A enfermeira e religiosa Mary Jane Wilson, inglesa anglicana convertida ao catolicismo aos 33 anos, aterrou na ilha da Madeira em 1881, servindo uma senhora doente. A doente regressou, mas a irmã ficou, empenhada em prestar auxílio a tantos carenciados de pão, fé, saúde e cultura que ali encontrou. “Convertendo” outras à mesma missão, fundou em 1884 a congregação das Irmãs Vitorianas.
Anúncio evangélico e serviço da caridade
Vida que se dá
Mary Jane Wilson nasceu na Índia, de pais ingleses, em 1840, foi batizada na Igreja Anglicana e recebeu uma cuidada educação humana, cultural e religiosa. Uma crise de fé levou-a a converter-se ao catolicismo, em 1873, e a ingressar na III Ordem Secular de S. Francisco de Assis. Formou-se em enfermagem, trabalhou num hospital londrino e foi nessas funções que um dia chegou à Madeira.
As diversas carências que ali encontrou sensibilizaram o seu coração e despertaram a sua ação caritativa em várias direções: catequese, educação, saúde, amparo à orfandade. Este trabalho não passa despercebido ao Bispo do Funchal, D. Manuel Agostinho Barreto, que a convence a ficar. Ali dedica o resto da sua vida ao serviço aos pobres, instituindo diversas obras de assistência e ensino: orfanato, dispensário, farmácia gratuita, um colégio, diversas escolas primárias e centros de catequese e de promoção humana. A sua ação no combate a uma epidemia de varíola, em 1907, foi considerada de “caridade heroica” e viria a merecer-lhe a condecoração portuguesa de Torre e Espada.
Com a implantação da República, em 1910, foi expulsa de Portugal e viveu um ano de exílio em Inglaterra. Mas voltou à Madeira no ano seguinte e aí faleceu, em 1916, com fama de santidade.
Obra que nasce e cresce
A dedicação da irmã Mary Jane desde logo cativou algumas jovens que se ofereciam para a ajudar e lhe manifestam o desejo de entregar a vida a Deus e aos pobres. Assim, com a ajuda da amiga Amélia Amaro de Sá, a 15 de Janeiro de 1884, fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias, invocação mariana escolhida como padroeira.
Como muita outras, a congregação foi extinta pela I República, mas muitas irmãs continuaram a viver a consagração em segredo. A fundadora regressaria em 1911 e começaria tudo de novo com um pequeno grupo.
A Congregação foi agregada à Ordem dos Frades Menores em 1940, seguindo a regra da Terceira Ordem Regular de S. Francisco de Assis, aprovada pelo Papa João Paulo II em 1982. Está hoje radicada em vários países dos cinco continentes.
Anúncio evangélico e serviço da caridade
As Irmãs Vitorianas assumem uma espiritualidade evangélica centrada no anúncio e implantação do Reino de Deus em todos os corações. Com o lema “A caridade é o vínculo da perfeição”, procuram concretizar esse carisma na promoção humana e espiritual dos pobres, quer sejam de pão ou de saúde, de amor, de cultura, de justiça, de fé ou de esperança. O espírito é o de quem quer colaborar na missão salvadora de Cristo, seja através do ensino, enfermagem, cuidado às crianças e aos idosos, promoção humana, catequese, pastoral de jovens e adultos.
Alguns traços deste carisma são o abandono filial à providência de Deus Pai, a união a Jesus Cristo, a docilidade ao Espírito Santo, a profunda vivência da Eucaristia e da Palavra de Deus como fonte primária e constante da vida consagrada e do zelo apostólico, a especial devoção à Virgem Maria, a adesão à Igreja e obediência às disposições do Papa e dos Bispos, o ambiente franciscano de fraternidade, paz, alegria, simplicidade, pobreza e serviço, o espírito ecuménico e catolicidade aberta a todos os povos e culturas, a sensibilidade ao mais urgente, oportuno e eficaz em cada tempo e lugar, com especial preferência pelos pobres.
Na diocese de Leiria
A primeira comunidade das Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias na diocese de Leiria-Fátima surgiu em 1956 e, na década de 80, uma segunda comunidade foi aberta. Ambas com o mesmo motivo: “a presença em Fátima, local de peregrinação e de espiritualidade com um crescente número de ofertas formativas a nível religioso, muito útil para o aprofundamento espiritual e teológico da irmãs e das jovens candidatas”, refere a superiora local, irmã Gracinda Sousa.
Aqui funciona a sede da Província de Cristo Rei, pelo que algumas irmãs desempenham funções de Governo Provincial, bem como de formação de algumas jovens postulantes. Mas a ação local não é descurada, pelo que as irmãs apoiam a catequese na paróquia de Fátima e a pastoral do Santuário, sendo ainda casa de acolhimento às irmãs e leigos ligados à Congregação e, esporadicamente, a outros peregrinos.
Entrevista à superiora
“Sinto-me verdadeiramente feliz”
A irmã Maria Gracinda dos Santos de Sousa é a superiora local desde outubro do ano passado. Nascida em São Vicente, Madeira, tem 56 anos de idade e 29 de vida religiosa. Fomos conhecê-la um pouco melhor.
Nasceu na Madeira, tal como esta congregação. Conviveu com ela desde a infância?
Tive o meu primeiro contacto com as Irmãs Franciscanas de Nossa Senhora das Vitórias aos 18 anos, quando frequentava um curso de catequistas orientado por duas irmãs vitorianas.
Qual foi o primeiro sinal que sentiu de que Deus a chamava à consagração?
O primeiro toque da minha chamada resultou do contacto com essas duas irmãs, também elas muito jovens. A sua disponibilidade e alegria interpelavam-me a seguir o mesmo ideal. Tentei resistir por algum tempo, mas o Senhor foi mais forte e venceu. “Onde o Espírito sopra” não há nada a fazer!…
Quando ingressou na congregação, quais eram as suas expectativas de vida?
As expectativas concentravam-se no grande desejo era dedicar toda a minha vida a Deus e ao próximo, ao estilo das irmãs vitorianas.
Realizou-se esse desejo?
Sim. Após 28 anos de profissão religiosa, continuo a sentir forte o convite de Jesus a segui-lo nesta congregação. Tive a graça de fazer uma experiência missionária de 10 anos na República Democrática do Congo e um ano em Moçambique, onde aprendi com a gente simples a dar mais valor ao essencial e a relativizar o acessório. Muitas têm sido as dificuldades encontradas, mas a certeza de que Deus faz caminho comigo com a sua presença amorosa enche-me de alegria. Sinto-me verdadeiramente feliz no seio desta família carismática.
Ainda encontra hoje jovens com essas aspirações?
Sim encontro. No momento, a Congregação conta com um bom número de elementos jovens: 40 irmãs juniores (que ainda não fizeram os votos perpétuos), 23 noviças e 15 postulantes.
Por fim, partilhe connosco o seu lema de vida…
“Aquele que te chama é fiel” (Tes 5, 24)
Números…
..no mundo
Casas: 62
Membros: 379
…em Portugal
Casas: 31
Membros: 180
…na Diocese
Casas: 2
Membros: 11
Mais nova: 28 anos
Mais velha: 83 anos
Média de idades: 63 anos
Associação “Amigos da Irmã Wilson”
Em 2002 foram aprovados pela Santa Sé os estatutos da associação de leigos “Amigos da Irmã Wilson”, constituída pessoa coletiva com personalidade jurídica em 2006 e com grupos ativos por todo o mundo. A sua espiritualidade e ação inspiram-se no testemunho da vida da fundadora das Vitorianas e, seguindo estados de vida diferentes, forma com esta congregação uma família carismática que comunga dos mesmos valores e ideais, ao serviço da Igreja e da sociedade.