Homilia de final de ano 2019

Chegamos ao fim de mais um ano. É uma ocasião propícia para parar, mais uma vez, diante do presépio a contemplar como Deus se fez presente durante todo este ano e tomar consciência de que cada tempo, cada momento é portador de graça e de bênção.

Dar graças por todo o bem que há no mundo

Chegamos ao fim de mais um ano. É uma ocasião propícia para parar, mais uma vez, diante do presépio a contemplar como Deus se fez presente durante todo este ano e tomar consciência de que cada tempo, cada momento é portador de graça e de bênção.

Paremos também nós hoje diante do presépio para agradecer todos os sinais da generosidade divina, na nossa vida e na nossa história, na Igreja e no mundo. Neste espírito queremos dar graças a Deus pelo ano que termina e por todo o bem que há no mundo e que é dom seu.

Há muito bem no mundo; é silencioso como o sim de Maria, que não faz barulho. O mal, esse faz barulho. Mas, como lembra o Papa, há “muitos homens e mulheres que se comprometem gratuitamente, gastando a própria vida em servir”, trabalhando silenciosamente para o bem comum. Há muitos que não viram a cara às injustiças, ao escândalo da fome e da pobreza, ao abuso dos pequenos e pobres, não ficam indiferentes face às ofensas à dignidade humana e aos crentes perseguidos. 

“O Natal, na sua genuína simplicidade – afirma o Papa – recorda-nos que aquilo que verdadeiramente conta na vida é o amor”.  Sim, amar custa; é feito de despojamento do egoísmo, de sacrifícios, de paciência, mas é o caminho que leva à alegria e vence a solidão, a tristeza, a violência. A fé só atrai se faz ver o amor. Como é bom e belo lembrar isto ao fazer o balanço da vida no final do ano e nas vésperas do começo do ano novo!  

Recordemos brevemente algumas destas expressões de bem e de graça na vida da Igreja e no mundo.

1. Em primeiro lugar, o recente Sínodo dos bispos sobre “Amazónia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia integral”. Um sínodo “do outro mundo” que colocou no coração da Igreja católica uma periferia longínqua, pouco conhecida e esquecida. Mas provocou a Igreja a refletir sobre um novo paradigma missionário. Este sínodo ajudará a Igreja inteira a responder às exigências atuais de um mundo que não é mais cristão, mas ainda é capaz de escutar o Evangelho, o anúncio de Jesus Cristo.  

Para isso mostra que é necessária uma conversão cultural para que o Evangelho seja capaz de falar às diversas culturas; e uma conversão pastoral capaz de criar uma pluralidade de expressões da fé, da liturgia e de novas formas de serviço pastoral. Além disso, sinaliza a conversão ecológica necessária face à mais ampla e ameaçadora crise que pesa sobre o nosso planeta. Eis um novo desafio à missão da Igreja que inclui “o cuidado da casa comum” confiada por Deus à nossa responsabilidade para que velemos por ela e a preservemos para bem de todas as criaturas, de todos os povos e gerações. 

2. Nesta linha da missão recordo o Ano Missionário em Portugal convocado pela CEP e encerrado aqui em Fátima na peregrinação nacional de 20 de outubro. A finalidade era dar um abanão à Igreja adormecida: reavivar o ardor e a paixão pela missão de Jesus, reacender o dinamismo missionário de uma Igreja em saída da zona de conforto e de inércia, fechada sobre si. Não existe Igreja de sofá, mas em saída ao encontro de todos com o testemunho do entusiasmo e a alegria do Evangelho. A sua força é o seu amor humilde e gratuito que lhe dará credibilidade. 

3. Ao nível diocesano desejaria realçar os encontros com os jovens realizados em cada vigararia ao longo do ano, com a presença significativa de cerca de dois mil jovens. Foi uma oportunidade para escutar as suas inquietações e interrogações sobre a vida e a fé, que os preocupam e por vezes os trazem confusos, mas também para conhecer os seus sonhos de vida feliz e de mundo melhor. Com o Papa Francisco tenho grande confiança de que a geração jovem abrirá no nosso tempo caminhos novos. Já o vislumbramos na maneira como estão a abraçar apaixonadamente a causa ecológica. Neste próximo ano continuaremos a levar por diante a pastoral juvenil, mas agora já rumo à JMJ em 2022 e guiados pela Exortação Apostólica “Cristo vive”. Nela, o Papa desafia os jovens a realizarem percursos de fraternidade, a saírem ao encontro dos frágeis e necessitados, a serem protagonistas da mudança para uma civilização mais justa e fraterna e missionários corajosos da alegria do evangelho. 

4. Este é também um grande e urgente desafio para o nosso Santuário por causa da JMJ. À partida temos a certeza de que Fátima será uma estação incontornável da grande peregrinação dos jovens de todo o mundo a caminho da JMJ: não só pela força da atração única e universal da Virgem peregrina e sua mensagem, mas também pelo próprio tema mariano da jornada “Maria levantou-se e saiu apressadamente”. O Santuário não pode deixar de ter uma oferta de evangelização de qualidade adequada aos jovens do milénio, em novas iniciativas, nos métodos e meios, nas novas linguagens, nos elementos típicos da peregrinação a Fátima como sejam a dimensão mística do encontro com Deus e a beleza da sua misericórdia, e a dimensão profética do apelo à paz e, por extensão, ao cuidado da nossa casa comum, através da ecologia integral.

5. Por fim uma palavra sobre a celebração do dia mundial da paz no primeiro dia do ano à luz da mensagem do Papa “A Paz como Caminho de esperança: Diálogo, Reconciliação e Conversão Ecológica”. Desde logo o título apresenta o essencial da mensagem.

De facto, a paz é um desejo profundo inscrito no ADN do ser humano. Mesmo que o não saiba, espera a paz não como uma coisa qualquer, mas como bem precioso para a humanidade. O Papa fala com a esperança cristã, porque dum ponto de vista humano vemos um mundo tristemente marcado por conflitos e guerras, por divisões sociais e desigualdades gritantes. Contra esta força do mal, traça um caminho de esperança, a virtude que nos dá asas para percorrer um caminho de paciência e perseverança face aos obstáculos e provações, mesmo quando parecem invencíveis. 

Este caminho de esperança passa pelo exercício do diálogo construtivo, criador de pontes que aproximam, que levam ao encontro e à escuta dos outros, ao conhecimento recíproco, a abater muros de preconceitos ideológicos ou culturais, a criar um clima de confiança, a valorizar o que o outro tem de positivo, a valorizar mais o que nos une do que o que nos divide, a construir uma nova cultura do encontro, da fraternidade. Toda a guerra é um fratricídio.

O caminho da paz passa também pelo exercício da reconciliação e do perdão para superar ódios, feridas e divisões, medos e exclusões, desejos de vingança ou vontade de domínio. “Só quando pomos de parte a indiferença e o medo pode crescer e prosperar um verdadeiro clima de respeito recíproco”. A reconciliação leva à cultura da inclusão e da solidariedade.

A busca da paz passa também por uma conversão ecológica. “A falta de respeito pela nossa casa comum e a exploração abusiva dos recursos naturais” são um atentado à paz. Por isso, “o empenho por uma gestão responsável da terra e dos seus recursos é urgente a todos os níveis, desde a educação familiar à vida social e civil, até às decisões políticas e económicas”. Como vemos, os cristãos não podem pôr-se à margem desta missão. Antes, devem estar na vanguarda para escutar e responder ao grito da terra e ao grito dos pobres! Toda a guerra é um ecocídio. 

Não esqueçamos que todos nós somos chamados a praticar estes exercícios do caminho da paz porque esta começa em nós, na nossa casa, na nossa família, em cada dia do ano. 

Caros irmãos e irmãs, um jovem Papa de 83 anos desafia-nos a esperar, mesmo contra toda a esperança humana. Lança o desafio do futuro à Igreja abrindo-lhe novos cenários para a missão que a obrigam à renovação, à reforma evangélica. Mas o desafio à esperança e ao futuro é também para todos os homens e mulheres do nosso tempo a fim de que procurem no mais profundo de si mesmos a força para a mudança necessária.

É bom que ao começar o ano novo elevemos o nosso olhar para a Virgem Maria, Santa Mãe de Deus e Mãe nossa. Ela nos acompanhará ao longo dos dias com o cuidado e a ternura de mãe. Ela cuidará da nossa fé, da nossa esperança e da nossa paz. Não a esqueçamos ao longo do ano. Confiemo-nos a Ela.

A todos desejo um ano de paz na graça do Senhor e com a proteção materna de Maria, a santa Mãe de Deus, Nossa Senhora do Ano Novo!

Santuário de Fátima, 31 de dezembro de 2019. 
† Cardeal António Marto, Bispo de Leiria-Fátima

Refª: CE2019B-008

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