«Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração»
Lectio Divina para o Domingo XIX do Tempo Comum (Ano C), 07.08.2022
Breve introdução
No caminho para Jerusalém, Jesus dirige-se ao “pequenino rebanho” que o acompanha, convidando-o ao desprendimento, à confiança e à vigilância. O Pai oferece-nos o tesouro do Reino, e é nesse tesouro que Jesus nos convida a centrar o coração. O caminho continua tendo sempre como horizonte a bem-aventurança eterna e, por isso mesmo, deverá ter também o compromisso de tudo fazer para tornar este mundo mais justo e mais habitável: «aliás, é exatamente esta nossa esperança de possuir o Reino na eternidade que nos impele a agir para melhorar as condições da vida terrena, de maneira especial dos irmãos mais frágeis» (Papa Francisco, Angelus, 7 de agosto de 2016). Na Eucaristia, acolhemos o Senhor Jesus que vem constantemente ao nosso encontro, nos senta à sua mesa e nos serve a Si mesmo como alimento, para nos fazer saborear, desde já, o banquete do Reino.
1. Invocação
Senhor nosso Deus,
nós te damos graças pelo Reino dos Céus
que nos ofereces como tesouro inesgotável.
Nós te damos graças pelo Senhor Jesus,
que bate à porta do nosso coração para nos fazer sentar à sua mesa
e nos servir no banquete do Reino.
Nós te pedimos que nos concedas o Espírito Santo
para que Ele nos mantenha confiantes e vigilantes,
comprometidos na construção do teu Reino de Amor no mundo.
Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo São Lucas
No texto do Evangelho que vamos escutar, Jesus chama os seus discípulos a uma atitude constante de vigilância. Para não perder o tesouro inesgotável nos Céus, nem deixar de acolher o Senhor que vem ao nosso encontro, essa atenção comprometida na construção do Reino é reforçada com três breves parábolas que compõem esta catequese.
2.2. Leitura do Evangelho segundo São Lucas (Lc 12, 32-48)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: «Não temas, pequenino rebanho, porque aprouve ao vosso Pai dar-vos o reino. Vendei o que possuís e dai-o em esmola. Fazei bolsas que não envelheçam, um tesouro inesgotável nos Céus, onde o ladrão não chega nem a traça rói. Porque onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração. Tende os rins cingidos e as lâmpadas acesas. Sede como homens que esperam o seu senhor ao voltar do casamento, para lhe abrirem logo a porta, quando chegar e bater. Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes. Em verdade vos digo: cingir-se-á e mandará que se sentem à mesa e, passando diante deles, os servirá. Se vier à meia-noite ou de madrugada, felizes serão se assim os encontrar. Compreendei isto: se o dono da casa soubesse a que hora viria o ladrão, não o deixaria arrombar a sua casa. Estai vós também preparados, porque na hora em que não pensais virá o Filho do homem». Disse Pedro a Jesus: «Senhor, é para nós que dizes esta parábola, ou também para todos os outros?». O Senhor respondeu: «Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens. Mas se aquele servo disser consigo mesmo: ‘O meu senhor tarda em vir’, e começar a bater em servos e servas, a comer, a beber e a embriagar-se, o senhor daquele servo chegará no dia em que menos espera e a horas que ele não sabe; ele o expulsará e fará que tenha a sorte dos infiéis. O servo que, conhecendo a vontade do seu senhor, não se preparou ou não cumpriu a sua vontade, levará muitas vergastadas. Aquele, porém, que, sem a conhecer, tenha feito ações que mereçam vergastadas, levará apenas algumas. A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá».
(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)
2.3. Breve comentário
O texto do Evangelho deste domingo começa por nos situar na perspetiva da nossa caminhada de vida, como peregrinos do Reino: de “rins cingidos”, prontos a caminhar, desprendidos de nós mesmos, procurando a vontade de Deus para as nossas vidas, atentos aos desafios que Ele nos lança. E de “lâmpadas acesas”, para vencer as trevas das “noites da vida” iluminados pela fé, alimentada pela oração e pela Palavra de Deus. Confiantes, porque a presença constante de Deus não nos deixa sós. Vigilantes para acolher o Senhor que vem.
É na descoberta deste “tesouro” dado pelo Pai, que o coração se pode desprender de si mesmo para olhar e cuidar dos outros com o olhar e o cuidado de Deus.
Para não perdermos o “tesouro” que o Pai nos dá, é preciso estar atento, ser vigilante. As três parábolas que se seguem abordam o tema da vigilância. Na primeira, dos servos que de noite aguardam a volta do seu senhor, «Jesus apresenta a vida como uma vigília de espera ativa, um prelúdio ao dia resplandecente da eternidade. Para podermos aceder a ela é preciso que estejamos prontos, acordados e comprometidos no serviço ao próximo, na consoladora perspetiva de que no “além” já não seremos nós que serviremos a Deus, mas será Ele mesmo que nos acolherá à sua mesa. Pensando bem, isto já acontece hoje, cada vez que encontramos o Senhor na oração, ou então quando servimos os pobres, mas sobretudo na Eucaristia, onde Ele prepara um banquete para nos alimentar com a sua Palavra e com o seu Corpo» (Papa Francisco, Idem).
Na segunda parábola, com a imagem da vinda imprevisível do ladrão, e na terceira parábola, com a referência ao administrador de uma casa, depois da partida do patrão, é reforçada a ideia da importância de alimentar a vigilância quer para reconhecer todas as vezes em que Deus continua vir ao nosso encontro e a bater à nossa porta, quer também para não nos deixarmos vencer e abater pelas «muitas injustiças, violências e maldades quotidianas que brotam da ideia de nos comportarmos como senhores da vida dos outros. Nós temos um único Senhor, que não gosta de ser chamado “patrão”, mas sim “Pai”. Todos nós somos servos, pecadores e filhos: Ele é o único Pai» (Papa Francisco, Idem).
3. Silêncio meditativo e diálogo
- «Onde estiver o vosso tesouro, aí estará o vosso coração»
Quais as minhas mais verdadeiras e profundas prioridades na vida? Onde está realmente o meu tesouro, e o meu coração? Sem deixar de me situar no meu mundo de relações, trabalhos, ocupações… procuro que o meu coração bata ao ritmo de Deus?
- «Felizes esses servos, que o senhor, ao chegar, encontrar vigilantes»
A nossa fé não nos retira do mundo. Pelo contrário, cada momento se torna mais precioso porque é um caminho para a eternidade. A vigilância situa-nos nesta atenção constante para não desperdiçarmos a vida: somos convidados a fazer frutificar todos os dons que somos e temos. «Por isso, devemos viver e agir nesta terra com a nostalgia do Céu: com os pés no chão, caminhar na terra, trabalhar na terra, praticar o bem sobre a terra, mas com o coração nostálgico do Céu!» (Papa Francisco)
O que faço para alimentar uma atitude vigilante? A minha oração, a escuta da Palavra, a celebração da Eucaristia, ajudam-me a viver cada momento como uma oportunidade para acolher o Senhor que vem, e a viver com desprendimento e no serviço aos outros?
- «A quem muito foi dado, muito será exigido; a quem muito foi confiado, mais se lhe pedirá»
Comprometer-se e assumir as próprias responsabilidades na vida pessoal, familiar, profissional, comunitária, política e eclesial é um apelo constante do Evangelho que nos faz viver na terra com a “nostalgia do Céu”, procurando que a nossa vida se torne instrumento da construção do Reino de Deus neste mundo, acumulando, dessa forma, um “tesouro” no Céu.
Reconheço os dons, as capacidades e talentos que tenho e procuro pô-los ao serviço dos outros? Estou comprometido em algum serviço na comunidade e procuro viver esse compromisso de uma forma responsável, como instrumento para a construção do Reino?
4. Propósito e Oração final
– Durante esta semana, rezo este texto do Evangelho, pedindo a Deus que me ajude a crescer na vigilância, e no discernimento do compromisso que devo assumir no serviço aos outros.
– Pai Nosso
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