Diocese “celebrada” em congresso histórico de “excelência”

Tal como para uma pessoa é uma “tragédia” perder a memória, também para uma comunidade “a recordação da sua história é fator de identidade, unidade e continuidade”. Assim justificou D. António Marto o congresso “Processo Histórico da Diocese de Leiria-Fátima”, que juntou cerca de 80 pessoas, durante os dias 17 a 19 de maio, na Escola Superior de Educação e Ciências Sociais do Instituto Politécnico de Leiria.

 

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No contexto da evocação do Centenário da Restauração da Diocese, este foi um momento de chamar “os cultores da ciência histórica”. A organização foi do Departamento do Património Cultural da Diocese e a coordenação científica foi entregue à Academia Portuguesa da História, “a mais antiga instituição académica” e uma “escola de escolas que necessariamente pensa a ação humana segundo diferentes paradigmas historiográficos”, referiu o Bispo de Leiria-Fátima.

Na sessão de abertura, D. António Marto agradeceu aos parceiros na organização, referindo em especial os congressistas, que “entenderam colocar este território dentro das temáticas das suas áreas de investigação”, e o Instituto Politécnico de Leiria, que, ao acolher o evento, permitiu à Diocese “sair dos seus claustros para o ambiente académico”. E sublinhou o alto patrocínio oferecido pelo Presidente da República Portuguesa, sinal de que “estudar um território eclesiástico é estudar uma parte importante da identidade do País”.

Quanto ao congresso, esperava “não uma memória abstrata, mas concreta, de rostos, de pessoas cm nome próprio, de experiências, acontecimentos e momentos que concorreram para a identidade eclesial diocesana enraizada no tempo e no nosso espaço geográfico e humano”. Uma memória que, espera, “venha a ser editada”.

 

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Decorrer do congresso

Durante três dias, foi isso que aconteceu, com um vasto painel de intervenções que passaram em revista a história desta diocese, ainda antes de o ser, partindo dos “antecedentes” contextualizados na “evolução do mapa religioso no território português ao longo da Idade Média” e na “ação dos Crúzios de Santa Cruz de Coimbra” neste território. Falou-se na “política de D. João III” que veio a ditar a fundação da Diocese e na formação das elites locais, na “esteira de Trento”, bem como no percurso dos bispos leirienses na idade moderna. Um especial olhar foi dado aos dois momentos cruciais da extinção e restauração da Diocese de Leiria.

O segundo dia foi dedicado às “aproximações à identidade” da Diocese restaurada, passando por temas como a crescente centralidade que foi assumindo, o papel do jornal “O Mensageiro” e o desenvolvimento do Seminário. Entrou-se depois na análise a algum do “património artístico e identitário”, com abordagem à imagem de Nossa Senhora da Encarnação, ao projeto da Catedral de Leiria, ao santuário do Senhor Jesus dos Milagres e à pintura barroca joanina na igreja da Colegiada de Ourém.

No sábado, continuou-se o caminho pelo património, com olhares sobre as escolas de pintura, a arte retabular, as igrejas do pós-Concílio Vaticano II e a heráldica diocesana. Uma última abordagem dedicou-se à “ação dos bispos de Leiria na época contemporânea” e à “relação dos agentes diocesanos com o território espiritual” de Fátima.

Os dois primeiros dias culminaram com uma passagem por alguns dos “rostos da história ignorada”, sete padres e sete leigos, e incluíram momentos culturais, à noite: no primeiro, um concerto pelo organista João Santos e a Escola de Música do Orfeão de Leiria, na Catedral; no segundo, uma visita à exposição “Um manto de todas as cores. A Virgem Maria no território de Leiria-Fátima”, patente no Museu de Leiria.

 

Evento de “excelência”

“Este congresso revelou-se necessário e imprescindível para nos oferecer o processo histórico da nossa querida Diocese de Leiria-Fátima”, referiu o Bispo diocesano na sessão de encerramento. Tendo acompanhado integramente o evento, considerou que “deu a conhecer o rosto da Diocese com os traços nítidos da sua identidade e a dinâmica das suas diversas épocas” e que “os factos longínquos mostraram a seiva rica e vital que nos impele à construção do futuro”. Porque “quando se fecha a memória à chave, começa-se a errar”, torna-se importante assumi-la “como manancial de vida, que chega até nós e nos é confiada na beleza e riqueza do nosso património histórico, humano, artístico, arquitetónico e decorativo”. Torna-se, também, “responsabilidade que nos interpelou para cuidar desse património.

Confessando que o congresso o “surpreendeu pela positiva” e cuja “excelência superou as melhores expectativas”, as suas palavras finais foram de emoção: “Sinto o coração cheio, alegre, entusiasmado por ser membro desta diocese com uma história tão rica e bela; sinto orgulho em ser Bispo desta diocese; este congresso proporcionou-me um novo encontro como minha esposa, minha amada diocese, que Deus me confiou”.

 

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Bispo nomeado “académico de honra”

Nas suas palavras finais, Manuela Mendonça, presidente da Academia Portuguesa da História, sublinhou também a “excelência” da organização deste congresso e do seu desenrolar, bem como o facto “pouco comum” de contar com a presença permanente do Bispo da Diocese. Por fim, anunciou a decisão unânime da direção a que preside de nomear D. António Marto como futuro “académico de mérito” da Academia Portuguesa da História.

Luís Miguel Ferraz

 

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