A Bíblia poderia chamar-se livro das surpresas de Deus. O mais importante livro de narrativas primordiais das origens; de maior número de fontes e documentos antigos, mais traduções e edições, mais autores, mais original e próximo da vida mental e afetiva de mais pessoas; mais aberto à busca e decisão livre de cada um. O que provoca mais surpresas: mais editado, primeiro impresso, traduzido em mais línguas (1.800), mais países. Mais que os de Homero e os de tantos autores antigos, gregos, latinos, etc. Apesar de alguns terem horror em o citar, é o mais citado, copiado, comentado; o mais influente na educação das pessoas para serem boas e fazerem o bem a mais gente. É o livro mais focado num único tema: Deus invisível e Jesus Cristo seu Filho. E a surpresa de ser o livro mais aceite e popular e o mais denegrido, o mais valorizado e mais desvalorizado, o mais defendido e o mais atacado; mais narrativo e menos mitológico. Por isso surpreende que seja considerado sem valor histórico por tantos que lhe antepõem tantas mitologias e fábulas gregas posteriores como quase manuais de educação. E surpreende que dele, memória fundacional da Igreja católica, tantos fizessem um instrumento de ataque à mesma: protestantismos, ateísmos e laicismos iluministas militantes e agnósticos. E não é surpresa que alguns investigadores dos seus géneros literários a usassem contra a fé cristã?
Celebrar o primeiro dia da Palavra de Deus, 26.01.20, é surpresa e paradoxo. Desde há mais de 3 mil anos todos os dias são da palavra de Deus. Quando se começaram a escrever as tradições orais do Deus, único e escondido, desde há tempos imemoriais, Deus vinha falando aos homens de muitos modos. Desde essas palavras ditas, escritas e lidas, nunca mais Ele deixou de surpreender tantos que O encontraram quando menos esperavam. Algumas surpresas são mais conhecidas e polémicas. É um desafio, um jogo, ler a Bíblia em chave de surpresas! Lá encontrarás a tua vida e muitas surpresas. Já imaginaram a cara de Abraão, ao ouvir do interior ou exterior de si mesmo: sai da tua terra; ou ao meditar na promessa de ter descendentes como as estrelas, e estar ele e a mulher na velhice, sem filhos, e quando teve um, o pedido de sacrificar Isaac? E a surpresa de Jacob e José se tornarem “primogénitos”, sem o serem? E a surpresa de Moisés, assassino, ouvir o pedido de regressar ao Egito donde tinha fugido para salvar a pele? Vai lá libertar da escravatura o meu e o teu povo. E a surpresa da Voz que repetia ao profeta Samuel na tenda de Jessé: o mais velho, não, nem o segundo… nem… nenhum dos sete, só o mais novo, o pastorzito David. Para aqueles a quem foram ditas as palavras ou ficaram envolvidos nos eventos delas, e até hoje, os que as ouvem ou leem, é um nunca mais acabar de surpresas. Um Deus escondido que nunca ninguém o viu, nem podia ver sob pena de morrer, sempre falou e muitos o ouviram e viveram surpresas. E há dois mil anos foi visto e falou em Jesus Cristo seu filho, seu Verbo, Palavra. E as surpresas nunca mais pararam. No Evangelho multiplicam-se as surpresas para pobres, fracos e ricos. Imaginemos meditar nas de Maria, José, Zacarias…E nas de Saulo, Ananias e dos que souberam da voz: porque me persegues? Milhares! Só mais estas: a do leproso tocado por Jesus, do cego de nascença ao dizerem: Ele chama-te; de Zaqueu, ladrão, ao ouvir: desce depressa! E de Pedro ao ver Jesus a querer lavar-lhe os pés, e logo o primeiro! E o Mateus, de má fama, ao ouvir: segue-me! E ainda mil outras ao lerem a Bíblia. E as tuas?
Bíblia, para quê? Resposta curta: para Deus se encontrar contigo e te surpreender com o seu amor inesperado; e te surpreender que decidas tu dizer sim ou não ao seu amor. E de uma e muitas vezes te interrogares: mas o que quer Ele de mim, que não me deixa? E te interrogares: sem a Bíblia a humanidade seria melhor? As pessoas seriam melhores, reconheceriam mais seus direitos e dignidade? Haveria menos violências? Menos injustiças? Menos corrupção? Menos depressões e mais esperança de vida eterna?