Faleceu às 19h50 de ontem (12.03.2014), aos 78 anos, no Hospital do SAMS, o patriarca emérito de Lisboa, cardeal D. José Policarpo. O seu corpo estará em câmara ardente na Sé de Lisboa, a partir das 15h00 de hoje, e as exéquias serão amanhã, sexta-feira, às 16h00, presididas pelo patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente. Será sepultado no Panteão dos Patriarcas, em São Vicente de Fora.
Segundo comunicado do patriarcado, D. José “encontrava-se em retiro em Fátima quando, por uma indisposição, foi levado para o Hospital do SAMS, onde veio a falecer vítima de um aneurisma na aorta”.
Os bispos portugueses, que continuam reunidos em retiro quaresmal em Fátima, receberam a notícia com “profunda dor, mas também com grande esperança”, informa em comunicado o porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), padre Manuel Morujão, referindo ainda que “os bispos agradecem a Deus a sua vida rica de boas obras, intensamente dedicada ao serviço da Igreja e do mundo, intervindo no campo pastoral, cultural e social com sabedoria e coragem evangélicas”.
D. António Marto sublinha sabedoria e espírito dialogante de D. José
Comentando o falecimento do patriarca emérito, o Bispo de Leiria-Fátima e vice-presidente da CEP, D. António Marto, referiu que “a Igreja fica-lhe grata e creio que o País também lhe deve a gratidão, porque contribuiu para criar um clima pacífico, dialogante e de atenção aos problemas reais”.
Em declarações à agência Lusa, D. António lembrou que D. José Policarpo foi “uma figura marcante para toda a Igreja portuguesa, sobretudo no pós Concílio, quer como teólogo, pensador, como reitor da Universidade Católica, e depois como arcebispo patriarca de Lisboa e presidente da Conferência Episcopal Portuguesa em vários mandatos”. O Bispo diocesano apontou que o cardeal D. José “distinguiu-se, sobretudo, por uma leitura muito fina, atenta aos sinais dos tempos e por uma intervenção iluminadora sobre os problemas do País, sobretudo, também, por um interesse da relação da Igreja com o mundo numa perspetiva de diálogo, de simpatia, de solidariedade, sem deixar de afirmar sempre a identidade cristã”.
Resumo biográfico de D. José Policarpo
(Fonte: Agência Ecclesia)
D. José da Cruz Policarpo nasceu a 26 de fevereiro de 1936 em Alvorninha, Caldas da Rainha, território do distrito de Leiria e do patriarcado de Lisboa.
Padre desde 15 de agosto de 1961, foi ordenado bispo em 1978 (auxiliar de Lisboa), criado cardeal por João Paulo II em 2001 e participou em dois Conclaves: no de abril de 2005, que elegeu Bento XVI, e no de março deste ano, que acabou com a escolha do Papa Francisco.
O patriarca emérito era licenciado em Teologia Dogmática, em 1968, pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma, com a tese ‘Teologia das Religiões não cristãs’; posteriormente, defendeu na mesma instituição académica uma tese subordinada ao título “Sinais dos Tempos”.
Docente da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa desde 1970, na categoria de professor auxiliar (1971), de professor extraordinário (1977) e de professor ordinário (1986), D. José Policarpo foi diretor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica Portuguesa (1974/1980; 1985/1988), antes de ser nomeado reitor da Universidade Católica Portuguesa para o quadriénio de 1988/1992, por Decreto da Santa Sé, tendo sido reconduzido nessa função por um segundo quadriénio (1992/1996).
Assumiu a função de 16.º patriarca de Lisboa a 24 de março de 1998, após a morte de D. António Ribeiro, de quem era coadjutor desde março de 1997, ficando também com o título de magno chanceler da Universidade Católica.
Foi eleito presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) em abril de 1999 e reeleito em 2002 para um novo triénio; voltaria a ocupar o cargo após uma terceira eleição, em maio de 2011.
D. José Policarpo tinha apresentado a sua renúncia ao cargo em 2011, por limite de idade, resignação aceite por Bento XVI e confirmada pelo Papa Francisco quando, a 18 de maio de 2013, nomeou como novo patriarca de Lisboa o até então bispo do Porto, D. Manuel Clemente.
No Vaticano, o patriarca emérito foi membro do Conselho Pontifício da Cultura e desempenhou essas funções na Congregação de Educação Cristã e no Conselho Pontifício para os Leigos.
Enquanto líder da Diocese de Lisboa, D. José Policarpo apostou na nova evangelização, tendo mesmo dinamizado um congresso internacional (ICNE) com várias outras cidades europeias (Viena, Paris, Bruxelas e Budapeste) que passou pela capital portuguesa em 2005, e na implementação das orientações do Concílio Vaticano II.
A preocupação com a “indiferença” da sociedade face a Deus e os apelos ao diálogo perante o atual momento de crise socioeconómica em Portugal marcaram os últimos anos à frente da CEP e do Patriarcado de Lisboa.
Desde 1997, como arcebispo coadjutor e depois como cardeal-patriarca, D. José Policarpo ordenou 92 novos padres para a Igreja, em celebrações de âmbito diocesano.