O bispo de Leiria-Fátima, D. José Ornelas, divulgou hoje a aguardada Carta Pastoral que norteará a Diocese nos próximos três anos. Sob o título “Pelo batismo somos Igreja viva e peregrina”, o documento aborda os temas propostos para a Igreja diocesana e que integram o projeto pastoral, e proporciona orientação pastoral e reflexões aprofundadas.
A carta pastoral do triénio 2023-2026 está dividida em seis capítulos que promovem a reflexão sobre a fé e a missão da Igreja na atualidade.
Contextualização e inspiração
Depois de uma introdução em que o prelado explica que “o tema agora proposto para guiar a nossa Igreja diocesana de Leiria-Fátima está ligado ao processo em que nos encontramos empenhados, a partir do dom fundamental do Batismo”, é feita uma contextualização histórico-cultural e uma análise da atual situação da Igreja, tanto universal como local. Nesta capítulo, o bispo destaca a rica história da Igreja de Leiria-Fátima, que se insere na jornada da Igreja universal através das culturas e tempos turbulentos e sublinha como a missão evangelizadora desempenhou um papel fundamental na unificação e na formação da identidade religiosa do povo, que rapidamente se identificou como uma “nação cristã.” No entanto, D. José Ornelas reconhece os desafios atuais, onde muitos fiéis estão a abandonar a prática religiosa e realça a necessidade da Igreja se adaptar aos tempos de mudança, onde a crise também atingiu o clero, levando a uma redução no número de sacerdotes e a uma sobrecarga de responsabilidades pastorais.
D. José Ornelas encoraja, ainda a Igreja a não temer a diversidade de crenças e a ver isso como uma oportunidade para estar presente em tempos de mudança. Destaca a importância de abrir as portas para os jovens e para aqueles que estão fora da Igreja, permitindo-lhes expressar a sua fé e contribuir para o discernimento e decisões da comunidade.
No segundo capítulo, D. José Ornelas serve-se de “duas passagens bíblicas”dois quadros inspiradores” retirados da Bíblia para “iluminar a realidade com a Palavra de Deus, guiados pelo seu Espírito”: as etapas iniciais da pregação do Evangelho, por Jesus, a partir da narração do evangelista Marcos e a partida apressada de Maria, Mãe de Jesus, para ir ao encontro de Isabel. Explica que, “em ambos os casos, o ponto de partida do caminho transformador da história – tanto de Jesus como de Maria – é o Espírito de Deus que renova todas as coisas”.
O Sínodo em destaque
O processo sinodal não podia ficar de fora da Carta Pastoral, razão pela qual o terceiro capítulo é-lhe integralmente dedicado. A Igreja é apresentada como uma comunidade que “caminha junta” e, por isso, o bispo diocesano destaca o esforço da Igreja local em envolver os fiéis na reflexão sobre a missão e a visão da Igreja. Isso inclui rezar juntos, partilhar ideias sobre a Igreja e a sua missão, e sonhar sobre o futuro da Igreja como uma comunidade unida. O processo sinodal em curso, que envolve assembleias de bispos e leigos, é visto como um esforço contínuo para ouvir a voz do Povo de Deus e discernir o caminho a seguir.
A Carta destaca a importância da comunhão fraterna na Igreja. Isso envolve não apenas estar fisicamente próximos, mas também se conhecer verdadeiramente e cuidar uns dos outros. O prelado enfatiza o desejo de Jesus em criar uma comunidade que vá além das barreiras culturais e étnicas, onde todos são chamados de irmãos e irmãs, e refere a necessidade de criar comunidades acolhedoras, onde se viva o verdadeiro espírito de família e solidariedade.
A Carta Pastoral sublinha que a missão é a razão de ser da Igreja. Ela não deve ser uma comunidade isolada, mas uma comunidade aberta ao mundo, pronta para anunciar o Evangelho e servir os outros. O bispo encoraja a Igreja a ser acolhedora, especialmente em face da crescente diversidade cultural e da imigração. Ele destaca a necessidade de a Igreja ser um farol de misericórdia e compaixão, sempre pronta para acolher e cuidar daqueles que estão fora e dos que erraram, seguindo o exemplo de Jesus.
A Igreja do Serviço
O quarto capítulo da Carta Pastoral é o mais longo e aborda diversos tópicos relacionados com os ministérios na Igreja e à importância do serviço cristão. D. José Ornelas começa por explicar que a Igreja é chamada a contar com a participação ativa de todos os seus membros nascidos da água do Batismo.
Por sua vez, o sacramento da Confirmação capacita os batizados com dons para servir a Igreja, pelo que o serviço é um modo fundamental de estar na Igreja e realizar o projeto de Deus, na linha do exemplo dado por Jesus Cristo.
Este capítulo faz uma abordagem sucinta dos ministérios na Igreja desde os ordenados até aos ministérios laicais. Estes últimos são referidos de forma particular, já que o Papa Francisco declarou recentemente como ministérios laicais os serviços de Leitor, Acólito e Catequista, acentuando a centralidade da Palavra de Deus, da Eucaristia e da Catequese na vida da Igreja. O documento destaca, portanto, a necessidade de um compromisso comunitário para permitir a corresponsabilidade e o exercício dos ministérios. Assim, a Diocese continuará a refletir sobre esses ministérios e a preparar pessoas para eles.
Repensar a organização da Diocese
No capítulo seguinte regressa novamente ao tema sinodal e integra-o na dinâmica diocesana no que diz respeito à renovação pastoral através dos ministérios laicais. “É também à luz do batismo e da sua dimensão sinodal que devem ser pensados os serviços, ministérios e estruturas necessários à vida e à missão da Igreja”, afirma. Nesta parte do documento são oferecidas pistas concretas para o futuro próximo da Igreja diocesana. Desde logo, a continuação da aposta na criação de “órgãos de consulta e de orientação da vida comunitária, onde sobressaem o Conselho Pastoral e o Conselho Económico, de tal modo que a solução das questões referentes à comunidade possam contar com a participação corresponsável dos seus membros”.
D. José Ornelas refere ainda que “é pena quando comunidades ou movimentos se fecham em si mesmos, devido a líderes que os dominam e não querem perder a sua “propriedade”, ou devido à atitude de fragilidade e ao espírito de seita que teme o confronto libertador e salvador com o resto da Igreja”. Daí que assuma a criação de “Unidades Pastorais” como uma possível resposta para este problema.
Palavra aos jovens
Finalmente, o último capítulo é dedicado aos jovens, na sequência da realização da Jornada Mundial da Juventude que, para o bispo diocesano, “foram dias lindos e inspiradores de fé, de convívio aberto, de universalidade da Igreja, que inspiram sonhos da possibilidade de uma Igreja e de um mundo melhor”.
O prelado ressalta a necessidade de sonhar um mundo melhor, especialmente num contexto de guerra, miséria, fome e discriminação. Encoraja os jovens a semear o projeto do Evangelho com esperança e ações concretas de libertação, acolhimento e transformação. O Papa é citado, encorajando os jovens a não ficarem na comodidade e no individualismo, mas a envolverem-se ativamente na missão da Igreja e do mundo.
D. José destaca ainda que a Igreja está passando por um processo de transformação para enfrentar os desafios do tempo presente e convida os jovens a participarem nesse caminho. Afirma que os jovens têm um papel vital na construção de um mundo melhor, e a mensagem é encerrada com a ideia de que “há pressa no ar,” convidando os jovens a não se atrasarem na sua missão.
Na conclusão da sua Carta Pastoral, D. José Ornelas diz o seguinte:
“É esse caminho que propõe o Projeto Pastoral Diocesano para o próximo triénio 2023-2026, que acompanha esta Carta Pastoral. Dele consta, nomeadamente, o aprofundamento da vocação batismal, do dom do Espírito Santo, como fonte do serviço pessoal na edificação da Igreja; a definição e introdução dos novos Ministérios Laicais; a formação de um grupo de Diáconos Permanentes na nossa Diocese; a busca de uma melhoria da articulação entre paróquias, através da constituição de Unidades Pastorais e do repensamento da organização geográfica das Vigararias.”