Homilia da Missa Crismal

Ao reunir-nos esta manhã, nesta catedral, a igreja-mãe da nossa Diocese, é bom ouvir, como dirigidas a nós as palavras que o evangelista Lucas nos lega sobre os sentimentos de Jesus quando se colocou à mesa com os discípulos, neste dia que precede o dom total da Sua vida.
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Uma celebração reveladora para a Igreja

Introdução

Irmãos e irmãs, é com muita alegria e emoção que me encontro hoje a presidir, pela primeira vez, a esta Eucaristia, com a qual iniciamos o Tríduo santo das celebrações pascais.

Saúdo a todas e a todos os que aqui se reúnem em nome do Senhor, nesta solene Eucaristia. Mas permitam-se que, nesta manhã de Quinta-Feira Santa, saúde especialmente os que foram ungidos com o óleo do Espírito para o serviço do Povo de Deus, como Bispos, Presbíteros (e Diáconos), pois este dia é de especial significado para o serviço a que foram chamados na Igreja.

Saúdo especialmente D. António Marto e D. Serafim que nos alegram com a sua presença, o seu testemunho de comunhão, de serviço à Igreja e de fidelidade ao ministério apostólico. Com eles, saúdo com gratidão todos os sacerdotes presentes que, com o Bispo, estão ao serviço da vida e missão da Igreja de Deus.

Saúdo com particular amizade e gratidão os irmãos no sacerdócio que, durante esta ano, celebram os jubileus sacerdotais: o Pe. Isidro da Piedade Alberto, que celebra as bodas de ouro do seu serviço sacerdotal e o Pe. Francisco dos Santos Pereira, com o Pe. Joaquim Vieira Gonçalves que celebram as Bodas de prata.

Sentimo-nos também fraternamente unidos aos nossos irmãos e irmãs enfermos em toda a nossa Igreja, particularmente os irmãos nos Sacerdócio, na Casa sacerdotal em Fátima e os Padres António Cardoso e Marcelo Moraes, vítimas recentes de um grave acidente e felizmente a recuperar de forma estável.

Finalmente, sentimos, pela amizade e pela fé, a comunhão com os irmãos que já partiram do meio de nós, mas com os quais estamos em comunhão no Espírito do Senhor ressuscitado, especialmente aqueles que nos deixaram durante este ano: Pe. Martinho Manuel Vieira  (15.07.2021) e o Pe. Fernando de Oliveira Jorge (27.08.2021).

Assim unidos pelo Senhor Jesus que nos reúne na sua casa e que mandou os seus discípulos a preparar o ambiente para nele celebrar a primeira eucaristia onde ia confiar-lhes o encargo de continuar a celebrá-la em sua memória, preparemo-nos também nós para esta celebração reconhecendo que temos necessidade do seu perdão e do seu Espírito que refaçam a nossa adesão a Ele, a unidade entre nós e o nosso serviço ao seu povo.

VÍDEO
https://youtu.be/R5IAddwCHDU

Homilia

Uma celebração reveladora para a Igreja

Ao reunir-nos esta manhã, nesta catedral, a igreja-mãe da nossa Diocese, é bom ouvir, como dirigidas a nós as palavras que o evangelista Lucas nos lega sobre os sentimentos de Jesus quando se colocou à mesa com os discípulos, neste dia que precede o dom total da Sua vida: “Tenho ardentemente desejado comer esta Páscoa convosco, antes de padecer, pois digo-vos que já não a voltarei a comer até ela ter pleno cumprimento no Reino de Deus” (Lc 22,15s). Esta manifestação de um preciso desejo e intenção de Jesus faz-nos sentir como destinatários de um convite especial, como discípulos e discípulas de Jesus, que continua a ressoar cada vez que obedecemos ao seu mandato: “fazei isto em memória de mim” (Lc 22,19). 

Este convite tem especial significado neste dia, como alegria e a energia de senti-lo presente e atuante na nossa vida e ministério. Se é verdade que este convite e esta celebração englobam toda a comunidade cristã, permitam-se que hoje, o aplique de modo particular àqueles que Jesus continua a chamar para o serviço da sua Igreja, continuando a missão dos primeiros discípulos, isto é os bispos, Presbíteros e Diáconos, ungidos com o óleo do Espírito que hoje se consagra.

O ministério cristão como alegria humilde e grata da eleição

Havemos de entender a nossa vida e o nosso ministério, antes de mais, com um sentimento de humilde gratidão, de alegria e de constante busca de configuração com o modo de viver do próprio Senhor que nos chama, nos dá o seu Espírito e nos envia, em seu nome e segundo o seu Coração, a servir o seu povo.

Mas temos de assumir-nos com sentido de humildade e gratidão de quem reconhece que o mérito desta escolha e predileção não se encontra em nós, mas n’Aquele que nos chamou e nos mantém ao Seu serviço, apesar das nossas debilidades e falhas, como aconteceu com os primeiros discípulos. Eles todos debandaram para que reconhecessem que o tesouro que levam ao mundo não é deles mas de Deus, como diz Paulo: “Levamos este tesouro em vasos de argila” (2Co 4,7). Não somos donos de nada e essa é fonte da nossa riqueza, da nossa alegria, da nossa liberdade: o que levamos e oferecemos povo de Deus, tem origem bem mais acima de nós, n’Aquele que é Santo, Poderoso e Misericordioso. Como Maria podemos dizer: Ele “olhou para a humildade a sua serva…O Todo-poderoso fez em mim grandes coisas; o Seu Nome é Santo” (Lc 1,48s).

Recebendo e partilhando na Igreja o perdão e a comunhão 

Por isso, experiência pessoal da misericórdia de Deus que veio ao encontro da nossa debilidade é o terreno sólido que evita que troquemos a toalha do serviço pelas vestes do protagonismo pessoal, do autoritarismo, do comodismo alienado ou do clericalismo autorreferencial. Do Deus misericordioso aprendemos a ser também misericordiosos e fraternamente atentos aos irmãos e irmãs da comunidade que somos chamados a servir. 

Por isso, a celebração da Eucaristia, alicerçada nesta ceia de Jesus com os discípulos é fonte de comunhão e de serviço especialmente para aqueles a quem é confiado o encargo de preparar de presidir e de servir o banquete do Senhor. É nesta fonte que somos chamados a renovar e alimentar constantemente o estilo da nossa presença ministerial na Igreja. 

O serviço da Eucaristia e da reconciliação que recebemos e oferecemos às nossas comunidades, há de transformar-nos em pessoas especialmente marcadas por atitude concretas de reconciliação, de unidade, de desprendida partilha e de amor. Disso – dessas atitudes concretas e não simplesmente de discursos ou sinais exteriores de identificação – depende a credibilidade missionária do ministério, diz Jesus: “Hão de conhecer que sois meus discípulos se vos amardes uns aos outros” (Jo 14,35). No Evangelho de João, aliás, os discursos da última ceia abundam de recomendações sobre a unidade dos discípulos e concluem com a solene oração ao Pai para que os guarde na unidade, através dos tempos. Neste dia muito especial, Ele continua presente entre nós, reúne-nos com os seus discípulos, continua a dizer-nos “já não vos chamo servos, mas amigos” (Jo 15,15) e a suplicar ao Pai: “que todos sejam um só, como Tu, Pai, estás em mim e Eu em ti; para que também eles estejam em Nós e o mundo creia que Tu me enviaste.” (Jo 17,21). Não só a Igreja, mas o mundo todo, precisam deste testemunho possível, por mais utópico que pareça, da reconciliação, da verdadeira fraternidade e da paz.

O óleo do Espírito de misericórdia e de missão

De atenção, misericórdia e missão falam as leituras de hoje, como luz e  fundamento da bênção dos óleos santos que serão utilizados nos sacramentos da vida da Igreja durante o próximo ano. Na sinagoga de Nazaré, a cidade onde nascera, Jesus proclama o texto do profeta Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos e, aos cegos, a recuperação da vista; a mandar em liberdade os oprimidos, a proclamar um ano favorável da parte do Senhor” (Lc 4,18s). 

Jesus aplica a si este texto e, hoje, proclama-o na nossa Sé diocesana, para que também nós nos identifiquemos com Ele, no nosso modo de ser e no nosso ministério. Foi pela unção do Espírito do Senhor que nascemos como filhos de Deus no batismo, que fomos confirmados como cristãos adultos pelo óleo do Crisma e para o ministério ordenado pela unção do Espírito. 

E o fruto desse Espírito é o cuidar da fragilidade através do anúncio do Evangelho que cura as feridas do corpo e da alma, que aproxima e reconcilia os que estão longe, une o que é diferente e constrói uma humanidade nova de filhas e filhos de Deus. Para isso recebemos o Espírito, o mesmo Espírito que estava em plenitude no Senhor Jesus.

Como dizíamos antes, não somos donos do óleo santo que vamos abençoar em nome do Senhor, mas é importante que as nossas mãos, isto é, as nossas atitudes e os nossos gestos, tenham o odor dos óleos que dispensamos, como expressão do carinho e da misericórdia eterna de Deus.

Assim, o óleo dos enfermos, deve suscitar em nós a sensibilidade e a “com-paixão” de Jesus por todo o sofrimento, a doença e a morte, através da atenção, da solidariedade o do tornar presente o anúncio d’Aquele que veio para os doentes e os pecadores.

O óleo dos catecúmenos, a porta da Igreja, deve encher a nossa alma de consagrados para anunciar o Evangelho a todo o mundo, de tal modo que as nossas comunidades despertem para missão e sintam todos os anos o odor deste óleo que anuncia que a mãe Igreja está grávida de novos filhos e filhas. Um sinal que me tocou profundamente e me encheu de esperança foi ter tido a possibilidade de acolher nesta sé, no primeiro domingo que aqui vim, 11 catecúmenos que receberão o batismo nesta Páscoa em várias das nossas comunidades. 

O óleo do Crisma, permeia de sinais e atitudes todo o nosso ministério, chamando-nos à escuta do Espírito, à liberdade e coragem no serviço da Igreja e à comunhão reconciliadora com Deus e entre os irmãos, para que sejamos transformados e colaboremos eficazmente na palavra que anunciamos e nos sacramentos que celebramos.

Demos graças a Deus pelo bem que o seu Espírito vai realizando pelas nossas mãos e deixemos que a contemplação dos mistérios que celebramos configure o nosso coração, ao estilo do Coração de Cristo Bom Pastor, para o cuidado do seu povo.

É com estes sentimentos, caros irmãos no ministério do sacerdócio de Cristo, que vos convido a renovar, diante de Deus e da comunidade, as promessas que proferistes ao receber o dom da Ordenação sacerdotal para o serviço do povo de Deus.

E a vós todos, irmãs e irmãos, peço que acompanheis com afeto, gratidão e oração a renovação dos compromissos daqueles que vos servem, os presbíteros e os bispos, para que se assemelhem sempre mais a Cristo, Bom Pastor, manso e humilde de Coração, para bem da Igreja e para a credibilidade da sua missão no mundo.

 Sé de Leiria, 14 de abril de 2022

♰ D. José Ornelas, Bispo de Leiria-Fátima

HOMILIA
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Captura de ecrã 2024-04-17, às 12.19.04

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