Temos de apostar seriamente na transformação das nossas paróquias, e com isto, criar uma nova cultura de paróquia. Deixarmos uma cultura de manutenção e passarmos a uma cultura virada para a missão. Não podemos continuar, apenas e só, a cuidar do rebanho, é fundamental irmos atrás da ovelha perdida, dos que estão fora. Este é um trabalho árduo que se chama Nova Evangelização.
Segundo, Ron Hundtley, há três elementos importantes para uma paróquia saudável e dinâmica: o terreno, a semente e o fruto. A grande tentação de hoje é querermos ver apenas os frutos. Quanto às sementes, nossos programas pastorais, até parecem ser bons e tecnicamente bem estruturados. Porém, esquecemo-nos do essencial, do terreno. O terreno é o espaço para uma nova cultura paroquial. Hoje, mais que nunca, precisamos de trabalhar e cuidar do terreno, de mudar as nossas paróquias para as tornar mais saudáveis e mais férteis para que os frutos permaneçam.
Dar importância ao cuidado do terreno deverá ser hoje a urgência das nossas dioceses e paróquias. A semente é sempre boa e a nossa grande tentação é só olharmos para os frutos. Devemos mudar de paradigma e centrarmo-nos no terreno e aí envolvermos todas as nossas forças e energias para incrementar uma Nova Evangelização.
Centrarmo-nos nas pessoas humanas sobretudo naquelas que andam longe e afastadas de Deus. Repito, de Deus e de Jesus Cristo. Não falo da missa! Trazê-las directamente à missa é ineficaz porque esta, infelizmente, está só direcionada para os que “consomem” e que já têm uma experiencia de fé.
Primeiramente temos de provocar as pessoas para um encontro com Jesus Cristo. Ajuda-las a terem uma relação pessoal com Jesus e encontrarem motivos para aderirem à relação com Deus. E só depois, num segundo momento, a relação com a Igreja, enquanto comunidade dos crentes. Nós ainda continuamos a insistir no aforisma “fora da Igreja não há Salvação”. Nada de mais desacuado para uma Nova Evangelização. Esta só se opera, se nos dirigimos, primeiramente aos que estão fora e não continuarmos, apenas e só, a alimentar os que estão dentro do rebanho.
Evangelizar os que já são evangelizados, que recompensa tereis? Porém eu digo-vos, há mais alegria no Céu por uma ovelha que se converta do que 99 dizerem que não precisam de conversão. É por aqui o nosso caminho. Um caminho muito mais exigente e duro. Obriga-nos a desinstalarmo-nos dos nossos comodismos, dos nossos tronos e das nossas mordomias clericais! Temos de ir ao encontro de. Temos de partir, dois a dois, pelas encruzilhadas da vida, sem grandes seguranças humanas, mas com a certeza no fundamental: levarmos Jesus Cristo a quem nunca o conheceu ou já o esqueceu ou ignorou. Temos de descaçar os nossos sapatos e calçarmos as sandálias. Temos de ter tempo para o essencial. Temos de ser Discípulos Missionários e não meros pastores do rebanho.
É urgente uma mudança fundamental de cultura, uma mudança na forma como compreendemos o mundo à nossa volta e o que significa, hoje, ser católico. Já não estamos mais plantados no terreno da Cristandade! Estamos numa era de mudança que nos exige outro entendimento da nossa fé. No passado este esquema funcionou em paróquias de manutenção, onde as pessoas recebiam passivamente os sacramentos e alguma formação
religiosa. Não basta baptizar para fazer bons católicos praticantes, precisamos, acima de tudo, fazer Discípulos Missionários.
Senão vejamos: cada vez menos católicos vão à missa; o sacramento da confirmação tornou-se numa apostasia ritualizada, com a maior parte dos jovens a abandonar qualquer prática da sua fé, depois de terem recebido o sacramento; o sacramento da Confissão está reduzido a uma ínfima parte dos que comungam; o sacramento do Matrimónio caiu em desuso e já nem faz muito sentido, nos dias de hoje; restam os funerais porque depois de morto já não interessa mais nada. Este é um verdadeiro momento de crise!
Qual será a nossa postura perante esta crise? Fecharmos os olhos e ignorar é engarmo-nos a nós próprios. Continuarmos a mantermo-nos nesta pastoral de manutenção é insistirmos teimosamente mais no mesmo. Se virmos nesta crise uma oportunidade para abandonar os nossos modelos pastorais de manutenção e aderirmos a novas abordagens que coloquem as nossas estruturas e processos ao serviço da evangelização e missão, então veremos novos caminhos.
Como diz o Papa Francisco: “sonho com uma opção missionária capaz de transformar tudo, para que os costumes, os estilos, os horários, a linguagem e toda a estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado mais à evangelização do mundo actual que à auto-presevação”.
O caminho está indicado. Haja coragem para o trilhar.