Livres do medo para ser fiéis
Breve introdução
O medo faz parte da natureza humana e tem uma função vital positiva: mostra os perigos, impõe limites, impede gestos ousados, arriscados, insensatos. Mas, descontrolado, pode torna-se obstáculo para uma ação corajosa e a tomada de uma decisão importante na vida. Para o cristão, o medo constitui, não poucas vezes, o pior inimigo, porque pode levar ao temor de perder a própria posição, de se ver diminuído perante os outros ou privado dos seus bens, ao receio da punição, exclusão e até da morte. Quem se deixa dominar pelo medo já não é livre. Por isso, Jesus no Evangelho de hoje insiste por três vezes para não ter medo, argumentando solidamente.
1. Invocação
Jesus, nosso mestre e amigo,
Tu nos ensinas como Deus nos quer livres.
Com o teu Evangelho geras em nós fortaleza e confiança
e nos impeles à entrega generosa e confiante.
Dá-nos, uma vez mais, o Espírito Santo,
para que escutemos as tuas palavras com docilidade,
acreditemos nelas com firmeza e sabedoria
e as ponhamos em prática com confiança e diligência,
dando testemunho do teu amor por todos nós.
Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Leitura do Evangelho segundo São Mateus (Mt 10, 26-33)
Naquele tempo, disse Jesus aos seus apóstolos:
“Não tenhais medos dos homens,
pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se,
nada há oculto que não venha a conhecer-se.
O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia;
o que escutais ao ouvido proclamai-o sobre os telhados.
Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma.
Temei antes Aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo.
Não se vendem dois passarinhos por uma moeda?
E nem um deles cairá por terra sem consentimento do vosso Pai.
Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados.
Portanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos.
A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens
também Eu me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus.
Mas àquele que Me negar diante dos homens,
também Eu o negarei diante do meu Pai que está nos Céus”.
Palavra da salvação
(momento de silêncio para interiorizar a Palavra)
2.2. Breve comentário
Por que é são Mateus escreve sobre o medo? Porque a sua comunidade estava no meio da perseguição por causa do culto ao imperador, ação que os cristãos não podiam realizar, já que só a Deus podiam prestar culto e adoração. E muitos não conseguem aguentar os abusos contínuos, estão no limite e correm o risco de perder a fé. Para os ajudar, o Apóstolo lembra-lhes as palavras do Mestre, como meio de encontrarem força, encorajamento e perseverança.
3. Silêncio meditativo e diálogo
– “Não tenhais medo dos homens, pois nada há encoberto que não venha a descobrir-se…”
É o medo do fracasso da missão. Para a sua explicação, Jesus serve-se do exemplo dos rabis contemporâneos, que, antes de enviar os seus discípulos, os instruíam em segredo; esta sabedoria que permanecia escondida durante muito tempo, um dia, vê a luz no encontro com o povo que reconhece a sua sapiência e preparação. Por outro lado, quer indicar também que a obra do cristão nunca é vã aos olhos de Deus e que, mesmo se vierem a ser condenados à morte, nada pode impedir que o projeto de Deus se realize.
– O medo ao fracasso leva-me à inação?
– “Não temais os que matam o corpo, mas não podem matar a alma”.
É o medo dos maus tratos e da morte. Jesus indica que nenhuma forma de violência pode privar o discípulo do único bem duradouro que recebeu de Deus: a vida. E que há algo que deve ser temido: “aquele que pode lançar na geena a alma e o corpo”, que não é algo externo a nós, mas consiste naquela força negativa dentro de nós que leva a caminhos opostos aos de Deus: é o próprio medo. E, assim, quem tem medo não consegue fazer aquilo que o levaria a realizar a própria vida e por isso “morre” estando vivo.
– Quantas vezes, por medo de ficarmos sós, cultivamos amizades ambíguas, mentimos…?
– “Por tanto, não temais: valeis muito mais do que todos os passarinhos”.
É o medo de que a perseguição possa trazer a privação do necessário para subsistir. Perante ele, Jesus propõe a confiança na providência de Deus, que é Pai. Não promete livrar miraculosamente de todas as adversidades, mas a força para continuar por diante, se tiverem a capacidade de permanecer n´Ele, de ser fiéis. A imagem dos cabelos da cabeça quer ilustrar que nada de nós escapa ao amor de Deus e ao seu cuidado.
– Sinto-me seguro nas mãos de Deus?
– “A todo aquele que se tiver declarado por Mim diante dos homens também Eu Me declararei por ele diante do meu Pai que está nos Céus”.
O Evangelho de hoje conclui com esta promessa, que não se refere ao juízo final, mas àquilo que acontece no dia a dia da nossa vida: Jesus reconhece-se em alguns dos seus discípulos, noutros não. Reconhece-se nos que anunciam a sua mensagem sem medo, a custo de tudo. E promete testemunhar em favor deles diante do Pai. Não se reconhece naqueles que reproduzem diante de todos a sua própria imagem e não a d´Ele.
Procuro anunciar o Senhor ou anuncio-me antes a mim mesmo?
4. Propósito e Oração final
– Durante esta semana, rezo este texto do Evangelho, louvo e agradeço a Deus pelas belas e promissoras palavras de Jesus. Procuro estar atento às oportunidades para as pôr em prática e assim viver com mais alegria, liberdade e confiança, na superação do medo de ser fiel e de testemunhar a vida cristã.
– Pai Nosso
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