É interessante repararmos como alguns temas na nossa fé cristã estão presentes como notas constantes no texto de toda a Bíblia. No dia do Corpo de Deus escutamos o livro do Génesis que nos conta que Melquisedec, rei de Salém, oferece a Abraão pão e vinho como um sacrifício de acção de graças. No Evangelho de Lucas apresenta-se o milagre que Jesus faz, dando de comer a cinco mil pessoas com apenas cinco pães e dez peixes. E é S. Paulo que, numa carta que escreve aos cristãos de Corinto por volta do ano 56, transmite por escrito aquilo que é o centro da Eucaristia:
O Senhor Jesus na noite em que era entregue, tomou pão e, tendo dado graças, partiu-o e disse: «Isto é o meu corpo, que é para vós; fazei isto em memória de mim». Do mesmo modo, depois da ceia, tomou o cálice e disse: «Este cálice é a nova Aliança no meu sangue; fazei isto sempre que o beberdes, em memória de mim.»
É isto que nós continuamos hoje a fazer sempre que celebramos a Eucaristia, pelo qual o pão e o vinho, pela graça de Deus, se transubstancia no Corpo e no Sangue de Jesus, alimento para a nossa vida, mantendo todas as características físicas do pão e do vinho. É o Ser de Cristo que aí está presente. E, assim, alimentados pela graça de Deus, também nós nos transubstanciamos em Cristo. Não deixando de ser quem somos, o nosso ser é transformado em Cristo. É isto que significa ser cristão: levar Cristo na nossa vida para ser sal e luz para o mundo, sinal de esperança e vida para toda a humanidade.
No dia do Corpo de Deus, em que se fazem tantas procissões Eucarísticas pelas ruas das nossas cidades, não nos esqueçamos que, depois de cada missa, um cristão que recebeu a comunhão é presença de Cristo na ruas da cidade, vila ou aldeia por onde passa e onde age, e é manifestação concreta de Deus no mundo.