«ENSINA-NOS A ORAR»
Lectio Divina – DOMINGO XVII TEMPO COMUM (Ano C), 24/7/2022
Breve introdução
Na oração coleta do 17º Domingo do Tempo Comum é invocada sobre nós a misericórdia do Senhor, para que possamos aderir, desde já, ou seja, neste mundo, aos bens eternos. Deus é o Sumo e o nosso maior Bem. Ele quis participar da vida do ser humano; e é justamente com misericórdia que Ele vem ao nosso encontro. A primeira leitura deixa claro que Deus tem um olhar atento sobre o homem e sabe da sua má conduta, mas acima de tudo Deus é misericordioso. Ele é, como rezamos no salmo 137, Aquele que está sempre perto e nos atende quando O invocamos. E, como diz São Paulo na segunda leitura, é por Jesus que Deus nos perdoou e nos fez voltar à vida. Por isso, o Evangelho de São Lucas apresenta-nos a oração do Pai nosso; e o melhor meio de encontro e de relação com Deus é, de facto, o da oração. No Pai nosso o foco está sobre o perdão que devemos dar aos outros, porque Deus nos amou e nos perdoou primeiro; e assim devemos fazer, porque filho de peixe, sabe nadar.
- Invocação
Senhor Jesus, Tu és a manifestação concreta da misericórdia de Deus.
Tu és o Amor de Deus que se fez imagem, que se fez pessoa, que se fez tocar.
Tu, Jesus, és Deus que veio ao encontro dos homens.
Ajuda-nos, Senhor, a acolher, a sentir e a viver o Teu amor,
de modo que o possamos transmiti-lo aos outros no perdão,
nos atos concretos de amor, através do que somos e do que temos.
Ámen.
- Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho de Lucas (Lc 11,1-13)
Jesus ensina os discípulos sobre a oração: o “Pai-Nosso”, como sempre foi entendido pelos cristãos de todos os tempos, é o modelo. Através desta oração, Jesus exorta o crente a implorar de Deus o auxílio para as necessidades, mas, acima de tudo, encoraja-os a dirigir-se a Deus, a quem chama de Pai, com toda a confiança.
- Leitura do Evangelho de Lucas (Lc 11,1-13)
«Naquele tempo, estava Jesus em oração em certo lugar. Ao terminar, disse-Lhe um dos discípulos: «Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos». Disse-lhes Jesus: «Quando orardes, dizei: ‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino; dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’». Disse-lhes ainda: «Se algum de vós tiver um amigo, poderá ter de ir a sua casa à meia-noite, para lhe dizer: ‘Amigo, empresta-me três pães, porque chegou de viagem um dos meus amigos e não tenho nada para lhe dar’. Ele poderá responder lá de dentro: ‘Não me incomodes; a porta está fechada, eu e os meus filhos estamos deitados e não posso levantar-me para te dar os pães’. Eu vos digo: Se ele não se levantar por ser amigo, ao menos, por causa da sua insistência, levantar-se-á para lhe dar tudo aquilo de que precisa. Também vos digo: Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á. Se um de vós for pai e um filho lhe pedir peixe, em vez de peixe dar-lhe-á uma serpente? E se lhe pedir um ovo, dar-lhe-á um escorpião? Se vós, que sois maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!».
Palavra da salvação
(momento para ler de novo em silêncio e interiorizar a Palavra de Deus)
2.3. Breve comentário
Os discípulos compreenderam que Jesus não rezava como eles e pediram que os ensinasse. A oração que é ensinada revela-nos que: Deus é um Pai amoroso, que nos perdoa e nos convida a perdoar-nos uns aos outros. Um Pai que procura relação connosco. O foco da oração não somos nós, com as nossas necessidades que devem ser satisfeitas e que são já conhecidas por Deus. Deus é o centro e a parte mais importante da oração; isso porque nós somos importantes para Ele. Por isso Jesus diz-nos que assim como nós, na nossa “maldade”, no nosso pecado, sabemos e podemos dar coisas boas aos nossos filhos, assim Deus dá-nos o que é bom, o que nos é necessário; e não há nada mais necessário que a Sua presença em nós, através do Seu Espírito, que nos faz filhos.
Falar com Deus, “importuná-lo”, dizer o que temos dentro, embora Ele bem saiba “o que está no homem” (Jo 2,25), é fundamental. Existe, porém, uma distância entre o que pedimos e o que realmente desejamos, entre nós e o nosso desejo. Esta distância é percorrida no caminho da oração, e dura uma vida inteira. Pois (só) o Pai sabe o que realmente precisamos (Mt 6,32). Por isso, o Espírito Santo é a «coisa boa» de Deus para nós.
- Silêncio meditativo e diálogo
«… estava Jesus em oração em certo lugar».
Jesus é exemplo do homem orante, do homem que confia em Deus, do crente que se aproxima de Deus em oração. Do fiel que procura ocasiões durante o dia para estar com Deus a sós, em silêncio, mesmo que externamente haja ruido, barulho. Ensina-nos, Senhor, em primeiro lugar, a sabermos procurar ocasiões para orar, mesmo que não tenhamos tempo para parar. Que a oração seja para nós como respirar e comer: indispensável.
– Tenho procurado no meu dia-a-adia «lugares», ocasiões para rezar? A oração é indispensável para mim como respirar e comer?
«Senhor, ensina-nos a orar, como João Baptista ensinou também os seus discípulos»
Ensina-nos, Senhor, que a oração é indispensável. Ensina-nos, sobretudo, a rezar bem, a rezar com a vida. Obrigado, Senhor, porque a oração do Pai nosso diz-nos que somos filhos, que Deus é o nosso Pai. A oração, Senhor, nada mais é que o meio pelo qual nos relacionamos conTigo, que és o nosso Pai.
– Tenho procurado crescer na oração? Tenho rezado com maturidade, ou seja, a minha oração evolui ou é sempre a mesma coisa? Tenho aprendido com Jesus a rezar?
«‘Pai, santificado seja o vosso nome; venha o vosso reino’…».
Em primeiro lugar na oração está Deus. Ele é o mais importante. Ele é Pai. O seu nome deve ser santificado. O Seu reino deve vir ao nosso encontro. Obrigado, Senhor, por seres quem és, um Deus que é Pai, digno de todos os louvores, um Rei poderoso cujo reino é de amor.
– Tenho louvado a Deus? Quando rezo, louvo mais a Deus ou peço mais? Na minha oração, Deus e o louvor a Ele ocupam a parte mais importante, ou penso primeiro em mim e nas minhas necessidades?
«… ‘dai-nos em cada dia o pão da nossa subsistência; perdoai-nos os nossos pecados, porque também nós perdoamos a todo aquele que nos ofende; e não nos deixeis cair em tentação’».
Obrigado, Senhor, pelos dons de cada dia, por aquilo que Te peço hoje, porque hoje me é necessário. Obrigado pelo Teu perdão que me leva a perdoar também. Obrigado, meu Deus, porque estás comigo em todos os momentos, principalmente quando me sinto mais frágil e caio em tentação. Ainda que eu caia, Senhor, sei que estás sempre comigo.
– Peço a Deus pelas necessidades de cada dia, ou estou sempre preocupado com as necessidades de amanhã, do futuro? Perdoo? Sei que o perdão que devo aos outros é a minha decisão de poder amar o meu semelhante que errou? E ainda que eu não volte a ser seu amigo, poderei garantir a minha mão estendida quando ele precisar de mim? Tenho estado sempre em união com Deus para evitar cair em tentação? E quando caio em tentação, recorro ao sacramento do Perdão (Confissão) e sinto que Deus me levanta para eu recomeçar?
«Pedi e dar-se-vos-á; procurai e encontrareis; batei à porta e abrir-se-vos-á. Porque quem pede recebe; quem procura encontra e a quem bate à porta, abrir-se-á».
Obrigado, Senhor, porque, quando Te louvamos e quando estamos em união contigo e com os irmãos, podemos pedir-Te com confiança os dons que tens para nos oferecer.
Quando peço, nas minhas orações, faço-o com confiança, porque sei que, se for qualquer coisa boa para a minha felicidade, Deus permitirá e só me dará o que é bom para mim?
«… quanto mais o Pai do Céu dará o Espírito Santo àqueles que Lho pedem!».
Obrigado, Senhor, pelo Espírito Santo. «Vem, Espírito Santo».
Sei que o Espírito Santo é Deus presente em mim? Sei que invocar o Espírito Santo em todas as circunstâncias da vida, dizendo «Vem, Espírito Santo», é uma oração poderosa e eficaz? Sei que é justamente o Espírito Santo de Deus que me santifica, porque promove a minha comunhão filial com Deus?
- Propósito e oração final
A partir desta palavra proponho-me:
– Orar mais e principalmente melhor: procurar ocasiões para rezar durante o dia. Nem é preciso estar sozinho ou num lugar específico, ainda que às vezes sim. O «lugar» da oração é o coração.
– Perdoar: ainda que a amizade não seja possível e que não seja possível esquecer. Perdoar é ter a mão estendida a quem errou.
– Pai Nosso, que estais nos Céus …