reação adversa nos ouvintes, pois só Deus tem palavras de vida eterna. Como pode aquele homem, que eles «conhecem», ousar fazer tais afirmações, colocando-se ao nível de Deus? As palavras de Jesus são um apelo à fé e são também o anúncio da Eucaristia – sacramento em que Ele nos dá como Pão da vida o Seu próprio Corpo.

  1. invocação

Senhor Jesus, que nos destes a conhecer o Pai 
e nos alimentais com o vosso Corpo e Sangue,
concedei-nos a graça de vivermos 
a comunhão de vida plena convosco e com o Pai, 
na unidade do Espírito Santo.
Ámen

  1. Escuta da Palavra de Deus
  1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho de S. João (Jo 6, 41-51)

Este excerto do Evangelho de João continua a sequência do que escutámos nos domingos anteriores. O capítulo 6 relata a multiplicação dos pães e dos peixes, a aparição de Jesus caminhando sobre as águas e, depois, o discurso em que Jesus se apresenta como o verdadeiro pão descido do Céu que dá vida eterna. É parte deste discurso que vamos escutar.

2.2. Leitura do evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo São João

Naquele tempo, os judeus murmuravam de Jesus, por Ele ter dito:
«Eu sou o pão que desceu do Céu».
E diziam: «Não é Ele Jesus, o filho de José?
Não conhecemos o seu pai e a sua mãe?
Como é que Ele diz agora: ‘Eu desci do Céu’?».
Jesus respondeu-lhes: «Não murmureis entre vós.
Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer;
e Eu ressuscitá-lo-ei no último dia.
Está escrito no livro dos Profetas:
‘Serão todos instruídos por Deus’.
Todo aquele que ouve o Pai e recebe o seu ensino vem a Mim.
Não porque alguém tenha visto o Pai;
só Aquele que vem de junto de Deus viu o Pai.
Em verdade, em verdade vos digo:
Quem acredita tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida.
No deserto, os vossos pais comeram o maná e morreram.
Mas este pão é o que desce do Céu,
para que não morra quem dele comer.
Eu sou o pão vivo que desceu do Céu.
Quem comer deste pão viverá eternamente.
E o pão que Eu hei de dar é a minha carne,
que Eu darei pela vida do mundo».

Palavra da salvação.

(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)

2.3. Breve comentário

«Eu sou o pão vivo que desceu do céu»

Simplesmente absurdo. O auditório sabia muito bem quem era Jesus. Ou antes, julgava sabê-lo. Jesus era o filho de José, os seus pais eram conhecidos. Como se apresenta dizendo que desceu do céu? A murmuração era natural. E serve para nos introduzir outra vez no ambiente do Antigo Testamento: na murmuração do antigo povo de Deus. Também voltará a aparecer o tema do maná. O evangelista não perde nenhuma oportunidade para estabelecer a conexão entre a multiplicação dos pães e o discurso sobre o pão da vida. A questão da origem de Jesus aparece frequentemente como motivo de incompreensão. Como pode conciliar-se a afirmação de que é o Filho do homem com a sua origem humana, e esta origem humana com a afirmação de ser o pão que desceu do céu? 

Jesus nunca responde à questão da sua origem, limitando-Se ao puramente humano. A resposta à objeção sobre a sua absurda pretensão está no facto de ele se apresentar como enviado e revelador do Pai. Desceu do céu como o pão da vida para o homem.

Seja como for, conciliar a origem humana com a verdadeira origem de Jesus, só pode conseguir-se mediante o dom da fé que Deus concede. Ninguém pode ir a ele se não for levado pelo Pai. A frase apresenta-nos um fatalista. É preciso, para o evitar, ter em conta o modo como Deus leva o homem. Não o leva à força mas pelo convite à decisão pessoal perante a sua manifestação na Escritura. A escritura dá testemunho de Jesus. Isto é, o caminho para ser levado pelo Pai até Jesus está aberto a todos. Neste sentido, irão a Jesus todos aqueles que lerem corretamente a Escritura, que escutarem o Pai, que forem ensinados por Deus. 

Os judeus, porém, murmuravam. Esta atitude evoca a do antigo povo de Deus. O tema é incluído porque a murmuração é o mais claro indício de não querer acreditar. Só quando existir uma verdadeira abertura à moção de Deus, quando se deixar de murmurar, pode ter lugar o facto de Deus levar o homem a Jesus. O Evangelista, ao referir assim as palavras de Jesus citando Isaías, pretende afirmar que estamos no tempo que o profeta tinha anunciado. O ensinamento – «serão instruídos por Deus» – tem um duplo aspeto: um exterior, personificado em Jesus que já está no meio deles, e outro interior, ou seja, Deus atuando no Coração.

Assim sendo, a receção da vida já não está apenas vinculada ao facto de ir a Jesus e de acreditar nele. É preciso «comer» o pão. Isto é assim porque apenas ele realiza plenamente a ideia e a realidade nela implicada do pão de Deus que desceu do céu. Este evita a morte, coisa que o maná não pôde fazer. Ele e só ele – não o maná de Moisés – é o pão vivo que desceu do céu e que tem a capacidade de comunicar a vida eterna.

O texto mostra claramente que ter a vida eterna significa estar em união com Jesus. E esta união é participação na que existe entre o Pai e o Filho. 

3. Silêncio meditativo e diálogo

Eu sou o pão vivo que desceu do céu. 

Simplesmente absurdo. O auditório sabia muito bem quem era Jesus, o filho de José. Como pode conciliar-se esta sua origem humana com a afirmação de ser o pão que desceu do céu? 

A receção da vida já não está apenas vinculada ao facto de ir a Jesus e de acreditar nele. É preciso «comer» o pão. Ele e só ele – não o maná de Moisés – é o pão vivo que desceu do céu e que tem a capacidade de comunicar a vida eterna.

Os judeus murmuravam de Jesus.

Um mau julgamento, se transmitido, cria raízes incontroláveis. Dou origem ou alimento murmurações? Transmito o que ouvi, mesmo sabendo que é mentira, ou, sendo verdade, vai tirar a fama, o bom nome, de alguém?

Ninguém pode vir a Mim, se o Pai, que Me enviou, não o trouxer…

Jesus revela o Pai e a sua atração para ele. Sob a moção do Espírito, introduz-nos na comunhão de amor de Deus Trindade Santíssima. Na oração e na vida quotidiana, procuro a comunhão com o Pai que Jesus revelou, ou vejo Deus como eu queria que Ele fosse? 

– Quem comer deste pão viverá eternamente.

Na Missa, por nosso amor, o próprio Jesus, Filho de Deus, dá-se em alimento. A comunhão pressupõe disposição interior para o receber dignamente. Comungo quando me “sinto bem” e estou motivado, ou preparo-me interiormente, escutando a Palavra de Deus e procurando o sacramento da reconciliação?

  1. Propósito e oração final

– Ao longo da semana, procura estar atento(a) às palavras, à voz interior e os sinais de Deus. E faz crescer em ti o desejo de participar na Eucaristia dominical e de comungar o Pão da Vida, que é Jesus.

Cada participante pode, querendo, apresentar uma breve intenção de oração.

Pai Nosso

Repositório LECTIO DIVINA
https://bit.ly/2W4uDI6

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