É sexta-feira à noite e a cripta do Seminário Diocesano de Leiria começa a ter um movimento diferente. São jovens que vêm de diferentes paróquias. Em grupo ou individualmente, chegam com um entusiasmo especial para um serão especial. Recomeçaram os encontros Shemá.
Depois de uma interrupção de dois meses, os encontros Shemá recomeçaram no Seminário Diocesano de Leiria. São momentos de encontro, oração e reflexão em grupo promovidos pelo serviço diocesano da Pastoral Juvenil. Com uma periodicidade mensal, na última sexta-feira de cada mês, estes encontros reúnem jovens, de várias idades e de toda a diocese, para rezarem e reflectirem juntos em torno de uma temática marcante da actualidade.
Maria João, da Marinha Grande, e Joana Ruivo, da Batalha, pertencem à equipa diocesana da pastoral juvenil. Ambas recordam os Shemá “dos tempos da nossa adolescência”. A verdade, é que a actividade teve um período de interrupção e, “há uns anos voltou a fazer parte do nosso calendário”. Hoje, é uma atividade com bastante adesão “e está nos planos de continuar”, explica Maria João.
Na passada sexta-feira, dia 25 de outubro, a partir das 21h30, o encontro reuniu mais de uma centena de participantes. “É comum haver esta participação”, diz Maria João que ainda assim não esperava tanta gente. “Foi o arranque deste ano e não esperávamos tanta adesão”, até porque está “mau tempo e a semana académica mexe com a cidade”.
Também satisfeita com este arranque, Joana Ruivo explica que “temos vários grupos, que vêm de realidades diferentes, acredito que não haja momentos destes em todas as paróquias” e os jovens “aqui são bem acolhidos e sentem-se bem”.
Entre os presentes reconheceram-se muitas caras “que fazem desta atividade uma constante e são regulares ao longo do ano”, diz Maria João, “mas apareceram algumas caras novas, o que no fundo acontece com o arranque da catequese e de novas turmas”.
Encontros apelam à participação
“Este ano queremos focar a questão da partilha”, mais do que encontros de oração e refelexão, “queremos criar espaço da partilha, onde as pessoas possam rezar, reflectir mas também partilhar, ter uma voz ativa e uma participação mais presente”, diz Maria João. “Aqui ninguém critica ninguém, aceitamo-nos todos e falamos todos a mesma linguagem, por isso não devemos ter medo de partilhar os nossos sentimentos e as nossas experiências”.
E foi o que aconteceu nessa sexta-feira. No encontro orientado pelo padre Manuel Henrique em torno da temática das missões, todos foram convidados a reflectir sobre formas concretas de se ser missionário no quotidiano de cada um. É que, “hoje, para ser missionário não é preciso ir para longe, para ser missionário temos de ir ao encontro do coração de cada homem e mulher”, diz padre Manuel Henrique. E isto faz-se “mostrando com a nossa vida O que nos faz feliz”.
“Ter capacidade de dar amor, alegria e significado a todos os momentos da nossa vida” assim como “salgar a vida dos que nos rodeiam”, é o desafio lançado ao missionário contemporâneo que não precisa de ir para terras longínquas anunciar Cristo. Foi este o desafio lançado na passada sexta-feira aos mais de uma centena de participantes neste que foi o primeiro encontro Shemá deste ano que terminou com um momento de convívio em torno de um reconfortante chá quente com biscoitos.
Testemunhos…
Uma experiência a repetir
Estreantes nestes encontros, Margarida Ferreira, de 15 anos e Mélanie Lopes, de 17 anos, ambas da Barreira, não escondem a sua satisfação.
Radiantes e com uma inegável expressão de alegria, explicam que tomaram conhecimento destes momentos de oração e reflexão pelo grupo de jovens da paróquia e, foi a curiosidade que as trouxe até ao primeiro encontro Shemá deste ano.
Mélanie Ferreira pensa regressar já no próximo mês. “Gostei do ambiente”, conta, e “percebi que aqui dá para reflectirmos um pouco sobre vários temas” e assuntos em que nunca pensaria em casa. Para Margarida Ferreira este encontro traduziu-se “num ambiente em que podemos espairecer e pensar de forma mais profunda em coisas que dizem respeito ao nosso dia-a-dia”.
Um serão de sexta-feira diferente para estas jovens que garantem ter valido a pena a deslocação e as duas horas investidas na oração em grupo.
A possibilidade de parar para refletir
Célia Silva, de 32 anos, e Júlia Batista, de 28 anos, vieram de Ourém. Procuram não faltar a estes encontros “porque aqui sentimo-nos bem, é quase como que uma necessidade”, explica Célia Silva. Nestes momentos “encontramos aqui um espaço de oração e uma oportunidade de parar para rever o nosso dia a dia e o sentido da nossa vida”, diz. Na sua opinião, “em casa as reflexões são diferentes, temos sempre motivos de distração e não conseguimos estes momentos de paragem”.
Júlia Batista não tem dúvidas, “vale a pena participar, afinal aqui temos um encontro connosco, com Deus e com outros como nós”. “Aqui conseguimos um momento de paragem para reflectir com maior profundidade sobre o sentido do que vamos fazendo”, explica.
Ser jovem “é uma questão de idade, mas também é essencialmente uma questão de mentalidade”, diz Júlia Batista que acredita que estes encontros “fazem bem a qualquer pessoa que em casa, com os filhos e lides domésticas, não consegue a disponibilidade para parar e reflectir que aqui encontra”.
Aqui é fácil ser-se cristão
Micael Capitão, de 15 anos, e Lino Pedrosa, de 24 anos, vieram da Bajouca.
Lino Pedrosa frequenta estes encontros há mais de cinco anos e garante que irá “continuar porque sente falta destes momentos”. “Aqui sinto-me feliz e consigo perceber as coisas de forma diferente”. “Aqui consigo ser autêntico, lá fora preciso de fazer um esforço maior para dar o meu testemunho de cristão”, diz Lino Pedrosa que reconhece “haver muito preconceito lá fora”. Nestes encontros “é fácil ser-se cristão, estamos todos em sintonia e a remar para o mesmo lado”.
Micael Pedrosa vê nestes encontros um “refúgio para parar e pensar sobre tudo o que se passa na nossa vida”. Frequenta estes encontros há mais de um ano e ainda hoje “é aqui que consigo estar à vontade e perceber o meu coração, que por vezes me atrapalha muito”. Aqui, com a partilha de testemunhos e de experiências, Micael Pedrosa percebe com maior clareza que as suas dúvidas afinal são comuns às dos seus colegas e, “é bom falar com quem nos entende”.