Homilia da celebração das exéquias padre Pedrosa Ferreira, proferida pelo padre Tarcízio António de Castro Morais, provincial dos salesianos, no dia 27 de abril de 2024.
Caro Senhor D. José Ornelas, familiares e demais amigos do Pe. Pedrosa Ferreira.
Jesus, quando pregava a sua boa nova, era aceite por uns e rejeitado por outros. Foi esse o tom e a reação a Jesus e ao seu Evangelho que vimos no seu tempo e que chega até ao nosso. O mesmo sucedeu com Paulo: a primeira leitura fala-nos dessa rejeição, por parte dos judeus. Paulo, como bom judeu e com o coração entristecido, anuncia, juntamente com Barnabé, aos seus irmãos judeus que, uma vez que eles os rejeitam, se vão dedicar a evangelizar os gentios. “Quando os gentios ouviram isto, alegraram-se muito e louvaram as palavras do Senhor e… acreditaram”. Anunciar o Evangelho a todos, para que se escute a Palavra do Senhor. Receber a Palavra para que acreditemos. Um itinerário de vida e de fé que se faz encontro com o Senhor na sua Palavra. Um encontro que enche de alegria. A preocupação por este anúncio do Evangelho foi permanente na vida do pe. José Pedrosa Ferreira. Quantos o conhecemos, sabemos da laboriosidade e persistência que colocou nesta missão, feita desde o silêncio da escrita, à voz multiplicada de tantos catecismos, livros de dinâmicas, de missas para crianças, propostas, contos, atividades, para melhor aceder à Palavra do Senhor. Um comunicador sem holofotes, nem vaidades, pois a timidez da sua personalidade fê-lo mensageiro das coisas do Senhor, especialmente para aproximar Deus, das crianças, adolescentes e jovens. A par da escrita, um movimento de formação em todas as dioceses de Portugal que auxiliaram tantos a serem melhores anunciadores. E quanto mérito há nessa forma de multiplicar saber e experiência para tornar acessível Jesus. Quantas crianças, adolescentes e jovens, que nunca conheceram o pe. Pedrosa, puderam aprender Jesus e a sua Boa Notícia através do bem, tão bem feito. Quantos puderam criativamente celebrar a alegria da Eucaristia em gestos e palavras simples, graças ao trabalho intenso do pe. Pedrosa.
Apesar do seu espírito tímido e discreto, as palavras foram o seu dom. Começou no jornal “Novidades” para onde escrevia enquanto estudante e continuou anos a fio com o Juvenil (a revista da gente nova) e mais tarde o Cavaleiro da Imaculada e no Boletim Salesiano. Com uma determinação, estilo e capacidade de trabalho só digno de um “bom servo do Senhor”. Chegando assim aos confins da terra, aos confins do coração, onde, através da sua escrita, muitos puderam contemplar a Salvação e a Beleza de Deus, e viver, e celebrar a sua fé.
Parece que Jesus falava aos seus apóstolos sobre assuntos importantes, pouco a pouco, como bem lhe parecia. Um desses assuntos de que falava, era do Pai. Jesus falou-lhes do seu Deus, de Deus Pai em mais do que uma ocasião, mas não parece que os discípulos tenham compreendido tudo o que ele disse sobre ele. Nesta passagem do Evangelho de hoje, o apóstolo Filipe pede-lhe que se deixe de rodeios e lhes mostre claramente o Pai. E é então que ele explica a Filipe, aos seus discípulos e a todos nós, a união íntima entre o Pai e ele próprio, algo a que nós, sozinhos, nunca teríamos chegado: “Quem me viu, viu o Pai… Não acreditas que eu estou no Pai e o Pai em mim? “Se me pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei”. Na pedagogia da fé de Jesus, chegamos a contemplar a Deus Pai, o Reino de Deus, a graça da unidade de amor e de vida com o Senhor. Peçamos a Jesus, mais uma vez,
que continue a convencer-nos de que a sua palavra é especial para nós, porque Filho de Deus. E que continue a convencer-nos de que a amizade que nos dá, a boa nova que nos dá… é a melhor coisa que alguma vez nos aconteceu na vida e que não queremos deixar por nada deste mundo. Desejamos vivamente seguir os seus passos. “A quem iríamos nós?”
Para este Jesus conduziu o pe. Pedrosa uma multidão incontável de cristãos. Fez questão de mostrar o Senhor Seu Deus aos que queriam encontrá-Lo. Que o testemunho deste nosso irmão, o trabalho árduo no silêncio, na simplicidade e na discrição da intimidade com as palavras que o Pe. Pedrosa viveu, sejam para nós testemunha do seu grande amor a Jesus e à evangelização das crianças e jovens. E aprendamos dele a persistência, a constância, esse seu dar-se, que nas muitas palavras escritas nos mostram o desejo de encontrar o caminho que conduz ao Pai, porque assim saberemos onde vamos, porque conhecemos o caminho que é Cristo, caminho verdade e vida que nos conduz à eternidade do Pai.
Hoje pedimos ao Senhor que receba no Seu Reino este seu servo simples, humilde e justo e tão grande no enorme património e enorme herança que deixa a todos os evangelizadores. E na sua forma, na sua simplicidade, a certeza de ter encontrado Jesus como seu Caminho e Vida. E nesse seu testemunho de fé, tão feito de humildade e coração, a indicação de Jesus como fim das nossas vidas. Desde que vislumbrámos que Deus existe, que é responsável por tudo o que nos rodeia, que é o nosso criador… conhecê-lo, saber como é, como são as suas relações connosco… é algo que sempre nos atrai e que sempre desejámos. E a tudo isso nos ajuda o legado que o Pe. Pedrosa nos deixa. Uma vez disse: “arrisco e vou fazendo; à espera que outros façam certamente melhor. Tudo porque esta forma de evangelizar pertence à nossa missão”. E ainda bem que assim fez! Obrigado, pe. Pedrosa. E neste obrigado está contido o obrigado de milhares de catequistas, crianças, adolescentes e jovens, que, através de si, encontraram Jesus e o caminho da Boa Nova. Que encontraram respostas para as suas perguntas. Que encontraram Jesus e que o fizeram seu amigo, seu Senhor, seu Mestre. Que o Senhor o recompense na eternidade que desejamos todos. E que nessa eternidade continue a ser anunciador do amor de Deus! Que encontre em definitivo o autor da Palavra e que essa tenha para sempre em si sabor de eternidade.
Pe. Tarcízio António de Castro Morais, sdb