No final de 2013: Entre a surpresa e a esperança

 

Homilia de fim-de-ano 2013

 

 

 

No final de 2013

Entre a surpresa e a esperança

† António Marto

 

Santuário de Fátima

Missa de fim-de-ano, 31 de dezembro de 2013

Ref. BD2013B-009

Saúdo a todos vós aqui presentes que quisestes participar nesta liturgia da última hora do ano do Senhor de 2013. A última é como que a síntese de todas as outras horas do ano prestes a terminar. Para nós cristãos é um momento particular de oração e de ação de graças.

Como quer que tenha sido o andamento do ano, fácil ou difícil, damos graças a Deus. Na fé recebemos uma luz que nos faz ver e permite dizer que, apesar de tudo, há muito bem no mundo, na nossa vida e na Igreja: o bem que mantém de pé o mundo e está destinado a vencer com  a ajuda de Deus.

Às vezes é difícil captar esta realidade profunda, porque o mal faz mais barulho que o bem: violências, crimes, injustiças, mortes são dadas em espetáculo cada dia nos jornais e telejornais, enquanto os gestos de amor e serviço, a fadiga quotidiana vivida na fidelidade e na paciência permanecem ocultos na sombra ou no silêncio. Somos mais propensos a ver a cizânia do que a boa semente.

Mas o cristão é um homem de esperança mesmo no meio da escuridão do mundo. Confia em que o Senhor nos acompanha com a sua bênção e os seus dons, ilumina as trevas e abre caminhos novos e surpreendentes; e que a força da fé é capaz de mover montanhas, como nos dizem as leituras da Palavra de Deus.

Memória grata dos dons de Deus à sua Igreja

1. Uma verdadeira surpresa de Deus foi a renúncia de Bento XVI ao ministério petrino, num ato de grande humildade e inusitada coragem, e a eleição do papa Francisco, vindo do “fim do mundo”, que trouxe um ar novo de frescura e esperança à Igreja e à humanidade. Estamos na presença de uma grande viragem, de ordem pastoral, na história da Igreja. Por isso, 2013 passará à história como um ano extraordinário para a vida da Igreja.

A decisão de Bento XVI testemunha uma grande confiança no Espírito Santo para o percurso da Igreja. Trata-se de uma opção que inaugura uma nova época.  Não esteve ligada apenas ao estado de saúde do Santo Padre, mas também à situação da Igreja neste tempo com a aceleração e acumulação dos problemas e desafios a exigir uma nova guia com novo vigor físico e anímico.

Assim possibilitou a eleição do novo sucessor de Pedro que aconteceu de modo impressionante e inesperado: o Papa Francisco que imediatamente, com novo vigor, pôs a Igreja em movimento para sair do seu recinto e levar a ternura e a misericórdia de Deus às periferias humanas da dor, da solidão e da pobreza,  a fim de curar as feridas e aquecer os corações  acendendo neles a esperança e a alegria. As palavras e os gestos do Papa Francisco tocam as cordas mais profundas da sensibilidade e da personalidade humana porque respondem às expectativas profundas da humanidade ferida, confusa, dividida, desejosa e necessitada de perdão, de uma relação sincera e próxima que leve conforto, misericórdia, encorajamento, cura, reconciliação, paz – a alegria do Evangelho.

2. Ao longo de 2013, a Igreja viveu, como uma grande graça, o Ano da Fé iniciado por Bento XVI e concluído pelo Papa Francisco. Também para a nossa diocese foi um ano pastoral dedicado a reavivar a fé: a reencontrar a novidade, a beleza e o gosto da fé e de vida nova em Cristo; a redescobrir a alegria de crer e a despertar o entusiasmo de testemunhar e comunicar o tesouro da fé. Não é este o momento de fazer um balanço. Mas não podemos deixar de recordar várias iniciativas: a descoberta e o aprofundamento do Concílio Vaticano II como bússola para viver a fé hoje, catequeses sobre a fé na base do Catecismo da Igreja Católica, celebrações várias para as várias idades, testemunhos de caridade, atividades culturais de diverso género, iniciativas que culminaram e tiveram expressão na Festa da fé que ficará inesquecível. Oxalá se possam prolongar no tempo os efeitos positivos do Ano da Fé, visto que a fé é um caminho que continua toda a vida.

O Ano da Fé terminou, mas continua o desejo de manter viva toda a riqueza que recebemos ao longo dos seus dias e meses. Neste sentido, o Papa Francisco encerrou o ano da fé entregando à Igreja a Exortação Apostólica sobre a evangelização com o significativo título “A alegria do Evangelho”, como quem nos diz: “crer significa também tornar os outros participantes da alegria do encontro com Cristo”. Sim, a fé não é um bem privado; “é um bem para todos, um bem comum”, “um serviço ao bem comum”(LF 51), à própria humanização do mundo.

O Santo Padre convida-nos para uma nova etapa evangelizadora, recordando-nos “a doce e reconfortante alegria de evangelizar”.

3. Dentro do Ano da Fé não podemos esquecer a presença em Roma e na Praça de S. Pedro, nos dias 12 e 13 de outubro, da imagem original de Nossa Senhora de Fátima diante da qual o Santo Padre realizou a consagração do Mundo à Virgem Mãe, durante a Jornada Mariana do Ano da Fé. Este acontecimento em simultâneo com a peregrinação aniversária internacional do mesmo mês, presidida pelo Cardeal Secretário de Estado representa o culminar da celebração do Ano da Fé no Santuário sob o lema “Não tenhais medo”. Esta expressão é o eco da mensagem de conforto, de esperança e encorajamento nas horas noturnas do mal, do medo e da dor na história dos homens e do mundo, tal como Nossa Senhora a transmitira aos pastorinhos: “Não tenhais medo! A garça de Deus será o vosso conforto”; “Não desanimes. Eu nunca te deixarei. O meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho que te conduzirá até Deus”.

Entrar com confiança e esperança no novo ano

Finalmente, olhando ao novo ano quero dizer também uma palavra de confiança e esperança no meio da crise. Confiança e solidariedade são as palavras em que desejaria traduzir a esperança do Natal hoje, no sexto ano dos primeiros indícios da crise económica mundial.

Confiança é talvez aquilo de que temos mais necessidade. Vivemos um clima geral de abatimento que liquidou os sonhos da sociedade de abundância e a ingenuidade irresponsável de quem pôs toda a confiança no mercado como se bastasse favorecer o liberalismo económico mais amplo para ver florescer o bem estar de todos.  O Papa Francisco põe-nos de sobreaviso na mensagem para o dia da paz: “Às guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não menos cruéis, que se combatem em campo económico e financeiro, com meios igualmente destruidores de vidas, de famílias, de empresas… As muitas situações de desigualdade, de pobreza e de injustiça revelam uma profunda carência de fraternidade e também a ausência de uma cultura de solidariedade”.

Mas sem confiança não vamos a lado nenhum. O Natal de Cristo com o dom da paz chama a todos, crentes e não crentes, a reencontrar as razões da esperança. “Por favor, não deixemos que nos roubem a esperança”, grita o Papa Francisco. Para isso é necessário redescobrir as razões da solidariedade: só sairemos da crise todos juntos e solidários. Esta exigência de corresponsabilidade de todos exprime-se a vários níveis:

   – no contexto da aldeia global, ela exprime-se na necessidade de uma nova ordem económica mundial, um novo modelo económico, capazes de distribuir mais equitativamente recursos e consumos. À falta de organismos mundiais é urgente o crescimento da consciência coletiva inspirada e educada por personalidades carismáticas que recordam a todos o primado do bem comum. Figuras como Papa Francisco ou Nelson Mandela revelam-se decisivas para estimular o renascimento a partir dos corações;

    a nível local é necessário um novo modelo de política com homens e mulheres testemunhas de esperança possível, com alto sentido de responsabilidade, com espírito de serviço, de humildade, de diálogo, de solidariedade, para construir algo novo, diverso de uma luta de poderes e de jogos de interesses;

    – ao nível das instituições e agências que atuam na sociedade: a escola animada por uma verdadeira paixão educativa; os bancos que não se fechem na defesa do maior lucro possível e concedam crédito a quem tem necessidade de ajuda para recomeçar; a sociedade civil e a Igreja como portadoras de esperança para todos através de gestos e iniciativas credíveis de solidariedade vivida, de partilha ativa, de diálogo sem muros.

Olhemos para o futuro sem medo nem raiva, mas com confiança recíproca, com solidariedade que nasce de corações capazes de partilhar e ajudar sobretudo os mais pobres. Todos solidários venceremos com a força do Senhor!

Na última hora do ano peçamos perdão ao Senhor pelas nossas faltas e, com Maria, Rainha da paz, cantemos-lhe o Te Deum da nossa confiança e gratidão pelos dons recebidos: “Esperei em Ti, Senhor; não serei confundido eternamente”!   

 

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