Lectio divina para a Solenidade do Corpo de Deus, Ano C

A festa litúrgica do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo foi criada no século XIII, numa altura em que, na Igreja, surgiram doutrinas que negavam a Presença Real de Jesus, na Eucaristia.
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Eucaristia, pão partido e partilhado entre irmãos

Lectio divina da solenidade do Santíssimo Corpo e Sangue de Jesus Cristo

Breve introdução

A festa litúrgica do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo foi criada no século XIII, numa altura em que, na Igreja, surgiram doutrinas que negavam a Presença Real de Jesus, na Eucaristia.

A instituição da Eucaristia foi na Quinta-feira Santa, mas, como no dia seguinte se celebra a morte de Jesus, não se proporciona um ambiente festivo.

A celebração do Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo tem uma dupla finalidade: dar maior relevo festivo à celebração daquele que é o Mistério Central da Fé dos cristãos e proclamar a Fé na Presença real de Jesus no pão e no vinho consagrados.

Oração inicial

Senhor Jesus Cristo,
que neste admirável sacramento
nos deixastes o memorial da vossa paixão,
concedei-nos a graça de venerar de tal modo
os mistérios do vosso Corpo e Sangue
que sintamos continuamente
os frutos da vossa redenção.
Vós que sois Deus com o Pai na unidade do Espírito Santo.
Amén.

2. Escuta da Palavra de Deus

2.1. Vamos escutar uma passagem do Evangelho segundo S. Lucas

Há muitas maneiras de explicar o que é a Eucaristia. Paulo escolhe contar a sua instituição durante a Última Ceia ((1 Cor 11, 23-26); Lucas, porém, escolhe outra: pega num episódio da vida de Jesus – o da multiplicação dos pães – e lê-o na óptica eucarística. Isto é, utiliza-o para dar a entender aos cristãos das suas comunidades o que significa o gesto de partir o pão que eles repetem regularmente, todas as semanas, no dia do Senhor.

2. 2. Leitura do Evangelho segundo S. Lucas (Lc 9,11 b-17)

Naquele tempo, estava Jesus a falar à multidão sobre o reino de Deus e a curar aqueles que necessitavam. O dia começava a declinar. Então os Doze aproximaram-se e disseram-Lhe: “Manda embora a multidão para ir procurar pousada e alimento às aldeias e casais mais próximos, pois aqui estamos num local deserto”. Disse-lhes Jesus: “Dai-lhes vós de comer”. Mas eles responderam: “Não temos senão cinco pães e dois peixes … Só se formos nós mesmos comprar comida para todo este povo”. Eram de facto uns cinco mil homens. Disse Jesus aos discípulos: “Mandai-os sentar por grupos de cinquenta”. Assim fizeram e todos se sentaram. Então Jesus tomou os cinco pães e os dois peixes, ergueu os olhos ao Céu e pronunciou sobre eles a bênção. Depois partiu-os e deu-os aos discípulos, para eles os distribuírem pela multidão. Todos comeram e ficaram saciados; e ainda recolheram doze cestos dos pedaços que sobraram.

2.3. Breve comentário

O relato da multiplicação de cinco pães e dois peixes por Jesus, segundo Lucas, é o conteúdo do evangelho de hoje. A multidão que segue Cristo arrisca a sua própria segurança e a sua comida só para O ouvir falar do reino de Deus. Jesus vai ao encontro da necessidade da multidão, mas não realiza um simples acto de demagogia. Aquela ceia improvisada converteu-se em sinal do reino que Ele acaba de anunciar, e que, com tanta frequência nas parábolas evangélicas, é comparado a um banquete. O pão é repartido pelos pobres de Deus e os famintos deste mundo, mas na fraternidade e não com filantropia paternalista.

Surpreende que Jesus tenha dito aos Doze: «Dai-lhes vós de comer». Se antes os tinha enviado a partilhar o pão da palavra, agora confia-lhes o pão material. De facto, está a convidá-los a servir e partilhar com os mais pobres a sua própria pobreza, isto é, os cinco pães e os dois peixes que têm. A colaboração dos apóstolos com Jesus no anúncio do reino de Deus e na alimentação da multidão faminta aponta neste sentido: o compromisso eclesial com a libertação humana.

Não está na nossa mão o milagre de multiplicar os pães, mas de partilhar o que é nosso com os outros, multiplicar o pão do amor e do carinho que falta a tantos, e praticar a solidariedade com os mais deserdados. Pôr-se ao lado de quantos necessitam do pão de cada dia quer dizer empenhar-se para que seja realidade no nosso meio tudo quanto o termo «pão» encerra: alimento, habitação, família, trabalho, cultura, liberdade, religião, dignidade pessoal e direitos humanos.

  • Silêncio meditativo e diálogo

É possível resumir num só gesto toda a vida, toda a obra, toda a pessoa de Jesus? Sim, é possível; e o gesto foi escolhido e realizado por Ele, na vigília da sua paixão. Durante a Última Ceia tomou o pão, partiu-o e disse: este é o meu corpo partido; depois tomou o vinho e disse: este é o meu sangue derramado.

Aos seus discípulos Jesus queria dizer: toda a minha existência foi um dom para as pessoas; para mim não fiquei nem com um instante da minha vida, nem com uma célula do meu corpo, nem com uma gota do meu sangue. Ofereci-me completamente, dei-me completamente.

Jesus quis continuar a estar presente entre os seus discípulos como alimento para ser comido e tornar-se parte de nós mesmos. Comendo o corpo e bebendo o sangue de Cristo, aceitamos o seu convite a que nos identifiquemos com Ele. Dizemos a Deus e à comunidade que queremos formar com Cristo um só corpo, desejamos assimilar o seu gesto de amor e queremos doar a nossa vida aos irmãos, como Ele fez. A Eucaristia não é um alimento que se come em solidão: é pão partido e partilhado entre irmãos.

“Dai-lhes vós de comer”.

A Eucaristia torna-me atento a todas as formas de fome dos irmãos: fome de pão, fome de amor, fome de compreensão, fome de perdão e, sobretudo, fome de Deus.

Qual a minha preocupação com os mais necessitados que me rodeiam?

Na primeira carta aos Coríntios, Paulo corrige os abusos do ágape que precedia a Eucaristia na comunidade de Corinto (1 Cor 11, 28-29 – 2ª leitura de hoje).

Não se pode conceber que, por um lado, seja feito o gesto que indica unidade, partilha, igualdade, doação recíproca e, por outro, seja tolerado o perpetuar-se de contrastes, ódios, ciúmes, açambarcamento de bens, prepotência. Uma comunidade que celebra o rito do «partir do pão» nestas condições indignas come e bebe a própria condenação. 

A opção dos cristãos pela justiça e pelo amor, ou seja, o trabalho da igualdade, fraternidade e participação, é o compromisso mais sério que temos para uma celebração digna e autêntica da ceia do Senhor. 

– Como é que a participação na Eucaristia ajuda a fomentar a unidade na minha comunidade e a promoção da justiça e da paz no mundo?

– Que implicações concretas na minha vida tem o envio em missão no final da eucaristia?

Propósito e oração final

Neste dia em que celebramos o Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo, renovemos e aprofundemos a nossa Fé na Presença Real de Cristo sob as espécies do pão e do vinho consagrados e tomemos a resolução de nos alimentarmos mais d’Ele, na Palavra, na oração e, sobretudo, na Comunhão do Seu Corpo e do Seu Sangue.

Bendizemos-Te, Pai, porque hoje nos convidas por Cristo
a sentarmo-nos à mesa da Eucaristia.
Dá-nos, Senhor Jesus, fome do pão da vida que és Tu,
e sacia-nos abundantemente com o teu corpo imolado por nós.
Faz, Senhor, que sejamos generosos em servir os mais pobres
e estejamos dispostos a partilhar tudo o que temos
com os nossos irmãos mais necessitados, como Tu fizeste.

Repositório LECTIO DIVINA
https://bit.ly/2W4uDI6

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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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