Esperar a Páscoa da minha vida
Lectio Divina para o Domingo X do Tempo Comum (Ano B), 6/6/2021
Breve introdução
Há duas semanas celebrámos o Domingo de Pentecostes, que pôs fim aos 50 dias do Tempo da Páscoa. Esta, porém, continua a celebrar-se em cada domingo, na Eucaristia.
Há na liturgia uma pedagogia própria que nos vai introduzindo nos acontecimentos preponderantes da vida de Jesus. Mas, muitas vezes, corre-se o risco de a não aproveitar, porque não mergulhamos de verdade naquilo que celebramos e não tiramos conclusões para a nossa vida. O que é que significou para mim celebrar, uma vez mais, a ressurreição de Jesus? O que é que daí tirei para a vida da Igreja e para a minha? Depois de 50 dias a celebrar o Tempo da Páscoa, alguma vez perguntei o que é que a ressurreição de Jesus tem a ver comigo e com participação na Eucaristia dominical?
Neste décimo domingo do Tempo Comum, S. Paulo confronta-nos necessariamente com esta pergunta. Escutemos, por isso, a Palavra de Deus, e deixemos ecoar em nós esta provocação.
1. Invocação
Ó Deus, que ressuscitaste o Teu Filho Jesus,
coloca no nosso coração o desejo de ressuscitar com Ele.
Desperta os nossos olhos para ver para lá do que se vê
e faz-nos esperar a Alegria eterna do Céu.
Ámen.
2. Escuta da Palavra de Deus
2.1. Vamos ouvir um excerto da Segunda Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios
O trecho que vamos escutar segue-se a um outro, no qual S. Paulo reconhece que aqueles que anunciam o Evangelho são expostos a muitas tribulações, mas que nenhuma delas é experimentada em vão, porque tudo se sofre por amor ao Evangelho, para que a vida de Jesus ressuscitado se manifeste nos crentes. Por isso, a consciência de que o anúncio do Evangelho pode, por vezes, ser pesado não sai da boca de Paulo como um queixume: ele bem sabe que os sofrimentos do tempo presente terão um fim, e que a Alegria do Ressuscitado tudo transformará.
2.2. Leitura da Segunda Epístola do apóstolo S. Paulo aos Coríntios (2 Cor 4, 13 – 5, 1)
Irmãos: Diz a Escritura: «Acreditei; por isso falei».
Com este mesmo espírito de fé, também nós acreditamos, e por isso falamos,
sabendo que Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus
também nos há-de ressuscitar com Jesus
e nos levará convosco para junto d’Ele.
Tudo isto é por vossa causa,
para que uma graça mais abundante multiplique as acções de graças
de um maior número de cristãos para glória de Deus.
Por isso, não desanimamos.
Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando,
o homem interior vai-se renovando de dia para dia.
Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos,
para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória.
Não olhamos para as coisas visíveis, olhamos para as invisíveis:
as coisas visíveis são passageiras, ao passo que as invisíveis são eternas.
Bem sabemos que, se esta tenda,
que é a nossa morada terrestre, for desfeita,
recebemos nos Céus uma habitação eterna,
que é obra de Deus e não é feita pela mão dos homens.
2.3. Breve comentário
Ao lermos as cartas Paulinas, reconhecemos claramente em Paulo um apaixonado anunciador do Evangelho. Mas na sua vida, nem tudo são rosas. O anúncio do Evangelho, não poucas vezes, trouxe-lhe tribulações e perseguições.
Ao entregar-se ao anúncio de Jesus, como fiel Apóstolo, S. Paulo experimentou inúmeras canseiras e privações, sempre suportadas por amor a Cristo. E diante disso, assim o pressentimos pelas palavras que escutamos, Paulo ia dando conta que o seu corpo e as suas forças se iam degradando. Mas o seu enfraquecimento físico não correspondia – isso nos garante pelas suas palavras – a uma debilidade interior pois, dia após dia, sentia crescer nele o homem novo, destinado a permanecer para sempre. E isso é para Paulo fonte de grande alegria e consolação: se é verdade que o anúncio do Evangelho o faz experimentar os sofrimentos de Cristo condenado, o homem interior que nele se vai formando, fá-lo pressentir a glória de Cristo ressuscitado, que também se manifestará no seu corpo.
3. Silêncio meditativo e diálogo
Acreditei; por isso falei. Com este mesmo espírito de fé, também nós acreditamos, e por isso falamos.
A fé de Paulo fá-lo falar. Não é vivida como algo meramente interior, mas como algo que tem urgência de sair para fora. Que tem urgência de ser anunciado.
Como é que eu vivo a minha fé? Como algo que apenas a mim me diz respeito, circunscrito à minha interioridade ou, quanto muito, ao meu núcleo familiar? Ou faço-me um anunciador daquilo que acredito?
Aquele que ressuscitou o Senhor Jesus também nos há-de ressuscitar com Jesus e nos levará convosco para junto d’Ele.
É este o anúncio da Páscoa: Deus Pai ressuscitou Jesus de entre os mortos e fará o mesmo connosco, no fim da nossa peregrinação sobre a terra, muitas vezes marcada pela dor, pelo cansaço e pela desilusão.
Como foi para mim celebrar a Páscoa, num ano tão marcado pela fragilidade? Tenho fé na ressurreição de Jesus? E acredito que também eu sou destinado à vida eterna, com Jesus?
Ainda que em nós o homem exterior se vá arruinando, o homem interior vai-se renovando de dia para dia. Porque a ligeira aflição dum momento prepara-nos, para além de toda e qualquer medida, um peso eterno de glória.
São Paulo não nega as tribulações da vida presente. Mas vive-as com os olhos postos na vida eterna, que nos é oferecida em Jesus.
Como é que eu vivo as tribulações na minha vida? Sou um homem/mulher de esperança, marcado pela fé na ressurreição? E como é que sou sinal desta esperança para os outros?
4. Oração final e gesto
– Em silêncio, perguntando: «Senhor, que queres dizer-me com esta palavra?», procuramos o que Deus nos inspira, as mudanças a que nos convida, o que nos sugere.
– Se estiverem a fazer a Lectio Divina em família, poderão confiar uns aos outros os medos que afligem cada um, procurando-se animar mutuamente a partir da esperança na vida nova que Deus a todos nos quer dar. Também pode ser um momento oportuno para rezar por aqueles membros da vossa família que já partiram para junto de Deus, como sinal de esperança na vida eterna.
– Terminam, rezando juntos o Salmo 16:
Defende-me, ó Deus, porque em ti me refugio.
Digo ao SENHOR: “Tu és o meu Deus,
és o meu bem e nada existe acima de ti.”
Quanto aos deuses que existem no país,
os santos, nos quais se compraziam
aqueles que multiplicam os seus ídolos
e correm atrás deles,
não tomarei parte nas suas libações de sangue,
nem sequer pronunciarei os seus nomes.
SENHOR, minha herança e meu cálice,
a minha sorte está nas tuas mãos.
Na partilha foram-me destinados lugares aprazíveis
e é preciosa a herança que me coube.
Bendirei o SENHOR porque Ele me aconselha;
até durante a noite a minha consciência me adverte.
Tenho sempre o SENHOR diante dos meus olhos;
com Ele a meu lado, jamais vacilarei.
Por isso, o meu coração se alegra
e a minha alma exulta
e o meu corpo repousará em segurança.
Pois Tu não me entregarás à morada dos mortos,
nem deixarás o teu fiel conhecer a sepultura.
Hás-de ensinar-me o caminho da vida,
saciar-me de alegria na tua presença,
e de delícias eternas, à tua direita.