É tempo de férias, para muitos, sinónimo de praia, mar, viagens, descanso… A própria estação convida a desfrutar dos dias longos que lhe são característicos. Mas há quem aproveite as horas a mais de sol para ter uma experiência de dias diferentes, através de férias para aprofundamento espiritual, férias missionárias ou solidárias.
Ao arrepio da ideia de que, nesta altura, nada de muito interessante acontece, o jornal Presente encontrou três iniciativas que, cada uma à sua maneira, oferecem a possibilidade de umas férias especiais: de busca espiritual, de entrega aos outros e solidariedade. Vivências em que os denominadores comuns são o serviço e a partilha.
Dar tempo a nós próprios
Taizé é uma comunidade ecuménica no leste de França e é um dos destinos de eleição para os jovens que optam por umas férias diferentes. Entre 2 e 10 de agosto, estiveram em peregrinação, naquele local, 27 jovens da diocese de Leiria-Fátima. A viagem àquela comunidade ecuménica foi, para muitos, uma novidade. Quando partiram de Leiria havia uma expectativa entre os participantes na peregrinação organizada pelo Serviço Diocesano de Pastoral Juvenil da Diocese (SDPJ): a procura de um espaço de encontro e de oração.
“Espero que seja uma semana que dê para rezar, para me encontrar com Deus e também para conhecer outros cristãos, de outros países”, referia Ana Felício, que participava pela primeira vez na peregrinação a Taizé. Aproveitou as férias escolares para aceitar o desafio que fora lançado pela pastoral juvenil diocesana. Experiências idênticas levaram-na a participar nesta iniciativa até ali. A camisola das Jornadas Mundiais da Juventude de 2011 e 2013 que decorreram em Madrid, Espanha e no Rio de Janeiro, no Brasil, evidenciavam outras participações em outros encontros. Para a estudante universitária de 21 anos, ocupar as férias de verão desta forma “faz todo o sentido”. “Porque temos menos trabalho, as férias proporcionam o tempo ideal para nos dedicarmos à relação com Deus”, refere.
Dedicar tempo com os outros
O Alentejo é, nos tempos que correm, um dos destinos mais requisitados na altura de pensar nas férias. Para os 10 voluntários do grupo missionário diocesano Ondjoyetu, Alentejo é um espaço de missão. Na primeira semana de agosto, um grupo diocesano esteve na zona de Santo André, onde participou na vida das comunidades, em celebrações, encontros e convívios preparados para diversos contextos e faixas etárias. A missão concretizou-se na visita a doentes e na animação de lares de idosos e centros de dia.
Desde 2002 que o grupo missionário organiza esta missão e, “a partir daí, todos os anos, dentro do grupo, vão surgindo disponibilidades para participar neste projeto”, refere o padre David Nogueira, responsável diocesano do Serviço de Animação Missionária. “Estes voluntários abdicam de uma semana de férias e, alguns deles, até marcam as férias tendo em conta as datas da missão”. Interrogado sobre a motivação dos missionários para despender as suas férias em prol do projeto, o sacerdote diz que a participação não é “encarada com o mesmo peso que o trabalho, de onde se tira o salário”. “Apesar de haver dias mais intensos, estes são vividos num espírito diferente e a vontade de fazer missão sobrepõe-se ao desejo de descansar”.
Cuidar de quem precisa
O Santuário de Fátima propõe, desde 2005, uma semana de repouso aos pais que têm filhos deficientes, responsabilizando-se, através duma equipa de voluntários, a cuidar dos filhos. O projeto é dinamizado pelo Movimento da Mensagem de Fátima (MMF), já vai no nono ano e visa proporcionar dias de descanso a quem cuida de pessoas com necessidades específicas.
Os pais e filhos são acolhidos na casa Francisco e Jacinta Marto dos Silenciosos Operários da Cruz, porque “têm condições devidas para estas situações”, explica o padre Manuel Antunes, assistente do Movimento Mensagem de Fátima, que organiza a parte logística desta atividade.
Ao todo, são quatro grupos de pessoas com deficiência que ali vão passar férias, durante uma semana cada um.
Na passada sexta-feira iniciou-se o segundo período de férias que decorreu até ao dia 14 de agosto. O terceiro decorrerá de 18 a 24 de agosto e a quarta semana de 28 de agosto a 3 de setembro. No final de agosto, terão passado pelo projeto mais de uma centena de pessoas com deficiência, envolvendo cerca de 25 voluntários.
Dar tempo aos outros
Armanda Dias e a filha, Luciana Dias de 38 anos, com trissomia 21, estão pela primeira vez a usufruir desta semana de férias proporcionada pelo Santuário de Fátima. “Estamos em família, são todos uns brincalhões e estamos a sentir-nos muito felizes”, refere acerca dos voluntários que garantem o serviço.
Diana Costa, de 18 anos, já participa há quatro anos consecutivos neste projeto. A alegria com que duas amigas lhe relataram “as aventuras e peripécias” deste tempo de voluntariado, criou nela a vontade de experimentar. A voluntária explica que se apaixonou “verdadeiramente” e que não imagina as férias sem pelo menos uma semana em Fátima com aqueles jovens porque “é muito gratificante”.
Este ano ofereceu-se para os dois primeiros turnos. “A alegria que levamos para casa compensa todo o cansaço que possamos ter”. “Acho que se cada pessoa disponibilizasse uma semana das suas férias para estar aqui, ou noutro lugar, a favor de uma destas causas, a sociedade seria muito menos problemática, superficial ou até materialista”, conclui a jovem.