Gratidão, Paixão e Esperança

 

Homilia de Abertura do Ano da Vida Consagrada

 

GRATIDÃO, PAIXÃO E ESPERANÇA

† António Marto

Capela da Morte de Jesus

Santuário de Fátima, 6 de dezembro de 2014

Refª: CE2014B-010

É para mim motivo de grande alegria encontrar-me aqui convosco na abertura solene do Ano da Vida Consagrada na nossa diocese. Saúdo afetuosamente todos vós que formais esta singular assembleia, expressão da multiforme beleza e riqueza dos carismas da vida consagrada na Igreja.  Neste momento ofereço-vos uma meditação à luz da Palavra de Deus sobre os três grandes objetivos do Ano da Vida Consagrada: olhar o passado com gratidão, viver o presente com paixão, abraçar o futuro com esperança.

Olhar o passado com gratidão

É uma oportunidade para que todos os membros do Povo de Deus agradeçam ao Senhor o dom precioso da vida consagrada e todo o bem realizado por gerações de consagrados nos diversos âmbitos da vida da Igreja e da sociedade. Sem a riqueza de tantos dons e carismas, sem a sua vitalidade e o seu testemunho, a Igreja e a sociedade ficariam muito empobrecidas.

“A vida consagrada é na verdade um dom à Igreja, nasce e cresce na Igreja. Não é uma realidade marginal, isolada, mas está no coração da Igreja como elemento decisivo da sua missão”(Papa Francisco).

Cada instituto é chamado também a olhar a sua história com gratidão a Deus: a redescobrir a chama inspiradora, os ideais, os projetos, os valores que os moveram a começar pelos fundadores. Mesmo as incoerências e infidelidades são apelo à conversão. “Narrar a própria história é dar louvor e ação de graças a Deus por todos os seus dons”(Papa Francisco).

Também cada membro de vida consagrada deve dar graças ao Senhor pelo que realizou em si e através de si e da sua pequenez e da sua pobreza unindo-se a Maria no seu Magnificat.

Viver o presente com paixão

Hoje viveis o carisma de vida consagrada num momento de mudança de época em que está a surgir um mundo novo e diferente, com novos desafios à fé e ao testemunho dos cristãos. No ocidente secularizado domina uma cultura do esquecimento de Deus ou que tem dificuldade em reconhecer os sinais da sua presença. Neste contexto, o Papa Francisco chama a vida consagrada a reavivar a missão profética que a carateriza, nestes termos: “Despertai o mundo. Despertai o mundo”!

Sois pois interpelados a serdes sentinelas de Deus no mundo à semelhança do profeta Isaías e de João Batista como vemos nas leituras de hoje em palavras tão apropriadas:

“Consolai, consolai o meu povo. Falai ao coração de Jerusalém, dizei-lhe em alta voz que está perdoada a sua culpa. Uma voz clama: preparai no deserto o caminho do Senhor… Sobe ao alto de um monte, arauto de Sião. Grita com voz forte, arauto de Jerusalém. Levanta sem temor a tua voz e diz: Eis o vosso Deus. O Senhor Deus vem com poder…Como um pastor apascentará o seu rebanho… tomará os cordeiros em seus braços, conduzirá as ovelhas ao seu descanso”.

Eis pois a vossa missão profética: ser sinais do Mistério santo de Deus na história dos homens, da sua ternura, consolação, misericórdia e esperança e assim despertar o mundo anestesiado com o vosso testemunho luminoso.

Como, em concreto?

Antes de mais, através da vossa paixão por Cristo e, com Ele, pela humanidade, como exorta o Papa Francisco: “Ponde Cristo no centro da vossa vida”! Este pedido  faz eco ao pregão de João Batista todo ele habitado pela missão de indicar Cristo. O Santo Padre concretiza ainda mais: “Todo o carisma para viver e dar frutos está chamado a descentrar-se para que no centro esteja só Jesus Cristo. Não se pode guardar o carisma como uma garrafa de água destilada. Há que fazê-lo frutificar com coragem, confrontando-o com a realidade atual, com as culturas, com a história, como nos ensinam os grandes missionários dos nossos institutos”.

Em primeiro lugar, ponde Jesus Cristo no centro da vivência quotidiana da fé e da vocação, buscando o seu rosto, assumindo os seus sentimentos, deixando-vos cativar por Ele de modo a confessar com S. Paulo “Para nós viver é Cristo”. Mostrai a todos que seguir a Jesus na forma de vida consagrada é belo, enche o vosso coração de felicidade, torna-vos pessoas verdadeiramente felizes.

Ponde Jesus Cristo no centro da vossa vida comunitária para que cada comunidade seja uma verdadeira fraternidade, vivendo a lei do amor fraterno no acolhimento, na atenção aos outros, na partilha e na verdade da humildade. Assim sereis fermento de comunhão na Igreja e no mundo. “Mostrai que a fraternidade universal não é uma utopia, mas o sonho de Jesus para toda a humanidade” pede-vos o Papa Francisco. E ele acrescenta: “Quando o mundo está a arder, não se pode perder tempo em coisas de pouca importância, por vezes pequenas questiúnculas mesquinhas” e até ridículas.

Enfim, ponde Jesus Cristo no centro da vossa missão, saindo do vosso recinto de conforto para ir às periferias, aos desertos áridos da vida levar a luz e o calor do evangelho, a consolação, a ternura, a misericórdia que cuida dos feridos e cura as feridas.

“Há uma humanidade inteira que está à espera: pessoas que perderam toda a esperança, famílias em dificuldade, doentes e idosos sós e abandonados, jovens sem perspetiva de futuro, pobres com fome e carenciados, homens e mulheres à busca de sentido, sedentos do divino”(Papa Francisco).

Saí pois com audácia, sem medo. “Encontrareis a vida dando a vida; a esperança, dando esperança; o amor, amando”(Id).

Abraçar o futuro com esperança

A última palavra é de esperança. A vida consagrada como a vida da Igreja confronta-se hoje com novos problemas e desafios porventura inéditos. Estes exigem de nós cristãos uma mudança na nossa modo de habitar o mundo e o próprio tempo.

Não podemos fechar os olhos à crise de vocações, ao decréscimo do número de membros e ao progressivo envelhecimento, aos abandonos, à perda de relevância social, e até aos escândalos. Mas não podemos ficar parados nas lamentações e paralisados pelo medo. “Não façais coro com os profetas da desgraça que proclamam o fim ou o não sentido da vida consagrada na Igreja dos nossos dias”(Bento XVI).

Olhemos para as crises como uma oportunidade de crescimento: convite à conversão pessoal e comunitária, abertura às surpresas de Deus, discernimento do que há de positivo neste tempo, disponibilidade a percorrer caminhos novos.

Devemos também reconhecer que há muito evangelho e muita profecia na vida consagrada que muitas vezes passa desapercebida. Frequentemente, as Igrejas locais assistem distraídas a quanto acontece no seu meio. Aproveito este momento para mais uma vez agradecer o vosso trabalho, a vossa colaboração, o vosso testemunho na vida da nossa Igreja diocesana.

Abraçai pois o futuro com esperança e confiança no Senhor! “Como a Igreja, também a vida consagrada cresce por atração e não por proselitismo” (Papa Francisco). Será o testemunho da vossa vida alegre, feliz, entusiasta e entusiasmante que há de falar mais alto e contagiar outros.

Não vos esqueçais das três palavras-chave da nossa reflexão: gratidão, paixão e esperança, três atitudes fundamentais que são o motor da vida. Não deixeis aburguesar a vossa vida de consagrados. Não vos deixeis envelhecer. Sede testemunhas apaixonadas da alegria do Evangelho, profetas e semeadores de esperança!

Que a Virgem Mãe, Senhora e Rainha dos consagrados, vos acompanhe e guarde no vosso caminho de consagração.

 

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