
Peregrinação das Crianças
Irmãs e irmãos,
Neste dia 10 de Junho, este santuário de Fátima veste-se de especial festa para receber o tesouro mais precioso da humanidade que são as crianças, que são o centro e o tesouro mais precioso das nossas famílias e a esperança do mundo. Por isso também vou falar de modo especial a vocês, os mais novos, porque foi a duas meninas e um menino como vocês que Nossa Senhora aqui se fez ver. Foi também a eles que ela falou, de uma forma muito simples e clara, e disse coisas muito importantes que não só eles entenderam, mas também os adultos.
A Senhora vestida com um manto de luz falava com uma voz tão doce e tão amiga que eles perceberam que se ela falava assim, é porque Jesus é realmente bom, próximo e amigo. Eles aprenderam a ver Jesus pelo olhar e pelas palavras da Mãe d’Ele. Por isso o Francisco dizia à Lúcia: “Gostei muito de ver Nosso Senhor!”
Sentir Jesus assim perto e assim amigo era muito importante, porque depois eles tiveram muitas dificuldades, pois os adultos não acreditavam naquilo que eles diziam e eles foram levados para interrogatórios difíceis que metiam medo. Mas tiveram coragem o foram dizendo sempre aquilo que tinham visto e aquilo que tinham entendido. Os adultos levaram mais tempo a entender, mas, diante da força e da verdade deles, também os adultos acabaram por aceitar aquilo que eles diziam. E os pastorinhos perceberam que, tendo Jesus por perto, mesmos as coisas mais difíceis são possíveis.
Mesmo quando o Francisco e a Jacinta adoeceram, por causa de uma pandemia, continuaram a sentir-se sempre protegidos e apoiadas pela Senhora que veio do céu para lhes dizer que Jesus nunca nos abandona nem mesmo quando morremos, como já aconteceu com eles. Ele quer que estejamos onde Ele está, para vivermos sempre com Ele, com a sua Mãe e todos os santos.
Esta é a primeira palavra que os pastorinhos nos deixam neste dia: olhar com amor e confiança para Jesus, como Maria nos ensina, pois Ele acompanha sempre a nossa vida; dá-nos alegria, dá-nos coragem; dá-nos
compreensão das coisas; e ensina-nos amar as outras pessoas como Ele nos ama.
Para nos ensinar a entender o amor que Deus, o Pai do céu, tem por nós, o Evangelho que lemos há pouco conta-nos o encontro de Jesus com um homem chamado Zaqueu. Ele vivia na cidade de Jericó, era um funcionário importante e tinha-se deixado levar pela mania do dinheiro, tinha roubado e enganado, tornando-se corrupto. Ouviu dizer que Jesus estava a entrar na sua cidade e quis vê-lo. Tinha receio, pois sabia que Jesus não aprovava o modo como ele vivia, mas também ouvia dizer que Ele acolhia a todos, mesmo os que tinham cometido asneiras na vida; e isso fez crescer nele o desejo de O ver. Por isso, e por ser de baixa estatura, empoleirou-se numa árvore para ver Jesus que ia a entrar.
Havia tanta gente na rua e Jesus cumprimentava todos, acariciava os mais pequenos e tocava com carinho os doentes, falando e encorajando a multidão por onde passava. E, quando chegou debaixo da árvore onde estava Zaqueu empoleirado, parou e levantou a cabeça. Toda a gente foi seguindo o olhar de Jesus que parou no baixote Zaqueu agarrado a um ramo, se calhar já a suar de nervoso e de receio daquilo que Jesus lhe ia dizer.
Mas o Mestre não ralhou com ele, não o ameaçou nem fez um sermão: sorriu e disse-lhe até com voz alegre: “Zaqueu, desce depressa, Eu hoje tenho de ficar em tua casa!”. Zaqueu deve ter ficado atordoado e a perguntar se tinha ouvido bem. Não era nada isto que lhe tinham contado de Deus. Só lhe diziam que tinha de esperar o castigo de Deus, que tinha de dar contas da sua corrupção e de todas as suas asneiras… Mas, entretanto Jesus continuava a sorrir e a acenar com a cabeça que “sim”, que era mesmo verdade, que queria ficar em casa dele. Então, como conta o Evangelho, “ele desceu rapidamente e recebeu Jesus cheio de alegria”.
Para Zaqueu foi uma revolução. Tinha visto no sorriso e na vinda de Jesus a sua casa o rosto amável e misericordioso do Pai do céu que vinha para a sua vida. Sentiu uma alegria nova que nem se podia comparar ao gozo que sentira quando acumulava os milhões. Sentiu o desejo de poder sorrir como mesmo sorriso amigo e livre de Jesus e disse-lhe: “Senhor, vou dar metade dos meus bens aos pobres e, se causei qualquer prejuízo a alguém, vou restituir quatro vezes mais.” E houve uma festa naquela casa como nunca tinha havido: uma festa que brotava do coração novo de Zaqueu e contagiava a todos.
Alguns dos que tinham visto tudo começaram a reprovar a atitude de Jesus e diziam que Ele tinha ido a casa de um pecador, de um corrupto. Mas Jesus via as coisas de outro modo. Ele também estava muito contente. Ele tinha dito que, cada vez que alguém descobre na terra o rosto misericordioso do Pai do céu e o acolhe na sua casa, isto é, no seu coração e na sua vida… cada vez que isso acontece, há festa no céu. É por isso que no céu há sempre festa, porque Deus mostra sempre o seu rosto misericordioso aos pecadores que somos nós todos.
Mais tarde certamente Zaqueu deve ter pensado que afinal não era ele que tinha estado à espera de ver Jesus; era Jesus que andava à procura dele… e agora acabara por encontrá-lo. Essa era a razão da alegria de Jesus, como Ele próprio diz: “Eu vim para procurar e salvar o que estava perdido”.
É esse rosto amigo e misericordioso de Deus que a mãe de Jesus ensinou os pastorinhos a ver e nos convida também a ver aqui em Fátima. Espero que voltemos todos a casa com esta imagem de Deus gravada no nosso coração, para termos a Sua alegria, a Sua coragem, a Sua confiança, para nós e para transmitir a todos os que encontramos. Como fez Jesus com Zaqueu, com fez Maria com os pastorinhos, também a Igreja – isto é, nós todos – temos de mostrar a todos os rosto misericordioso e transformador do Pai do céu.
Fátima, 10 de junho de 2022
♰ D. José Ornelas, Bispo de Leiria-Fátima
https://drive.google.com/file/d/1-TVUhSFp8gekg29ZcDjx4xTKIHMJ6Cdd