O padre David Nogueira faz toda a diferença em todos os sentidos. Ele não é religioso missionário, mas um sacerdote diocesano de Leiria-Fátima que teve a grande coragem e ousadia de fazer uma experiência de missão ad gentes, em terras de Angola.
Deixou todos os comodismos europeus e partiu para se entregar, de alma e coração, ao serviço deste povo distante de tudo e afastado do essencial da vida.
Este deveria ser o caminho para todos os padres, sejam eles religiosos ou diocesanos. Sempre defendi que seria bom, para todos os sacerdotes, fazerem uma experiência missionária ad gentes, ou seja, fora do seu país de origem. Isto mudaria a vida de muitos padres que vivem comodistas, num estilo de vida demasiadamente clerical, individual e de instalados. Sem saberem e sentirem as reais dificuldades da vida de quem trabalha em contextos pobres e desprovidos de quase tudo. Até mesmo sem luz eléctrica e, consequentemente, sem condições possíveis de comunicação.
Quem olha o padre David, nas últimas fotos apresentadas por uma equipa de jornalistas da agência LUSA, percebe rapidamente que está magro. Na vida missionária não dá para se ficar gordo! De barbas a embranquecer! Tudo porque a missão não se compadece com comodismos e mordomias. É preciso ir à luta todos os dias e partilhar a sorte do povo que padece, no seu viver quotidiano, a pobreza, a doença, a fome e o desprezo por parte dos governantes. E fazer algo. Não ficar parado. Fazer das tripas coração, a fim de dar solução aos imensos problemas que são apresentados. Não há horário de atendimento de cartório! Nem dias de folga! É uma casa sempre de portas abertas, de dia e de noite, sempre pronto a socorrer a quem vier bater. A pedir quase tudo. Até para levar as pessoas e as mamãs ao hospital. Que o diga o “cavalinho branco”, o jipe com mais de 421 mil km percorridos, em estradas e picadas que levam horas infinitas a chegar ao seu destino. E ainda nós nos queixamos do estado das nossas estradas!
Só alguém com grande sentido de entrega, desprendimento e doação tem a coragem de partir e gastar a sua vida ao serviço dos mais pobres e afastados de tudo. É preciso ter a coragem de deixar muita coisa para trás! De deixar as nossas seguranças pessoais e materiais. Os nossos comodismos.
Como gostaria que os padres da nossa Diocese de Leiria-Fátima, fossem até lá passar uns tempos. Viriam com outra mentalidade e noção do que é a real vida sacerdotal em contextos desprovidos de tudo. E aí, sim, teriam outra postura de renovar e implementar uma nova evangelização nas suas comunidades paroquiais. Quem vai, não vem igual.
Se a Diocese de Leiria-Fátima tem uma geminação/contracto com esta Diocese de Angola, o que esperam os padres diocesanos para, rotativamente, partirem por um período pelo menos de 1 ano?!
Para isso é preciso ter coragem, ousadia e paixão. O que muitos confessam não ter.
Obrigado, padre David Nogueira pelo teu testemunho de fé, de entrega, de doação e de serviço abnegado aos mais pobres do Reino.
Tu é que estás no caminho certo, ao jeito de Jesus de Nazaré. Rezo por ti, para que nunca te faltem as forças para o teu dia a dia.
Acredita que és, para mim, um verdadeiro exemplo de sacerdote missionário.
Ainda tenho um sonho de ir visitar-te e passar contigo algum tempo, pois, para mim, a missão, sempre foi a minha verdadeira paixão.
Foi na missão ad gentes que me fiz homem e aprendi a viver sem mordomias, e acima de tudo a pensar mais nos outros que em mim. A desprender-me de tanta coisa a que nos vamos agarrando. Tive a graça de partir aos 23 anos de idade, com uma grande largueza de coração e de entrega. Chorei quando me pediram para regressar a Portugal. Tudo era estranho para mim! Celebrações e eucaristias mortas, sem vida, sem dança sem alma. Mais pareciam velórios e funerais! Uma igreja envelhecida, sem jovens. Uma igreja de esquemas fixistas e já gastos, de liturgias rigoristas e fechadas…
Muitos não entendem esta linguagem, e rapidamente se desculpam, que hoje a missão é em todo lado e que temos também pobres à nossa porta, não havendo necessidade de partir nem de partilhar com as igrejas mais pobres. Fechando-se, assim, à partilha solidária com quem, realmente, passa maiores dificuldades e padece no corpo a falta do essencial. É triste muitos padres pensarem assim! Nas nossas paróquias temos, com certeza pobres para apoiar e ajudar. Mas há uma diferença que as pessoas não sabem nem entendem. Em Portugal, há pobreza, mas há mecanismos para que os bens essenciais não faltem. Existe o Banco Alimentar, as Cáritas diocesanas e paroquiais, as Conferências de São Vicente de Paulo e tantas outras Associações. Até subsídios de reinserção social! No Gungo, e na maior parte dos países pobres, estas instâncias, pura e simplesmente, não existem! São, muitas vezes, os missionários a farem autênticos milagres.
Em Portugal andam todos preocupados em arranjar dinheiro para as festas dos ditos santos para, depois, queimarem em foguetes, fogo de artifício e em artistas… Quando no Gungo, a grande preocupação é de não faltar o pão, a água, a luz, a saúde, e o essencial para sobreviver.
Como me revolta a mesquinhez de certos párocos e paroquianos fechados, egoisticamente, à partilha com quem realmente mais precisa. Quem sabe, se durante este ano de 2024, as comissões de festas paroquiais da nossa Diocese, canalizem uma boa verba para a Missão do Gungo. Afinal a geminação tem a ver com todos nós. E como todos falam abundantemente de caminho sinodal!
Há dinheiro para tudo, mas para a missão ad gentes que é a urgência das urgências…
Tudo o que os olhos nunca viram, o coração nunca vai sentir.
Abraço amigo, caro padre David Ferreira. E continuação de Boa Missão.
Estamos juntos